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Nova fase de “Malhação” quebra padrões e reafirma a importância de novelas jovens

Publicado 5 Mai 2017 – 05:00 PM EDT | Atualizado 27 Mar 2019 – 09:04 AM EDT
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A “Malhação” é uma velha conhecida dos telespectadores da Globo. Voltada para o público adolescente, a novela é responsável por dialogar com os jovens, lançar novos talentos da emissora e entreter no fim da tarde, como já faz há 22 anos. No entanto, assim como mudam as gerações, é preciso mudar o discurso, e a nova temporada promete revolucionar os padrões conhecidos.

Intitulada “Viva a Diferença”, a fase estreia em 8 de maio de 2017, será a primeira protagonizada por apenas mulheres e tem como autor Cao Hamburguer, responsável por um dos juvenis mais importantes da TV brasileira, o "Castelo Rá-Tim-Bum".

Com o foco em Lica (Manoela Aliperti), Tina (Ana Hikari), Keyla (Gabriela Medvedovski), Benê (Daphne Bozaski) e Ellen (Heslaine Vieira), a temporada celebra as diferentes tribos adolescentes, o empoderamento feminino e a amizade entre as garotas, bem diferente dos triângulos amorosos que tomavam conta dos anos anteriores da “Malhação”.

Porém, além disso, a conversa com o público jovem sempre ganha uma atualização, focada na conscientização sobre temas importantes, romances e crises da adolescência. Foram várias temporadas, diferentes protagonistas e uma única certeza: a “Malhação” é, e sempre será, o melhor canal de comunicação entre a Globo e a juventude.

Fases da Malhação

Em 22 anos de exibição, a novela teve 24 temporadas e 7 gerações, que marcaram o cenário principal da história, ainda que os elencos tenham sido diferentes. No entanto, a premissa é sempre a mesma: retratar a vida adolescente, com os relacionamentos, questões e desafetos da idade.

Alguns personagens permaneceram por mais de uma temporada, tornando-se clássicos consagrados da “Malhação”. Foi o caso de Mocotó (André Marques), presente entre 1995 e 2000, e Cabeção (Sérgio Hondjakoff), entre 2000 e 2005.

Academia Malhação - 1995 à 1999

Quando estreou, a novela tinha como ambiente principal uma academia, constituindo a formação clássica do enredo. Os protagonistas interagiam entre as aulas de ginástica, e na 1ª temporada, o foco era em Héricles (Danton Mello), um rapaz do interior que conseguiu um emprego no local, e Isabella (Juliana Martins), filha da dona do estabelecimento. Sempre que podia, o enredo tratava de assuntos educativos do universo adolescente, como prevenção à AIDS, relacionamento familiar e contato com cigarro e outras drogas.

Na estreia de “Malhação”, foi divulgado que o objetivo da Globo era, na verdade, aumentar a audiência da novela das 18h “Irmãos Coragem”, que estava fraca e com a possibilidade de ser encurtada. As intenções da emissora deram certo, e o público que assistia ao programa adolescente ajudou a popularizar a novela em seguida.

Nessa época, as temporadas eram contínuas, e muitos talentos da Globo foram revelados. Alguns atores permaneceram no elenco por mais de um ano, como Cláudio Heinrich, que interpretou o professor de artes marciais Dado. Após cinco anos no mesmo cenário, “Malhação” ganhou uma repaginada.

Colégio Múltipla Escolha - 1999 à 2009

A fase de maior audiência da novela foi no fictício colégio carioca Múltipla Escolha. A mudança não foi repentina: a academia teria sido demolida, e o terreno, vendido para o Professor Pasqualete (Nuno Leal Maia), que construiu a escola ali. Na 6ª temporada, a diretora era Isa (Giovanna Antonelli), filha de Pasqualete, e o casal protagonista era Tatiana (Priscila Fantin) e Rodrigo (Mário Frias).

Nessa fase, a música de abertura era “Te Levar”, do Charlie Brown Jr., que se tornou marca registrada da novela. Os anos seguintes foram marcados por muitos acontecimentos, personagens diferentes, a passagem da célebre Vagabanda em 2004 - marcada pelo casal Letícia (Juliana Didone) e Gustavo (Guilherme Berenger) -, o Gigabyte, a República e muitas histórias adolescentes, misturando entretenimento com assuntos sérios.

