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O que realmente aconteceu e o que é totalmente ficção em “Novo Mundo”?

Publicado 26 Abr 2017 – 02:45 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:20 AM EDT
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Aventura, mar revolto, índios, rainhas, príncipes e dons. Tudo isso está presente em “Novo Mundo”, atual novela das 18h da Globo. A história mescla realidade e ficção de uma maneira convincente para o formato e historicamente respeitosa. Usando de pano de fundo o Brasil dos anos 1817-1822 e tendo como ponto inicial a chegada da imperatriz Leopoldina ao país, o folhetim pega algumas figuras emprestadas da realidade para compor a história fictícia principal.

Escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, “Novo Mundo” é a primeira novela de autoria da dupla. Antes, eles haviam colaborado na equipe de roteiristas de sucessos como “Avenida Brasil”, além de “Regra do Jogo”, “Joia Rara”, “Cordel Encantado” e “Cama de Gato”. O trabalho deles à frente da história atual vem rendendo elogios da crítica e do público pelo capricho com a história e a criação ficcional.

O que é ficção em "Novo Mundo”

Segundo uma entrevista dos autores, a intenção nunca foi dar uma aula de história, mas sim usar os bastidores do que já conhecemos dos livros para mostrar personagens desconhecidos das aulas de história. “É como se a gente estivesse olhando por trás das cortinas. O acontecimento é o quadro de Pedro Américo, com aquele tanto de gente, mas e os bastidores daquilo? São coisas assim que queremos contar”, disse Falcão à Folha de S. Paulo, se referindo ao famoso quadro “Independência ou Morte”.

Professora e amiga inglesa

Partindo disso que nascem os personagens fictícios da trama, com Anna Millman e Joaquim Martinho como protagonistas e maiores exemplos. Interpretados por Isabelle Drummond e Chay Suede, o casal não é baseado em nenhum personagem real. A atriz faz o papel da professora que ensina português à Maria Leopoldina.

Vinda da Áustria para se casar com Dom Pedro numa união arranjada pelos pais de ambos, é bem provável que a imperatriz Leopoldina tenha aprendido o idioma português com alguma professora. Mas não há registros que comprovem que essa pessoa seria uma inglesa chamada Millman. E não é com isso que a dupla de autores se preocupa. Nessa área entra a licença poética, a concessão artística em prol da criatividade.

Segundo consta no livro “1808”, de Laurentino Gomes, sobre a história da chegada da família real ao Brasil, a princesa Leopoldina até tinha uma amiga da Inglaterra. Ela era a viajante Maria Graham, que chegou ao Brasil em 1821 e publicou um livro com seus registros sobre o país, “considerado pelos historiadores como um dos documentos mais preciosos dessa época”, de acordo com Gomes em seu livro.

Piratas

Outro exemplo de licença poética é o ataque de piratas ao navio da monarca logo nos primeiros episódios da trama. Os mares do século XIX realmente eram infestados de saqueadores e corsários de todas as nacionalidades. Porém, mais uma vez não há registro histórico documentado sobre um ataque a esse navio em específico. Marson, um dos autores da novela, afirmou que essa parte é totalmente fantasiosa.

Isso não necessariamente é algo ruim.  O crítico de TV Maurício Stycer definiu a novela como “um bom divertimento mesclado com situações que fazem o espectador refletir um pouco sobre a formação do país”. Para isso é necessário inserir algo ficcional e até o momento a novela está fazendo de forma convincente, já que a parte que não existiu na realidade fica por conta dos personagens criados para a trama.

Passagens da novela que são muito fiéis à história

Casamento entre Pedro e Leopoldina

Muito do que a novela mostra é bastante fiel à estadia da corte portuguesa por aqui, como, por exemplo, o casamento arranjado de Leopoldina e Dom Pedro. Antes de ela desembarcar no Brasil, em novembro de 1817, a festa do casório havia começado meses antes. Isso porque os reinos de Áustria e Portugal haviam firmado acordo para a união, mas o herdeiro do trono português não conseguiu ir para a Europa. 

