Para perder 11 kg em 5 dias, lutadora adota anticoncepcional: como poderia funcionar?

A lutadora curitibana Cris Cyborg, às vésperas de uma luta pelo UFC na categoria peso casado (63,5 kg), revelou sofrer para perder 11 kg até a pesagem, que aconteceria 24 horas antes do combate. Para conseguir atingir o peso desejado ela afirmou ter adotado uma técnica estranha: o anticoncepcional. Mas como é que isso poderia ajudar? Conversamos com uma ginecologista para entender essa relação.

Anticoncepcional emagrece?

"Comecei a tomar pílula anticoncepcional. Meu corpo ficou um pouco estranho, mas confio no meu nutricionista George Lockhart. Nunca usei isso antes, mas ele disse que vai me ajudar a perder peso. Quando recebi a ligação do UFC, estava com 79 kg. Viajei com 76 kg e hoje estou pesando 74 kg. Tenho que perder 11,3 kg em cinco dias", disse a atleta ao site MMA Fighting.

Apesar da atleta dizer que começou a tomar anticoncepcionais com o intuito de perder peso, a ginecologista e obstetra da Perinatal Luciana Cima afirma que não existe relação entre emagrecimento e uso de pílulas anticoncepcionais.

“Não existe relação direta nem de ganho nem de perda de peso e os efeitos dos anticoncepcionais são a longo prazo, com uso contínuo. Além disso, a progesterona causa a retenção de líquido em algumas pessoas, ou seja, até pode causar inchaço”, explica a ginecologista.

Riscos

Luciana comenta que toda medicação tem algum efeito sobre o organismo e por isso não pode ser tomada sem indicação. “Os anticoncepcionais não foram feitos para emagrecer, são contraceptivos e não devem ser usados para outras finalidades”, comenta.

Tomar um medicamento para obter um propósito para o qual ele não foi criado, é se expor a riscos desnecessariamente. Entre os riscos das pílulas anticoncepcionais está o aumento de chances de trombose.

Perda de peso rápida

O fisiologista que atende atletas de UFC Gustavo Barquilha explica que o fato de Cris precisar perder 11 kg em uma semana já está errado. De acordo com Gustavo, o ideal é que o atleta perca no máximo 7 kg neste período.

“Quanto menos peso a pessoa perde, melhor para a recuperação e para a manutenção do desempenho do atleta durante a competição, então não é bom que ele precise perder tantos quilos na semana da luta”, explica Gustavo.

Desidratação para perder peso 

O nutricionista Humberto Nicastro, que atende dois atletas de UFC, afirma que é bastante comum os atletas perderem muito peso na semana de pesagem por meio da desidratação.

“Nós induzimos a desidratação para que o atleta perca de 5 a 7% do peso corporal para a pesagem e recupere para a luta sem que aconteça perda de desempenho”, comenta Humberto.

Para induzir a perda de peso, o atleta começa a consumir uma quantidade muito grande de água (de 12 a 14 litros por dia) cerca de uma semana antes da luta e vai reduzindo gradativamente até chegar na pesagem com jejum absoluto, sem ter consumido até mesmo água.

Segundo o nutricionista, a hiper-hidratação tem efeito diurético e faz com que a pessoa continue urinando muito, mesmo após reduzir a quantidade de água ingerida. Desta forma, o atleta se desidrata. Ou seja, a perda de peso nada mais é do que a perda de água do corpo.

Apesar de ser uma prática comum, Humberto recomenda que os atletas não se submetam a esse procedimento mais de duas vezes ao ano, porque a técnica pode prejudicar a saúde renal do atleta.

Além disso, nem tente fazer algo semelhante em casa. Trata-se de uma perda de peso forçada que só pode ser feita por pessoas bem preparadas fisicamente e com acompanhamento médico.

Nova categoria de peso no UFC

Quem acompanha o trabalho de Cris Cyborg sabe que ela luta para criar uma nova categoria de peso para as mulheres no UFC. 

No dia a dia, seu peso ideal fica entre 75 kg, mas para poder lutar profissionalmente na competição, a atleta sempre precisa baixar (e muito!) o seu peso. No masculino, os homens possuem mais categorias de peso para disputar.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ela afirmou que é mentira que não existam atletas no seu peso para combate: "É um discurso que foi propagado porque o UFC não quer fazer minha categoria. Se tivesse uma americana campeã na minha faixa de peso, já teriam feito. Existem várias atletas muito boas nessa categoria. São boas adversárias, mas não dão oportunidade de serem conhecidas. Tem no boxe também gente muito boa". 

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