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Jovem tem trombose cerebral após tomar uma das pílulas mais perigosas por 5 anos

Publicado 3 Ago 2016 – 09:15 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:49 AM EDT
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Juliana Pinatti Bardella descobriu uma trombose venosa cerebral após sentir dores de cabeça por três semanas. Em um longo post feito em sua conta no Facebook, a universitária, que mora no interior de São Paulo, diz que chegou a procurar uma médica por causa da constante dor, mas que, mesmo sem ter realizado nenhum exame, recebeu a orientação de tomar remédios para enxaqueca.

Trombose cerebral confundida com enxaqueca

Dois dias após ir ao hospital, Juliana percebeu que sua perna direita não respondeu ao seu comando ao tentar levantar da cama. Sua mão direita também estava com os movimentos limitados, e a jovem não conseguiu nem mesmo se vestir.

“Alguns minutos depois peguei o celular para fazer uma ligação, mas foi muito difícil, fiquei muito tempo olhando para a tela sem saber o que fazer, como se tivesse esquecido como manusear um telefone. Deixei o celular de lado e fui ao banheiro, e para o meu maior desespero não sabia mais usar o banheiro, fiquei olhando pela porta e não sabia mais por onde começar, como isso era possível?”, relembrou a jovem sobre o dia em que passou mal.

Juliana disse que sua visão também ficou turva e que perdeu a capacidade de raciocinar. No hospital, fez ressonância magnética e foi diagnosticada com a trombose, que, de acordo com o médico, provavelmente foi causada pelo anticoncepcional que toma há 5 anos - já que a jovem não fuma, não tem histórico familiar de problemas circulatórios ou outros fatores de risco.

O que é trombose venosa cerebral?

O neurologista clínico do HCor Eli Faria explica que trombose é a formação de coágulos dentro da circulação sanguínea. No caso da venosa cerebral, os coágulos se formam dentro de veias cerebrais e as entopem, impedindo a correta circulação do sangue, que extravasa para o cérebro.

Após o diagnóstico ser feito, o médico prescreve anticoagulantes para o paciente com o intuito de evitar o surgimento de novos trombos (coagulação no sangue no interior de vasos sanguíneos) e auxiliar o sangue a circular normalmente.

Faria explica que, apesar de o nome assustar, a recuperação costuma ser praticamente completa e o problema geralmente deixa menos sequelas do que o Acidente Vascualr Cerebral (AVC).

“A trombose venosa cerebral não deixa de ser um AVC, mas o AVC mais conhecido é o que acontece em decorrência do entupimento de artérias e costuma deixar mais sequelas do que a trombose venosa”, explica o neurologista.

O que causa trombose?

Na grande maioria dos casos, a trombose surge por uma pré-disposição genética combinada com fatores que aumentam a probabilidade do surgimento do problema. “Costuma ser uma alteração genética muito tênue que é potencializada pelo cigarro, uso de anticoncepcional, desidratação, etc.”, explica o neurologista.

De acordo com Faria, o correto seria os ginecologistas analisarem a fundo o histórico de doenças familiares da paciente antes de prescreverem o método anticoncepcional. “Não é só perguntar se a pessoa já teve trombose, tem que perguntar se alguém da família teve trombose ainda jovem, se alguém enfartou ou teve um AVC jovem, se existe algum histórico de embolia, tudo isso é causado por tromboses e podem indicar predisposição genética”, lista.

Teste indica pré-disposição

Caso a paciente relate algum caso, é indicado que ela faça um teste laboratorial para trombofilia para checar se ela tem pré-disposição genética à trombose. Caso tenha, o ginecologista precisa avaliar qual é o método contraceptivo mais seguro. Em alguns casos, é necessário fazer tratamento antitrombose.

“Todas as pessoas que tomam hormônio estão sujeitas ao risco de ter trombose, o que acontece é que algumas, por questões próprias delas, têm esse risco aumentado”, comenta.

Sintomas da trombose venosa cerebral

O principal sintoma do problema é dor de cabeça contínua e muito forte, conforme ocorreu no caso da universitária. “Tem que tomar cuidado com o diagnóstico errado da dor de cabeça. É comum as pessoas ficarem tomando remédio para enxaqueca para controlar a dor quando na verdade é um sintoma da trombose”, explica Faria.

Além disso, alterações neurológicas variadas, como de movimento, sensibilidade, visão e fala, também são sintomas. A orientação do neurologista é procurar um médico assim que identificar uma dor de cabeça incomum. Caso não identificada e tratada a tempo, a trombose pode deixar sequelas gravíssimas e inclusive matar.

Sintomas da trombose venosa na perna

No caso de Juliana, a trombose aconteceu em uma veia do cérebro, mas a incidência de trombose na perna é muito maior. Entre as características da trombose na perna estão inchaço em uma das pernas, dor e cor avermelhada ou arroxeada.

Trombose arterial e venosa: qual é a diferença?

Existem dois tipos de trombose: a venosa e a arterial. Nos casos de trombose decorrente do uso de anticoncepcional, trata-se trombose venosa porque é a que ataca fatores de coagulação. Já a arterial é decorrente de alterações nas plaquetas.

Riscos do anticoncepcional

A maioria dos anticoncepcionais tem progesterona combinada ao estrógeno, o que aumenta os riscos de trombose.

“O que varia de um anticoncepcional para outro é o tipo de progesterona, porque os remédios mais modernos nunca têm mais de 50mg de estrogênio. O Levonogestrel é o que menos aumenta o risco de trombose”, afirma a ginecologista Elizabeth Trezza.

De acordo com a médica, o risco de trombose varia conforme a idade. Em mulheres com menos de 30 anos que não tomam anticoncepcional, a incidência é de 1 a 2 casos a cada 10 mil.

Pílulas mais perigosas

Quando a mulher passa a tomar um anticoncepcional com levonogestreal, a incidência aumenta para 2 a 4 casos a cada 10 mil. Já os medicamentos com drospirenona, como Yaz, Yasmin, Elani e Iumu, desogestrel e ciproterona, como o Diane, aumentam a incidência para 4 a 8 casos a cada 10 mil mulheres.

O medicamento que Juliana tomava era o Yaz que, por ter drospirenona na fórmula, é considerado um dos mais perigosos.

Substitutos do anticoncepcional

A ginecologista também explica que quem tem casos pessoais ou na família de trombose deve optar por anticoncepcionais que não são combinados, ou seja, têm só progesterona ou até mesmo o Diu de cobre, que não tem hormônio.

Entre as opções de anticoncepcionais estão o Cerazzete, que é de via oral, o Diu Mirena, que é colocado no útero, e injeções que contenham apenas progesterona.

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