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cultura do estupro-Mulher

Mulher é estuprada por ex-namorado e juntos escrevem livro para alertar outras pessoas

Publicado 23 Fev 2017 – 03:00 PM EST | Atualizado 14 Mar 2018 – 09:19 AM EDT
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A imensa maioria dos casos de estupro não tem nenhuma perspectiva positiva. A exceção é o caso da islandesa Thordis Elva. Ela foi estuprada pelo seu namorado quando tinha 16 anos. Duas décadas depois, os dois se encontraram, ele reconheceu seu erro e os dois decidiram escrever um livro e dar palestras sobre consentimento para alertar outros homens e cessar a violência sexual contra a mulher.

O caso é de 1996, quando Elva tinha 16 anos e namorava o australiano Tom Stranger, de 20 anos, que estava na Islândia em um intercâmbio. Os dois namoraram por pouco mais de um mês e foi na noite do baile de formatura da escola que tudo aconteceu.

Elva, que não tinha o hábito de beber, ficou embrigada e Tom se aproveitou deste momento de fragilidade para estuprá-la. “Era como um conto de fadas, seus braços fortes ao redor do meu corpo, me colocando com segurança na minha cama. Conforme ele tirava a minha roupa e se colocava sobre mim, minha cabeça começava a clarear, enquanto meu corpo permanecia fraco demais para lutar e a dor me cegava. Para ficar sã, contei silenciosamente os segundos do meu relógio. E desde aquela noite, sei que duas horas têm 7.200 segundos”, relembra ela.

Na época, o namorado não reconheceu a violência cometida e, pouco tempo depois, voltou para a Austrália e eles perderam o contato.

Elva, no entanto, não esqueceu daquela noite e demorou a aceitar que tinha sido vítima de um estupro. “Eu fui criada em um mundo no qual meninas são estupradas por algum motivo. Sua saia muito curta, seu sorriso muito largo, seu hálito cheirando a álcool. E eu era culpada de todas essas coisas, então a vergonha deveria ser minha”, explicou.

O desfecho da história só ocorreu nove anos depois quando Elva, ainda incomodada com tudo o que havia acontecido e convencida de que tinha sido vítima, decidiu escrever um e-mail para o seu agressor e ex-namorado explicando o quanto tinha sido afetada por aquela noite e o quanto as atitudes dele tinham sido problemáticas e violentas.

Tom respondeu, eles mantiveram contato e, quatro anos depois, os dois decidiram se encontrar pessoalmente. No encontro, Tom reconheceu que tinha cometido um grande erro. “Tenho vagas lembranças do dia seguinte. Os efeitos da bebida, um certo vazio que tentei ignorar. Mais nada. Mas eu não apareci na porta da Thordis. É importante declarar agora que eu não via meu feito como o que ele foi. Eu rejeitei a verdade convencendo-me de que era sexo e não estupro. Foi uma mentira da qual me senti culpado”, comenta sobre a situação.

No encontro, Elva e Tom perceberam que precisavam falar sobre consentimento para outras pessoas utilizando a história vivida por eles. Por isso, decidiram publicar um livro e dar palestras. Recentemente, os dois participaram de um TEDTalk (conferências que divulgam ideias que podem mudar o mundo), agora disponível no YouTube.

“Já está na hora de pararmos de tratar violência sexual como um problema das mulheres”, suplicou Elva na participação. Enquanto Tom relembrou a situação e faz um alerta importantíssimo: “Mas o mais importante, a culpa da Elva foi transferida pra mim. Muitas vezes, a responsabilidade é atribuída a mulheres sobreviventes de violência sexual, e não aos homens que a cometeram. Fui criado em um mundo onde as meninas são informadas de que foram estupradas por alguma razão. Sua saia era muito curta, seu sorriso era muito grande, sua respiração cheirava a álcool. Mas eu era o culpado de todas essas coisas. Então, a vergonha tinha que ser minha. Muitas vezes a responsabilidade é atribuída a mulheres que sobreviveram a ataques sexuais e não aos homens que as atacaram”.

Machismo mata

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