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Fissura labial: o que é a malformação que neto de Marcos Caruso tem e o que causa?

Publicado 30 Ago 2016 – 12:57 PM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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O neto de Marcos Caruso tem um problema que costuma ser velado: a Fissura Labiopalatina (FLP). O ator falou sobre isso em sua conta no Instagram e também já explicou sobre a condição do neto em rede nacional, quando foi com sua nora Luiza Pannunzio e o pequeno Bento ao programa Encontro, da Rede Globo.

Também chamada de lábio leporino, a alteração no desenvolvimento da face afeta, no Brasil, de 0,47 e 1,54 a cada 1.000 nascidos vivos. Mesmo assim, nós ainda falamos muito pouco sobre isso. Veja, a seguir, um pouco mais da história de Bento e compreenda a FLP.

Fissura lábiopalatina: o que é a alteração do neto de Marcos Caruso 

Durante o programa, Luiza contou que recebeu a notícia de que seu filho tinha a fissura palatina 20 dias antes de seu nascimento, durante a realização de um exame de ultrassom: “Foi nos dada a notícia de forma desumana. Eu digo porque o médico fez o ultrassom e me falou: 'O seu filho tem uma fissura na face'. Eu comecei a chorar desesperadamente e ele pediu para eu parar de chorar e falou: 'Tem criança que nasce sem cérebro, pare de chorar.'”

Para o avô, Marcos Caruso, a descoberta também foi um susto: “Eu estava gravando Avenida Brasil [novela da Rede Globo exibida no ano de 2012] em Cabo Frio, quando meu filho [me ligou e disse:] 'Pai, aconteceu uma coisa'. O mundo caiu na minha cabeça, e cai mesmo, ninguém está preparado”. E completou: “Esse menino aqui, ele é absolutamente perfeito, depois de 3 cirurgias lindamente bem feitas e com muitas dores no coração, muito amor no coração, muito carinho e muita atenção de todos”.

Desafios 

Bento passou por uma cirurgia para corrigir a fissura assim que nasceu, procedimento que, segundo Luiza, não é o mais adequado, mas acabou sendo feito em função da falta de informação disponível na época. A amamentação teve de ser feita com a ajuda de um conta-gotas. De lá para cá, ele já passou por mais duas cirurgias, e a alteração facial ficou bem discreta.

As Fissuradas 

Luiza disse ainda que, na época em que seu filho nasceu, não havia muitas informações e o que eles encontravam na internet eram apenas casos muito graves e sem tratamento adequado. “Eu tive o Bento há quatro anos e a gente não conhecia ninguém [com o mesmo problema], eu falava: 'Não é possível que só eu estou tendo esse filho agora com esse problema'. Então eu percebi o quanto essas crianças estavam reclusas”.

“Quando eu resolvi expor o meu caso, foi muito pela falta de informação”, disse. Foi então que ela resolveu criar uma página na internet chamada “As Fissurada”. “Criando a página também criava-se um diálogo, um diálogo que eu precisava ter com outras mães”, contou.

Conforme o tempo foi passando, Luiza foi se interessando cada vez mais pelo tema. “Fui atrás dos hospitais públicos, me tornei parceira das redes de apoio e faço hoje esse trabalho muito para ajudar todos que nos buscam como uma primeira informação”.

Fissura labiopalatina: o que é? 

A fonoadióloga Giovana Rinalde Brandão, chefe técnica dos serviços complementares do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP, centro de referência mais conhecido como o “Centrinho de Bauru”, explica que a fissura labiopalatina é uma malformação que resulta da falta de fusão dos processos faciais entre a quarta e a oitava semana gestacional.

Como resultado, ao nascimento é observada uma fenda no lábio e/ou no palato, que é o nome da parte do corpo que chamamos de “céu da boca”.

Tipos 

A fissura pode atingir diferentes estruturas, além de variar em forma e extensão. Pode estar presente uma fenda somente no lábio, atingindo ou não o nariz e a região dos dentes, acometer somente o palato ou acometer simultaneamente lábio e palato.

Causas 

Giovana Rinalde explica que a causa dessas malformações faciais não está ainda totalmente esclarecida, mas acredita-se que fatores hereditários têm grande importância, pois há alto risco de recorrência destas malformações em descendentes dos afetados.

Além disso, algumas vezes a ocorrência das fissuras pode estar associada a fatores ambientais diversos, como deficiência nutricional da mãe, exposição da gestante a agentes tóxico-infecciosos, estresse materno, radiação ionizante e exposição a algumas drogas durante o período de formação do bebê.

Complicações da fissura labiopalatina 

Da fissura labial

As complicações possíveis estão diretamente relacionadas à extensão e ao tipo de fissura. A fissura que fica apenas no lábio geralmente não tem implicações funcionais e, quando reparada de forma adequada, pode ter resultado estético bem favorável.

Da fissura do lábio, gengiva e arcada dentária 

No entanto, quando a fissura acomete a arcada dentária e gengiva, é necessária a intervenção de profissionais especialistas em cirurgia bucomaxilofacial para a realização do enxerto ósseo na região afetada.

Da fissura labiopalatina 

As fissuras de lábio associadas às de palato (“céu da boca”) são as que requerem um maior número de procedimentos cirúrgicos e trazem mais implicações funcionais, uma vez que pode ocorrer dificuldade na alimentação, comprometimento do crescimento facial e do desenvolvimento da fala e audição.

Nesses casos, o tratamento é um processo longo que envolve a participação de equipe interdisciplinar e se inicia logo na primeira infância, quando, então, são indicadas as cirurgias primárias para o fechamento do lábio (queiloplastia) e do palato (palatoplastia).

“Essas cirurgias, quando realizadas na idade adequada, associadas a procedimentos preventivos de ação da fonoaudiologia, são capazes de oferecer condições para restabelecer a função da fala, bem como favorecer a estética”, explica a especialista. “O fonoaudiólogo tem papel fundamental no tratamento da fissura labiopalatina, principalmente quando a fenda atinge o palato, pelas possíveis dificuldades nos processos de alimentação, fala e audição”.

Tratamento 

A fonoadióloga explica que o tratamento para a correção da fissura é cirúrgico. Porém, antes da idade ideal, faz-se necessário o acolhimento e as intervenções preventivas. “Além da alimentação, a fala também deve ser acompanhada na presença da fissura de palato, e o fonoaudiólogo atua com orientações preventivas mesmo antes do procedimento cirúrgico”, conta.

“O ideal é que a criança inicie a produção da fala com o palato já operado e, posteriormente, o tratamento fonoterápico pode ser indicado caso ocorra atraso do desenvolvimento da linguagem ou para a correção de possíveis erros articulatórios e hipernasalidade ('voz fanhosa')”, explica a especialista.

Quando fazer a cirurgia para fissura labiopalatina 

Não existe regra sobre o melhor momento de realizar a cirurgia de correção da fenda. Tudo depende da avaliação individual de cada caso pela equipe multidisciplinar, levando em conta dois fatores: operar precocemente pode favorecer o restabelecimento estético imediato e funcional da fala e da audição, trazendo maior conforto emocional à família; mas, por outro lado, pode interferir negativamente no crescimento da face, desfavorecendo futuramente a estética e requerendo intervenções cirúrgicas adicionais.

E ainda: cirurgias realizadas tardiamente podem prejudicar funções como fala, audição e alimentação. Até a vida adulta, a equipe interdisciplinar auxiliará no tratamento do paciente com fissura com o intuito de inseri-lo na sociedade.

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