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Relato íntimo de estupro gera ofensas, mas famosa dá resposta incrível: "Vamos nos unir"

Publicado 13 Jan 2017 – 09:41 AM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Na última semana, a atriz Giselle Itié contou detalhes sobre o estupro do qual foi vítima na adolescência. A repercussão da história, no entanto, teve alguns desdobramentos desagradáveis. Entre os comentários feitos nas redes sociais e nos veículos de comunicação que divulgaram o relato, a atriz notou que existia muita ofensa entre as mulheres. Foi exatamente por isso que ela resolveu se pronunciar mais uma vez.

Giselle Itié estuprada aos 17 anos

Cocriadora do coletivo Hermanas no Brasil, braço de um movimento de mulheres argentinas, Giselle se envolveu com mais entusiasmo no feminismo em maio de 2016, depois das manifestações de solidariedade à adolescente que foi vítima de um estupro coletivo no Rio de Janeiro.

Em outubro, depois de outra adolescente ser estuprada e morta na Argentina, a atriz se aproximou do Grupo Mulheres do Brasil e no comitê de Combate à Violência Contra a Mulher, produziu uma série de vídeos chamando para as manifestações que aconteceriam e outros com o intuito de conscientizar a população sobre a violência de gênero.

Em uma dessas gravações, Giselle contou resumidamente que ela tinha sido estuprada pela pessoa que menos esperava: seu ex-namorado.

Em janeiro, a atriz foi convidada pelo site da revista Glamour para escrever um texto contando os detalhes do episódio. Nele, além de contar como tudo aconteceu, Giselle fala da necessidade de a sociedade mudar a forma como trata as mulheres.

A repercussão da história, no entanto, teve alguns desdobramentos negativos, já que muitas pessoas passaram a descreditar o relato da atriz. Na tentativa de desconstruir as ideias de que a culpa é da vítima, muitas mulheres acabaram ofendendo umas às outras.

Foi para provocar uma reflexão sobre a necessidade de falar sobre respeito e saber respeitar que Giselle, mais uma vez, se manifestou.

Texto de Giselle Itié sobre sororidade

No texto publicado em seu Instagram, além de explicar o que é o feminismo e o porquê de ele ser importante no cenário que vivemos, e o que é o machismo, Giselle disse o quanto é triste ver que algumas mulheres, ao se depararem com uma história de abuso ou estupro, duvidam da vítima ou tentam, de alguma maneira, culpabilizá-la.

“Quando leio comentários de mulheres julgando o abuso que sofri e/ou violência que a mulher sofre todos os dias. Julgando como? Reagindo com insensibilidade e indiferença. Acreditando que a vítima 'ajuda' para que o agressor seja violento. Bem, é muito frustrante perceber esse tipo de reação ainda mais de mulheres”, escreveu.

Mas, a atriz também fez o contraponto e lembrou que muitas vezes essas pessoas não reagem assim por mal, elas foram ensinadas e reproduzem um discurso muito comum. E é exatamente por isso que precisam de ajuda para entender como a questão é maior e merece mais atenção – e respeito, é claro.

“Para ajudar a me explicar, segue um texto do site 'naomecalo.com': Lembra quando reproduzíamos um machismo ferrado ao falarmos que mulher tem que se dar o respeito? 'Ué, não quer engravidar, que tome as devidas precauções, que não abra as pernas', 'Nossa, vai sair com essa roupa? Está parecendo uma vadia!'. Vamos fazer uma dinâmica? Fechem os olhos e tentem se lembrar da época em que não conheciam o feminismo, e quando até conheciam, mas achavam que era um movimento de mulheres infelizes e insatisfeitas com a vida. E aí, lembraram? Lembrem-se também do momento em que foram salvas, em que uma mão amiga foi-lhes estendida mostrando-lhes o caminho; de um artigo sobre feminismo lido após aquela manchete de feminicídio que ficou em sua cabeça por dias; então de quando algo se encaixou e tudo fez sentido: de repente aquelas mulheres não eram mais loucas, insatisfeitas e infelizes, eram guerreiras que lutavam por um bem coletivo. Então vocês se aprofundaram mais ainda na questão de gênero, ingressaram em grupos feministas, debateram, desconstruíram e conheceram a palavra sororidade'”, colocou.

