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Síndrome de Rapunzel: o que é transtorno que faz mulheres comerem fios de cabelo?

Publicado 20 Out 2016 – 08:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Nos contos de fadas, Rapunzel tinha metros e mais metros de cabelo que foram cortados para que ela ficasse confinada e tivesse sua vida restrita à torre. No mundo real, seu nome é emprestado a um acometimento em que mulheres, em sua maioria, acumulam cabelos em seus sistemas digestivos pois arrancam e comem os próprios fios: a síndrome de Rapunzel.

Síndrome de Rapunzel: desencadeadores

A síndrome de Rapunzel é uma condição rara em que há formação de tricobezoares, que são massas constituídas por cabelo, no estômago com extensões para o duodeno e o íleo, partes do intestino delgado, ou para os cólons, que são as alças do intestino grosso.

Esse acometimento é desencadeada por dois transtornos: a tricotilomania e a tricotilofagia.

Tricotilomania 

O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que a tricotilomania é um tipo de transtorno mental relacionado ao controle de impulsos, caracterizado por um comportamento recorrente de arrancamento dos cabelos, o que resultando em perda capilar perceptível e grande sofrimento.

Ela acomete de 1% a 4% da população em uma relação de 9 mulheres para cada 1 homem, com idade média de início do transtorno aos 13 anos.

“O hábito de arrancar os cabelos pode se associar a sensações de prazer, satisfação ou alívio, realizado principalmente em paralelo a atividades corriqueiras, como ler, assistir televisão, falar ao telefone, etc.”, explica o especialista. “Tais hábitos podem se intensificar durante períodos estressantes, como dificuldades na escola, pré-vestibular, no trabalho ou, ainda, o período pré-menstrual”.

Muitas pessoas declaram ter a sensação de “estar agindo no automático” quando estão arrancando os cabelos, com episódios que acontecem em qualquer lugar, durando de poucos minutos a algumas horas.

Tricotilofagia 

A tricotilofagia, por sua vez, é uma complicação da tricotilomania que ocorre em 5% a 20% dos casos e é caracterizada pela ingestão do cabelo arrancado. Não se sabe exatamente qual é a causa da tricotilofagia, mas existem hipóteses tanto do ponto de vista nutricional, que diz que o comportamento estaria associado a deficiências de ferro, quando do ponto de vista psicoanalítico, que propõe que o comportamento teria origens em comportamentos agressivos e destrutivos em níveis além da consciência.

Perda de peso

Existe, ainda, um terceiro aspecto relacionado ao hábito de arrancar e comer o próprio cabelo que não está diretamente relacionado aos transtornos descritos anteriormente, mas sim tem ligação com distúrbios de corpo e imagem. Como um dos sintomas do comportamento é a perda de apetite, há registro de casos, ainda que raros, de pessoas que passaram a ingerir fios de cabelo com o intuito de perder peso.

Sintomas e complicações 

O psiquiatra explica que a tricotilomania pode causar sentimentos de vergonha ou embaraço. “Os pacientes tendem a tentar disfarçar a perda de cabelos com chapéus, perucas ou penteados especiais”, explica. “Também existem depoimentos de sensações como isolamento social e situações como dançar, nadar ou namorar são evitadas para não expor as falhas do couro cabeludo devido à perda de cabelo”.

Existem, também, complicações de natureza digestiva. Recentemente, tornou-se falado o caso de uma mulher de 38 anos em cujo estômago foi encontrada uma bola de cabelo de 15 x 10 cm com uma pequena extensão para o duodeno e uma segunda tricobezoar, medindo 4 x 5 cm na parte final do íleo.

Seu caso foi relatado em um estudo científico publicado na revista Nature. Entre os sintomas encontrados pelos pesquisadores, que acompanharam o caso foram: distensão abdominal, vômito fecaloide, perda de peso e perda de apetite.

No caso, o cabelo acumulado foi retirado através de cirurgia, mas, caso o tratamento não seja feito a tempo, podem acontecer diversas complicações. As mais comuns são perda de peso, anemia, obstrução intestinal, intussuscepção (situação em que uma parte do intestino desliza para dentro da porção imediatamente anterior a ela), úlcera gástrica com perfuração, peritonite, pancreatite, entre outros.

Tratamento 

Além da retirada cirúrgica da bola de cabelo e da correção das complicações, é fundamental buscar tratamento com psiquiatra e psicólogo. “A tricotilomania é tratada de forma medicamentosa e com psicoterapia, de forma a reduzir os impulsos de arrancar os fios de cabelo”, explica o psiquiatra. “Os antidepressivos são empregados com sucesso no tratamento, aliados a psicoterapias com ênfase em medidas comportamentais”.

Transtornos psiquiátricos 

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