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Câncer de tireoide: até 90% dos casos são tratados (e até operados) sem necessidade

Publicado 21 Set 2016 – 02:14 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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O câncer de tireoide não é uma doença muito frequente. No Brasil, ele corresponde a 1,3% de todos os cânceres, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Mas um novo estudo alerta que, mesmo assim, ele pode estar sendo diagnosticado em excesso. Isso significa que muitos dos casos detectados e tratados poderiam não causar qualquer prejuízo se nós simplesmente não interferissemos em sua evolução.

Diagnóstico excessivo de câncer de tireoide

A Agência Internacional para Pesquisa do Câncer - um braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) dedicado a estudar a doença – fez recentemente um importantante alerta sobre o diagnóstico de câncer de tireoide.

Segundo os pesquisadores, o motivo pelo qual o câncer de tireoide é, atualmente, uma epidemia é o diagnóstico excessivo.

Isso significa que, por causa do avanço da medicina, muitos dos tumores que passariam despercebidos - sem causar sintomas nem risco à vida - acabam sendo detectados em exames de imagens e, por isso, são tratados com medicamentos e cirurgias.

O novo levantamento estima que de 50% a 90% de todos os casos de câncer de tireoide diagnosticados sejam inofensivos. Esses números representam mais de 470 mil mulheres e 90 mil homens diagnosticados sem necessidade nas últimas duas décadas, muitos dos quais foram também tratados inutilmente.

A endocrinologista Laura Ward, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica que um dos motivos pelos quais as mulheres são mais atingidas que os homens é a recomendação da ultrassonografia de tireoide pelo ginecologista e, como os nódulos são frequentes, costumam ser achados tumores.

Os números foram descobertos com base em informações de saúde de pessoas de 12 países: Austrália, Dinamarca, Inglaterra, Finlândia, França, Itália, Japão, Noruega, Coreia do Sul, Escócia, Suécia e Estados Unidos.

Responsabilidade do exame de ultrassonografia

Ao analisar os dados, os pesquisadores notaram que a alta na incidência de câncer de tireoide estava intimamente relacionada à introdução da ultrassonografia de tireoide como método diagnóstico nesses países.

Um dos responsáveis pelo estudo, Salvatore Vaccarella, disse que alguns anos depois que a ultrassonografia da glândula da tireoide passou a ser oferecida na Coreia do Sul, o câncer de tireoide se tornou o tipo mais diagnosticado no país, sendo estimado que 90% dos casos seriam indolentes, ou seja, incapazes de gerar sintomas ou risco à vida.

A popularização da ultrassonografia faz parte do aumento da vigilância médica e da introdução de novas técnicas diagnósticas. Juntamente à tomografia computadorizada e à ressonância magnética, a ultrassonografia de pescoço (que data da década de 1980) teria levado ao diagnóstico de um número amplo de doenças que não gera sintomas nem morte.

Necessidade de radioterapia e cirurgia 

“A maioria desses casos de sobrediagnóstico de câncer de tireoide passa por uma retirada total da tireoide e frequentemente por outros tratamentos danosos, como a retirada dos linfonodos da região do pescoço e radioterapia sem que haja benefícios provados em termos de aumentar a sobrevivência”, disse Silvia Franceschi, outra autora do estudo.

Todos esses procedimentos podem ser extremamente desgastantes do ponto de vista físico e emocional para o paciente e ainda geram um gasto considerável em termos de saúde pública que seria desnecessário com uma abordagem mais adequada.

Como deve ser o diagnóstico e tratamento do câncer? 

Com base nessas informações, a Agência recomenda cuidado com a indicação de exames de rotina e com o tratamento de pequenos nódulos. Um monitoramento cuidadoso, avaliando a evolução dos tumores, pode ser a melhor opção para pacientes com câncer de baixo risco.

A endocrinologista Laura Ward explica que a maioria dos nódulos de tireoide, mesmo que malignos, não progride. “Existem diversos estudos que acompanham a progressão de tumores de tireoide, um deles, com um seguimento de mais de 20 anos, mostrou que menos de 5% desses cânceres crescem mais que 30 mm a cada dez anos”, conta.

A médica explica ainda que o câncer de tireoide é um câncer “diferente”. “Muitas pessoas ao ouvir a palavra câncer se desesperam e querem logo tirar o tumor, mas, no caso da tireoide, o tumor pode ser só acompanhado, avaliando se ele não cresce muito rápido. Se ele não for agressivo, que são só 5% dos casos, não vai precisar de cirurgia”, explica.

A realização de ultrassonografias da glândula também deve ser mais criteriosa, obedecendo a fatores como a presença de um tumor palpável, a idade e a exposição à radiação ionizante. 

Alterações da tireoide

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