Como método usa muco, temperatura e sinais do corpo para evitar gravidez sem hormônio?
Quando pensamos em evitar gravidez sem o uso de medicamentos ou aparatos o que vem primeiro à mente é a tabelinha. No entanto, existe uma infinidade de outras técnicas muito mais precisas, entre elas, o método sintotermal.
Indicado para mulheres que desejam uma contracepção natural ou para aquelas que querem aumentar as chances de gestação, ele é baseado na análise de fatores da fisiologia feminina. Mas vale sempre lembrar: a camisinha, masculina ou feminina, é o único método que, além de evitar gravidez, protege contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
O que é o método sintotermal?
A naturóloga, fitoterapeuta e facilitadora em ginecologia natural, Ana Carolina Arruda, explica que sintotermal é um método de percepção da fertilidade indicado para quem deseja evitar a gravidez ou aumentar as chances de concretizá-la.
Além dos sinais exteriores que surgem conforme o ciclo reprodutivo muda, como cólicas e mudanças de humor, essa fase também causa mudanças internas em nosso corpo, que são o objeto de análise dessa técnica.
Como funciona?
Também chamado de método sintotérmico, tem como objetivo promover o entendimento sobre o ciclo menstrual por meio da análise de três fatores em seu próprio corpo:
Temperatura
A temperatura basal - medida logo que a pessoa acorda pela manhã - se altera durante todo o ciclo, o que é útil para determinar se alguém está mais ou menos propenso à fecundação. Por exemplo, os períodos férteis apresentam medidas mais altas por causa da ação termogênica da progesterona.
Muco
O muco cervical é uma secreção que facilita o deslocamento do espermatozoide para o útero. O aspecto dessa substância muda durante o ciclo, o que também a torna uma boa referência.
Colo do útero
Como a altura, consistência e abertura do cérvix – outro nome dado para a parte inferior do útero - também variam durante o ciclo, ele é um bom indicativo de que a ovulação está próxima.
É eficaz contra a gravidez?
De acordo com estudo publicado pela Universidade de Oxford (Reino Unido), após 13 ciclos, 1,8 a cada 100 mulheres experimentaram uma gravidez não intencional (isso considerando quem seguiu o método corretamente e quem não seguiu).
Já no caso de quem teve relação sexual protegida no período fértil, a taxa de gravidez foi de 0,6 por 100 mulheres
A ginecologista Bel Saide, especialista em ginecologia natural, ressalta que o índice de falha do sintotermal é baixo: "Eu acredito que a percepção da fertilidade é o método mais seguro que existe, isso se a mulher realizá-lo corretamente e souber confiar nele".
Já a especialista Ana Carolina Arruda complementa que o sucesso da técnica depende da disciplina, dedicação e busca pelo conhecimento.
Para as mais precavidas, pode ser usado conjuntamente um método de barreira como camisinha ou diafragma,
Precisa usar camisinha?
Se realizado corretamente, o sintotermal é eficaz na prevenção da gravidez. No entanto, ele obviamente não protege de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), o que torna necessário o uso do preservativo.
Apesar do risco, alguns casais que não desejam ter filhos usam a camisinha apenas no período fértil.
Por que ajuda quem quer engravidar?
Como fornece entendimento e autonomia sob o próprio corpo, o sintotérmico ensina a mulher a reconhecer quando está ovulando, de modo a elevar as chances de fecundação.
Como fazer método sintotermal?
A seguir, entenda como deve ocorrer a análise de cada aspecto do método sintotermal:
Medição diária da temperatura
Primeiro, a mulher deve escolher uma área do corpo para fazer a medição durante todo o tempo de uso do método, já que a alternância pode tornar os padrões de temperatura diferentes. As opções são vagina, boca ou dobra das axilas.
A aferição deve ser realizada diariamente com um termômetro basal, no mesmo horário e logo depois de acordar - antes mesmo de ela sentar ou levantar. O número informado deve ser anotado em uma agenda, caderno ou em algum aplicativo de fertilidade.