Outros colégios e novos ambientes - 2009 à 2014

No final de 2007, o Múltipla Escolha se fundiu com o Colégio Ernesto Ribeiro, mas em 2009 a instituição de Pasqualete declara falência. Uma empresária compra o local, e inaugura um shopping center no mesmo terreno. No entanto, ao término da temporada, estrelada pelo casal Marina (Bianca Bin) e Luciano (Micael Borges), o colégio é fechado, dando início à uma nova fase da novela.

Ainda em 2009, a temporada “Malhação ID” provoca a primeira grande mudança no padrão da novela, inaugurando a trama no Colégio Primeira Opção. Com um formato mais moderno, destacando a crescente presença da internet da vida dos jovens, o enredo passa a compreender melhor o público, mostrando uma renovação.

Os anos seguintes se passam em outros colégios, como o Quadrante em 2012, e também outros cenários, como uma ONG de trabalho voluntário e até um casarão familiar. São novas interpretações da fórmula de “Malhação”, sempre centrada nos jovens.

Retomada da Academia - 2014 à 2017

A partir de 2014, a trama volta a ter uma academia como cenário principal, misturando a  Escola de Artes Ribalta e a Academia de Lutas do Gael, no Rio de Janeiro. Com a história baseada nos sonhos dos adolescentes, a temporada teve Duca (Arthur Aguiar), Bianca (Bruna Hamú) e Karina (Isabella Santoni) nos papéis principais, configurando um triângulo amoroso. O papel de Pedro revelou um dos novos nomes da TV: Rafael Vitti, que se tornou o queridinho do público.

No ano seguinte, a temporada acaba se afastando da academia, seguindo o enredo “Seu Lugar no Mundo” e tendo como foco um hostel e os colégios Leal Brazil e Dom Fernão. Porém, no ano seguinte, a academia volta a ser cenário, na fase “Pro Dia Nascer Feliz”. Além da trama adolescente, as relações de personagens adultos também são exploradas, com a presença do forte vilão Caio (Thiago Fragoso) e os protagonistas Ricardo (Marcos Pasquim) e Tânia (Deborah Secco).

A próxima temporada, “Viva a Diferença”, recebe uma grande inovação: a mudança do Rio de Janeiro para São Paulo, cidade mais plural para receber tantas tribos diferentes do enredo.

Mudanças em “Viva a Diferença”

Agora, “Malhação” chega pela primeira vez a São Paulo, com a maior cidade cenográfica de todas as temporadas, novas personagens principais e uma trama com outro foco. “Viva a Diferença” celebra a diversidade adolescente, tema tão urgente e necessário de ser discutido nos dias de hoje.

Escrita por Cao Hamburguer e dirigida por Paulo Silvestrini, a trama trará um respiro diferente para a tradicional “Malhação”. Na divulgação da novela, Cao destacou a importância de mudar o foco, de retratar cinco protagonistas e de colocar as diferenças sociais em pauta. “Vamos explorar as dificuldades e as belezas da convivência de pessoas tão diferentes e também falar sobre respeitar a opinião do outro, a posição do outro, a cultura do outro. Entender que a opinião do outro pode ser diferente da sua e não por isso ele precisa se tornar seu inimigo”, declarou o autor.

Empoderamento feminino

Além disso, a amizade também ganha um novo olhar. Nas temporadas anteriores, o triângulo amoroso sempre tinha duas garotas rivais, que disputavam o amor do “mocinho”. Agora, são cinco meninas, que desenvolvem uma relação próxima diferente do que já foi visto. “Queremos explorar como as pessoas se tornam amigas, especialmente nesse universo adolescente, época em que as amizades se tornam mais importante do que a própria família”, relata Cao.

O autor também afirma a necessidade em retratar o olhar feminino em uma novela. Cada personagem tem um potencial, um background e uma história, mas a união das cinco torna o papel da mulher ainda mais forte na trama. “Em comum, elas são donas dos próprios narizes e assumem o protagonismo perante a vida. Elas têm personalidade forte, proatividade e independência. A aceitação da diferença e dos conflitos que essas diferenças sociais e culturais promovem é um assunto que me interessa bastante”.

