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"Quem viu entendeu mais sobre violência doméstica", diz delegada do caso BBB 17

Publicado 11 Abr 2017 – 03:30 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:29 AM EDT
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Quem acompanha a edição 17 do "Big Brother Brasil", da TV Globo, presenciou por diversas vezes as discussões do casal Marcos Harter e Emilly Araújo, que foram se tornando cada vez mais constantes e agressivas.

Depois da festa do último sábado (8), algumas imagens causaram indignação. Em uma delas, Marcos encurralava Emilly, com o dedo em seu rosto, gritando e visivelmente descontrolado. Em outra, ele a deitou, se posicionou por cima, a imobilizou e, enquanto segurava a cabeça dela e sacudia contra o chão, repetiu diversas vezes que era para ela ficar quieta, enquanto ela reclamava que ele a estava apertando e machucando.

Nas redes sociais, o assunto ganhou força e chegou até a delegada Márcia Noeli, diretora da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher do Rio de Janeiro, que assistiu aos vídeos e concluiu que as imagens eram suficientes para comprovar o caso de violência contra a mulher. Assim, ela determinou que a delegada Viviane da Costa Ferreira, da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá, bairro mais próximo aos estúdios do programa, fosse até a casa do "BBB" na segunda-feira (10) para conversar com os participantes e apurar o caso.

Em entrevista ao Vix, Márcia explicou o que acontece a partir de agora e ainda avalia como positiva a conscientização das pessoas a partir do fato público.

Marcos expulso do BBB

A expulsão de Marcos foi anunciada pelo apresentador Tiago Leifert logo na abertura do programa. "A Delegacia da Mulher esteve aqui e concluiu que há indícios de agressão física, principalmente depois do que aconteceu na última festa de sábado e na madrugada de domingo. Só queria dizer pra você, Emilly, que nesses casos, a nossa casa está inserida num conceito maior, que é o conceito da Lei", disse.

De acordo com a delegada, depois de sair da casa Marcos foi intimado para comparecer à Delegacia de Mulheres na quarta-feira (12) para prestar depoimento. Já Emilly, que continua no programa, foi convidada a depor na próxima segunda-feira (17).

Enquanto isso, a investigação segue acontecendo e caberá à delegada Viviane da Costa Ferreira dizer o que mais será preciso para continuar com o inquérito.

Márcia explica quais são os passos que podem ser tomados no futuro: "No final do inquérito, a delegada entendendo que ele realmente foi autor dos fatos, irá indiciá-lo, encaminhar para o Ministério Público e para o juizado. Então o juiz irá decidir o que fazer".

Caso Emilly e Marcos no BBB

Um exame de corpo de delito foi feito dentro da casa, mas o resultado ainda não saiu. Além disso, foi feita uma análise das filmagens. "Também pedimos outros vídeos para vermos outras tantas ações do Marcos e avaliarmos se houve mais atos de violência doméstica, para que tudo possa ser colocado no inquérito que já está instaurado. O laudo médico também será acrescentado", diz.

Mesmo sem ter ainda o resultado desse exame, o apresentador Tiago Leifert, ao explicar a expulsão, disse que as agressões físicas a Emilly foram comprovadas. A delegada explica que isso aconteceu por causa das imagens. "Quando o assunto foi colocado nas redes sociais, muita gente veio me dizer que teve um caso de violência contra a mulher no programa. Comecei a ver partes de vídeos na internet… Ele com o dedo em riste, ele dizendo que ela era culpada e outros atos típicos de violência psicológica. Tem uma imagem em que ele segura o braço dela, depois tem do braço dela roxo. Quando se trata de violência psicológica, ameaça, injúria, só a própria vítima pode ir à delegacia registrar queixa. Mas quando se trata de lesão corporal, não. A polícia age e, sabendo dos fatos, vai investigar. Foi exatamente o que aconteceu", afirma.

Pena para Marcos Harter

De acordo com a delegada, o fato das atitudes violentas de Marcos contra Emilly terem acontecido em frente às câmeras é uma prova a mais no caso. "A violência doméstica é sempre entre quatro paredes e fica a palavra de um contra a palavra do outro. Por isso a primeira coisa que fizemos foi pedir as imagens para que a gente pudesse colocar isso dentro do inquérito", explica. 

Sobre a possibilidade de Emilly inocentá-lo em seu depoimento, ela diz que realmente existe essa hipótese, mas a declaração da vítima não é a única prova. "Pode até acontecer em outros casos, quando cada uma das partes fala uma coisa. Mas, nesse, temos vídeos e outras tantas provas. Outros participantes do programa também podem ser convidados para depor", diz.

Em um caso como o dele, se houver condenação pelo juiz, a pena pode ser de 1 a 3 anos de prisão, de acordo com a Lei Maria da Penha.

Relacionamento abusivo

Ao saber da expulsão de Marcos do BBB, Emilly ficou se sentindo mal e culpada. Antes, ao ser chamada no confessionário para falar sobre a situação, ela havia dito que preferia conversar com ele fora da casa para não atrapalhá-lo no jogo. "Ela não se vê como vítima. Ela acha que é culpada", diz. 

Assim como Emilly, muitas mulheres que estão em um relacionamento abusivo também não conseguem se enxergar como vítimas. É comum que pensem que não é violência doméstica quando o homem xinga, ameaça, faz tudo isso. Mas é importante ressaltar que há diversos tipos de violência, como verbal, psicológica, e em todas elas é possível denunciar o agressor.

O caso de violência no Big Brother acabou servindo de alerta. "Infelizmente aconteceu em rede nacional. Não deveria ter acontecido, mas, sendo em uma casa pública, com todo mundo assistindo, certamente quem viu entendeu mais sobre a questão de violência doméstica. E é bom ver a mídia aproveitar a oportunidade para falar do tema, explicar que esse é um caso de violência, sim, para que as vítimas possam entender e denunciar", finaliza Márcia. 

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