“Meu casamento não passa de um acordo entre reinos”, como diz Caio Castro interpretando o noivo em trecho da novela. A união foi então realizada por uma procuração assinada pelo marquês de Marialva, autorizado a assinar os papéis em nome do noivo. Ele era embaixador de Portugal na Áustria e bancou festa de casamento, que custou cerca de R$ 18 milhões em valores atualizados por Laurentino Gomes.

Chegada da princesa ao Brasil

Outro fato histórico retratado com muita fidelidade pela novela foi a chegada da princesa Leopoldina ao Brasil. Assim como na cena exibida na TV, Leopoldina se ajoelhou e beijou os pés e as mãos de seus sogros, Dom João e rainha Carlota Joaquina. 

Realidades que são exageradas em "Novo Mundo"

Mesmo com a preocupação e os caprichos na produção e ambientação da época, a novela vem cometendo alguns exageros.

Não são deslizes nem inconsistências históricas, apenas particularidades que não refletem a realidade integralmente, mas servem para dar à trama o tom desejado por seus autores. Uma delas diz respeito à personagem que mais vem se destacando no folhetim.

Leopoldina não era tão agradável

Interpretada pela atriz Leticia Colin, a princesa Leopoldina da novela vem agradando público e crítica. Porém, nos idos do século XIX não era bem assim. A francesa Rose Marie de Feycinet, que esteve no Brasil e foi recebida pela família real em 1820, apontou seu desgosto em relação à monarca.

Segundo seus registros sobre seu encontro com a corte, ela não gostou de Leopoldina da mesma maneira que estamos gostando na novela. “Não pude ver nas maneiras da princesa real a aparência nobre e tão cerimoniosa de uma dama vinda da corte da Áustria”, escreveu Feycinet, em trecho publicado no livro “1808”.

O figurino elogiado da produção global, pelos relatos da francesa, também não condizem com a realidade. É que a exigente – para não dizer chata – viajante também criticou as roupas da imperatriz, dizendo que os trajes eram muito comuns para alguém de sua posição.

Dom Pedro não era tão caricato

Laurentino Gomes, autor da trilogia histórica – “1808”, “1822” e “1889” – que retrata passagens importantes do Brasil, parece estar gostando da novela. Elogiou o trabalho de Caio Castro como Dom Pedro, mesmo fazendo ressalvas sobre a interpretação.

Segundo o escritor, se trata de um papel difícil porque o filho de Dom João foi uma das figuras mais complexas da história de Portugal e do brasil. “Difícil fugir da caricatura, especialmente em obras de grande apelo popular”, escreveu em seu Facebook.

Uma biografia publicada pela Carta Capital parece descrever o papel de Castro como a caricatura que ficou conhecida pelo senso comum histórico. "Mulherengo, violento, impulsivo, irresponsável (por melhor amigo tinha um fidalguete de sintomático nome: Chalaça), aventureiro sem bandeira", descreve Nirlando Beirão.

Essa é a lista de características exageradas a respeito do monarca, segundo a publicação. O próprio autor desmente essa visão, dizendo que "a verdade histórica corrige" e afirmando que Pedro era um liberal convicto mais preocupado com questões sociais, com o fim da escravidão. 

Talvez um dos motivos que o autor Laurentino Gomes tenha falado sobre o tom exagerado de Caio Castro possa ter relação com o sotaque português carregado que o ator está empregando em seu personagem.

Quando Dom Pedro chegou ao Brasil, no ano de 1808, ele tinha apenas 10 anos de idade e viveu no Rio de Janeiro praticamente por toda a sua vida. É de se ponderar que talvez ele não tivesse tanto sotaque português assim já que “se sentia mais a vontade no Brasil” e estava bem habituado ao país, segundo o livro de Gomes.

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