Geralmente, as medidas mais altas ocorrem um ou dois dias após a ovulação, período que ainda é muito propício para engravidar. No entanto alguns fatores como consumo de álcool, mudança na alimentação ou no sono também podem alterar a temperatura, o que torna essencial o cruzamento de informações com os outros dois aspectos.
Análise do colo do útero: altura maciez e abertura
Com as mãos bem lavadas, a própria mulher deve inserir o dedo médio na vagina e tentar localizar o colo do útero: uma massa arredondada com uma cavidade no centro.
A partir da apalpação, é possível identificar sua consistência e altura:
No período fértil, o colo do útero está macio, mais alto (nesse caso, é notável que a inserção do dedo na vagina foi mais profunda) e com a abertura maior . Já se estiver baixo e endurecido, o a chance de gestação é menor.
Essa medição deve ser realizada uma ou duas vezes por dia e todos os dados também tem de ser anotados.
Muco: cor e consistência indicam fertilidade
Essa etapa pode ser feita diariamente junto com a análise do colo do útero: após tocar o cérvix, a mulher deve retirar o dedo da vagina. Ele estará coberto por um muco, que é o instrumento investigado nessa fase.
“No período não fértil, o muco é esbranquiçado e homogêneo. Já quando a fertilidade está chegando, ele continua branco mas passa a ter uma aparência granulada ou com bolinhas. Por fim, na ovulação o muco fica transparente, mais abundante e pegajoso, como um corrimento clara de ovo”, ressalta Ana Carolina.
Assim como os outros fatores, esse também deve ser registrado.
Cruzamento de informações
Essa última etapa é decisiva para a precisão dos resultados. Consiste em analisar os três fatores anteriores juntamente com o histórico dos ciclos anteriores. "Por exemplo, se há três ciclos em que você ovula no 14° dia, isso determina um padrão de que essa data é fértil", esclarece a especialista Ana Carolina Arruda.
Como complemento, é possível cruzar as informações com sinais como aumento da libido, dor nos seios e dor nos ovários, que surgem em algumas mulheres durante a ovulação.
Aí é só analisar se as datas de todos os fatores que indicam fertilidade coincidem, indicando maior chance de gravidez, ou não.
Cuidados: como seguir corretamente?
Siga todas as etapas
Realizar apenas uma etapa do sintotermal não é suficiente para garantir sua eficácia, já que apenas o cruzamento entre todas as informações propicia o entendimento completo do ciclo.
Tenha disciplina
Manter frequência e horários das medições é importantíssimo para para fazer o método dar certo. Além disso, buscar conhecer seu próprio corpo e pesquisar sobre a fisiologia feminina pode ajudar.
Pode demorar um pouco para funcionar
A adaptação ao sintotérmico pode ser um pouco demorada, especialmente em mulheres que não estão acostumadas a tocarem o próprio corpo. "É preciso dar um prazo de segurança de seis meses para realmente usar a técnica como forma de anticoncepção, já que demora certo tempo até entendermos nosso próprio organismo", explica Ana Carolina.
Para aquelas que querem ter filhos a dica é não se frustrar caso a gravidez não ocorra rapidamente, já que o período de adaptação também pode influenciá-las.
Busque auxílio médico
Assim como qualquer outra técnica, o apoio de um especialista é fundamental. Caso opte pela contracepção natural, procure por um especialista que entenda o método e te ajude a adotá-lo.
Contraindicação
O método contraceptivo natural não é recomendado para quem está com o ciclo menstrual irregular ou não ovula por alguma questão fisiológica como pós-parto, endometriose, ovários policísticos, etc.
"Elas podem usar as práticas como forma de autoconhecimento e cuidado com o próprio corpo, mas não como forma de evitar ou aumentar as chances de engravidar", ressalta a especialista em ginecologia natural Ana Carolina Arruda.
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