Os assuntos relevantes do universo adolescente ainda continuam em alta. Logo no primeiro capítulo, Keyla está grávida, e entrará em trabalho de parto em pleno vagão de metrô. Ela atrai a atenção das outras quatro protagonistas, que se unem para ajudá-la e se tornam amigas desde então. Além dela, as demais meninas se dividem em uma hacker da periferia, uma artista rebelde, uma jovem solitária e uma aluna dedicada, que enfrentam relacionamentos amorosos, familiares e aprendem, juntas, a iniciar a vida adulta.

“Os dilemas e temas adolescentes são universais, clássicos desde minha geração, como as primeiras paixões, iniciação sexual, problemas com droga e bebida, as dúvidas dos adolescentes sobre o que vão ser, problemas que a tecnologia traz”, explica Cao, “E também tem a questão da educação, não só a educação formal das escolas, como a educação como cidadão. O público adolescente é bastante crítico e nossos personagens também são”.

Fórmula de “Malhação”: clichês necessários

Mas será que essas diferenças são tão inéditas assim? Para Claudino Mayer, doutor em ciência da comunicação pela ECA-USP, não há nenhuma novidade em “Viva a Diferença”. Afinal, para se manter no ar há tantos anos, a novela precisa seguir um certo padrão, que é o que acaba atraindo o público. “É uma fórmula consagrada, que se fugir muito, não dá certo. O autor pega o mesmo significado, mas muda o sentido de acordo com a trama”, explica o especialista.

Ainda que apresente as cinco protagonistas, é capaz que haja romances, triângulos amorosos e os dramas de sempre, sim. Além disso, não seria uma surpresa se uma delas tivesse mais destaque. Para Claudino, é um processo natural, que surge de acordo com a preferência do público. “Sempre uma delas vai ter um destaque maior, é quase impossível dentro de uma telenovela trabalhar com cinco protagonistas ao mesmo tempo, uma história acaba se sobressaindo mais que as outras”.

Importância para a TV: diálogo com jovens

Goste ou não, a “Malhação” não está no ar há tantos anos por acaso. A novela é a porta de entrada para os jovens na programação da emissora, pois começa dialogando sobre temas próprios desse universo, que evoluem para assuntos mais densos em tramas de outros horários. “É uma trama que já olha para esse público, que está saindo da adolescência, entrando no ginásio, vem acompanhando essa trajetória, traz o universo dele”, relata Claudino. “É um mundo fechado, e é por isso que a ‘Malhação’ sobrevive”.

Além do entretenimento, como qualquer outro produto midiático, a novela acaba influenciando os jovens, e coloca personagens adultos para trazer uma reflexão sobre a realidade do público. “A ‘Malhação’ mostra não só os discursos, mas responsabilidades e o relacionamento dos jovens com os pais no dia a dia. Todos acabam sendo protagonistas”, comenta o especialista.

Os valores discutidos em “Malhação” são sempre renovados, seja por novos autores, como Cao Hamburguer, seja pela mudança no discurso. Porém, não há nada inédito, como reforça Claudino. “Ela não inova, traz valores que eram importantes e estão sendo resgatados. As novelas sempre repetem padrões, como a gravidez na adolescência”.

Depois de 22 anos na grade da Globo, “Malhação” seguirá presente, conforme for a necessidade do público. “É uma novela importante, porque causa uma fidelidade. A emissora acompanha o jovem, e deixa uma porta aberta para que ele entre nesses novos conhecimentos”, comenta o especialista. “Assim ele se torna fiel, passa a gostar da dramaturgia e entra na grade das outras novelas”.

Temas velhos com novos enfoques, clichês sob novos olhares, tudo vale na hora de estabelecer um diálogo com o público jovem. Falar sobre diferenças, então, ganha ainda mais importância, uma vez que traduz um universo plural e incentiva o respeito à diversidade para os adolescentes. Em uma geração onde tantos preconceitos são reproduzidos, é preciso celebrar as diferenças, promovendo a inclusão - ainda que apenas na novela.

Para chamar ainda mais atenção à atração, um manifesto com o elenco e a rapper Karol Conka foi divulgado pela Globo.

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