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Assédio, abuso, estupro: como o cinema e a TV estão machucando cada uma de nós?

Publicado 7 Abr 2017 – 05:03 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:31 AM EDT
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O machismo ainda está presente na sociedade de um modo geral e, em alguns ambientes profissionais, é ainda mais evidente. No meio artístico, o relato recente de uma figurinista assediada pelo ator José Mayer fez com que outras mulheres resolvessem falar sobre o tema.

Assédio na TV e no cinema

A figurinista da Rede Globo Su Tonani, em um texto publicado no blog #AgoraÉQueSãoElas, do jornal Folha de S. Paulo, contou com detalhes algumas situações das quais foi vítima. Segundo ela, Mayer começou com elogios, que passaram a ser mais desrespeitosos, até que ele chegou a colocar a mão em sua genitália.

Após o assunto vir à tona, diversas atrizes saíram em apoio a Su e algumas deram a entender que esta não era a primeira vez que o ator tinha esse tipo de atitude. "José Mayer não se emenda, hein?", escreveu a atriz Letícia Sabatella, que declarou seu apoio à figurinista.

A atriz e roteirista da Globo Alessandra Colasanti também publicou um desabafo em seu Facebok. "Imagina se rolasse a campanha 'meu primeiro assédio no trabalho', não ia sobrar pedra sobre pedra. Eu já fui assediada por diretores tanto de teatro quanto da Rede Globo. quem nunca?", escreveu.

Campanha "Mexeu com uma mexeu com todas"

Além das atrizes, funcionárias da Rede Globo se uniram em um protesto contra o assédio. Produtoras, diretoras, camareiras, entre outras profissionais fizeram camisetas com a frase "Mexeu com uma mexeu com todas", que também foi postada nas redes sociais. A emissora divulgou um comunicado dizendo aprovar o movimento.

Dias depois, a atriz Lady Francisco, 82 anos, deu uma entrevista ao blog Paulo Sampaio, do UOL, e contou que foi estuprada por um diretor muitas décadas atrás, mas não quis citar nomes. "Ele disse que queria conversar comigo sobre trabalho. Eu, ingênua, sonhava com uma oportunidade. Ele me levou para um lugar distante, de carro. Só quando me vi fechada no quarto com ele, entendi do que se tratava. Fiquei tão horrorizada que não consegui ter reação nenhuma. Senti um misto de pavor, nojo e humilhação", lembrou.

Questionada sobre não ter denunciado na época, ela explicou seus motivos. "Quem acreditaria em mim? Iam dizer: 'Essa aí mal chegou e já está aprontando'. Mas hoje eu faria um escândalo. Tenho muito orgulho de ver como a mulher evoluiu na defesa da própria dignidade", disse.

Casos de assédio fora do Brasil

No exterior, algumas famosas também estão denunciando casos de assédio sexual, alguns ocorridos no passado, mas que só recentemente vieram à tona.

A atriz Maria Schneider que, aos 19 anos, protagonizou o filme "O Último Tango em Paris" ao lado do ator Marlon Brando, em 1972, foi violentada em cena pelo colega, mas só falou abertamente a respeito em 2007. Ela disse que, mesmo não tendo consentido, a cena foi feita. E, ao jornal britânico Daily Mail, contou que teve consequências psicológicas e ficou com vários traumas. "Me senti humilhada e um pouco violentada".

Na época em que o filme foi lançado, os atores se calaram a pedido do diretor, Bernardo Bertolucci, que foi quem orientou que a cena tivesse um estupro real. "Queria sua reação como menina, não como atriz. Que ela sentisse, e não representasse, a raiva e a humilhação", confirmou ele em 2016, quando Schneider já tinha falecido. O diretor disse ainda que se sentia culpado, mas que não se arrependia do que fez.

A atriz Tippi Hedren, hoje com 87 anos, fez os filmes "Os Pássaros" (1963) e "Marnie" (1964) com o diretor Alfred Hitchcock, falecido em 1980. Em sua recém-lançada biografia, ela contou que foi sexualmente abusada durante as gravações. Tippi nunca tocou no assunto por achar que sua denúncia não teria relevância, principalmente por se tratar de um diretor conhecido e muito mais famoso que ela. 

Quem também passou por um caso de abuso nos sets de filmagem e acabou se calando foi a atriz Judy Garland, do filme "O Mágico de Oz". Seu ex-marido, Sid Luft, falecido em 2005, deixou escritas algumas memórias que serão publicadas em livro. Entre elas estão revelações contadas a ele pela atriz, que disse que os colegas que interpretavam os anões "munchkins" no filme colocavam a mão por baixo de seu vestido e a molestavam durante as filmagens. "Eles tinham mais de 40 anos. Ela tinha 16. Fizeram a vida de Judy um pesadelo", escreveu.

Um caso mais recente que virou polêmica foi o do ator Casey Affleck, premiado com um Oscar por sua atuação no filme "Manchester à beira-mar". Affleck foi acusado de assédio sexual em 2010 por Amanda Withe, que trabalhou com ele em um documentário. Muitas mulheres, entre elas algumas atrizes americanas, criticaram a decisão da Academia de Cinema ao escolher premiar um homem envolvido nesse tipo de denúncia. “Porque uma boa interpretação vale mais do que a humanidade e a integridade humana”, escreveu no Twitter a atriz Constance Wu. 

Todos essas histórias chocam principalmente por mostrarem que o machismo ainda está presente em ambientes de trabalho, mesmo nos que são tidos como mais abertos e modernos, como o cinema ou na televisão. Mostram também que fatos como esses acontecem há muito tempo e são mais comuns do que se imagina. Por isso a importância dos movimentos que lutam contra o assédio e encorajam cada vez mais as mulheres a não se intimidarem e denunciarem sempre que algo acontecer.

Mais informações e relatos de assédio:

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