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Prós e contras da mamografia: sobrevida, falso-positivo e outras polêmicas esclarecidas

Publicado 26 Out 2016 – 08:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda contra a realização de mamografia em mulheres com menos de 50 anos, justificando que os possíveis danos se sobrepõem aos benefícios.

Por outro lado, associações médicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia, defendem a mamografia mais cedo, a partir dos 40 anos. O motivo, neste caso, seria o aumento da sobrevida.

Nós, do Vix, analisamos os dois lados da questão e mostramos o que está por trás de cada pró e contra da mamografia.

Mamografia: os prós 

Sobrevida

Não existe um consenso sobre a porcentagem de redução da mortalidade por câncer de mama atribuída à realização de mamografias. Já foram feitos alguns estudos sobre o tema e seus resultados são diversos.

Os estudos internacionais mais confiáveis apontam que a redução da mortalidade não é tão grande quanto muitas de nós, mulheres, acreditamos.

Uma das maiores análises do tipo – publicada no periódico científico The British Medical Journal - foi realizada no Canadá e acompanhou quase 90 mil mulheres com idade entre 40 e 59 anos por um período de 25 anos.

Os pesquisadores chegaram à conclusão de que, nas mulheres dessa faixa etária, a mamografia anual não reduz a mortalidade por câncer de mama mais do que o exame físico e as consultas médicas quando tratamentos adjuvantes após a cirurgia, como quimio e radioterapia, estão disponíveis.

Segundo outro estudo, este publicado pelo International Journal of Epidemiology, muitas mulheres superestimam os benefícios da mamografia. A maioria das mulheres (62%) disse que o exame reduz a mortalidade pelo câncer de mama pela metade. Muitas delas (68%) também afirmaram que ele previne ou reduz o risco de contrair câncer de mama, sendo que exames não são capazes de prevenir doenças, mas, sim, de detectá-los precocemente.

Para o Ministério da Saúde, que fez uma análise de estudos para chegar a essa conclusão, a redução do risco absoluto de mortalidade por câncer de mama decorrente da mamografia gira em torno de 0,05%.

Por outro lado, a Sociedade Brasileira de Mastologia, em comunicado, afirma que estudos internacionais, por serem realizados em outros países, não refletem a realidade brasileira.

Além disso, a medida seria um direito adquirido por lei, no caso, a lei 11.664 de 2008, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para o mastologista José Luís Esteves, membro da SBM, as populações são diferentes em cada local. “Esses estudos são feitos em países nórdicos. No Brasil, temos uma estatística muito clara que diz que de 30% a 40% dos casos de câncer de mama acontecem em mulheres com menos de 50 anos”, diz. “No Brasil e nos países de terceiro mundo acontece esse efeito. A causa provavelmente é genética, o comportamental não explica”.

Ainda de acordo com o médico, o diagnóstico precoce, possível com a mamografia, permite uma evolução mais branda da doença, usando menos medicação e com mais chance de cura e sobrevida.

Os contras da mamografia

Enquanto o benefício diz respeito à possível redução da mortalidade, os danos são o sobrediagnóstico, o sobretratamento, os resultados falso-positivos e a exposição à radiação ionizante associados à mamografia, dizem as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil, elaboradas pelo Ministério da Saúde em 2015.

Falso-positivo 

O oncologista Gilberto Amorim, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, explica que qualquer exame, seja laboratorial, de sangue, clínico, bioquímico ou de imagem, pode ter sempre essa “entidade traiçoeira” que é o resultado falso-positivo.

No caso da mamografia, o resultado falso-positivo se manifesta por imagens sugestivas de lesão cancerígena no exame, mas que não se confirmam na biópsia e no exame histopatológico - que avalia a presença de células cancerígenas no tecido retirado.

Segundo um estudo publicado pelo Journal of the American Medical Association, a cada 1.000 mulheres de 50 anos que fazem mamografia anualmente, 0,3 a 3,2 delas evitarão a morte pela doença, enquanto de 490 a 670 receberão pelo menos um diagnóstico falso-positivo.

O número de resultados falso-positivo está intimamente relacionado ao aumento do número de mamografias feitas.

Além disso, a realização desnecessária da biópsia e todo o processo de lidar com a possibilidade de ter câncer podem causar importantes impactos psicológicos.

Sobrediagnóstico e sobretratamento 

O avanço técnico de muitos exames permitiu que um número maior de cânceres de mama fosse descoberto. No entanto, muitos desses tumores que hoje são operados e tratados não cresceriam, gerariam sintomas ou causariam morte.

Os termos sobrediagnóstico e sobretratamento se referem justamente a esses casos que acabam sendo diagnosticados e tratados, mas não precisariam.

Não existem números que reflitam com exatidão a quantidade de mulheres que se encaixam nesses grupos, mas algumas estimativas apontam números significativos.

O estudo realizado no Canadá com 90.000 mulheres, por exemplo, mostrou que 22% das mamografias representam sobrediagnósticos. Mas outro estudo, publicado no Journal of the American Medical Association, diz que para cada 1.000 mulheres de 50 anos que fazem mamografia anualmente, de 3 a 14 serão diagnosticadas e tratadas desnecessariamente.

Radiação da mamografia e surgimento de novos tumores 

A evidência científica que aponta relação entre a radiação da mamografia e a consequente ocorrência de novos tumores ainda é muito fraca. O principal problema seria o acúmulo de radiação no corpo, uma vez que o exame é feito no mínimo a cada dois anos. É possível que haja efeitos, mas não é possível afirmar que eles existam.

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