Por fim, Giselle ainda somou essas duas questões e mostrou que é muito importante ter sororidade – palavra usada para simbolizar a união entre as mulheres. E ela pode ser aplicada por aquelas que julgam e culpam a vítima, mas também por aquelas que já têm consciência das violências que as mulheres sofrem e podem levar esse conhecimento para outros grupos.

Leia texto na íntegra:

"Sobre os comentários agressivos e equivocados de Mulheres em relação a um texto que escrevi sobre um abuso sofrido por uma menina de 17 anos. Eu.
S O R O R I D A D E
É a união, a aliança FEMINISTA entre mulheres.
Feminista? É uma Pessoa que acredita na IGUALDADE de direitos entre Mulher e Homem.
Voltando para a ideia de irmandade, a Sororidade é muito importante para nós Mulheres combatermos a sociedade Machista.
Machista? É uma Pessoa que recusa a igualdade de direitos entre Mulher e Homem. Acreditando que o homem é superior à mulher.
Agora sim, voltando a Sororidade (ufa!)
Quando Nós Mulheres somos unidas e levantamos a bandeira à favor da nossa liberdade e igualdade de gêneros. Nós Mulheres nos tornamos mais fortes para combater a Sociedade Machista.
Quando leio comentários de Mulheres julgando o abuso que sofri e/ou violência que a Mulher sofre todos os dias. Julgando como? Reagindo com insensibilidade e indiferença. Acreditando que a vítima "ajuda" para que o agressor seja violento.
Bem, é muito frustrante perceber esse tipo de reação ainda mais de Mulheres. Percebo que as Mulheres Não Machistas também se sentem agredidas e de alguma forma se distanciam das Mulheres Machistas.
E eu me pergunto, cadê a Sororidade?
Mas não pergunto para essas Mulheres Machistas e Equivocadas. Pergunto para nós, Mulheres que se sentem agredidas pelas Machistas.
Cadê a Sororidade?
Para ajudar a me explicar, segue um texto do site "naomecalo.com": Lembra quando reproduzíamos um machismo ferrado ao falarmos que mulher tem que se dar o respeito? “Ué, não quer engravidar, que tome as devidas precauções, que não abra as pernas”, “Nossa, vai sair com essa roupa? Está parecendo uma vadia!”. Vamos fazer uma dinâmica? Fechem os olhos e tentem se lembrar da época em que não conheciam o feminismo, e quando até conheciam, mas achavam que era um movimento de mulheres infelizes e insatisfeitas com a vida. E aí, lembraram? Lembrem-se também do momento em que foram salvas, em que uma mão amiga foi-lhes estendida mostrando-lhes o caminho; de um artigo sobre feminismo lido após aquela manchete de feminicídio que ficou em sua cabeça por dias; de um artigo sobre feminismo lido após aquela manchete de feminicídio que ficou em sua cabeça por dias; então de quando algo se encaixou e tudo fez sentido: de repente aquelas mulheres não eram mais loucas, insatisfeitas e infelizes, eram guerreiras que lutavam por um bem coletivo. Então vocês se aprofundaram mais ainda na questão de gênero, ingressaram em grupos feministas, debateram, desconstruíram e conheceram a palavra sororidade. Essa palavra tão foneticamente bonita e de um significado representativo que veio para quebrar totalmente um dos braços mais fortes do patriarcado: a rivalidade entre mulheres. Um dos mais fortes, porque é praticamente um escudo contra o verdadeiro opressor, que faz-nos lutar uma contra as outras enquanto o que tem que ser destruído - esse sistema que estupra mulheres a cada 12 segundos - está mais firme e forte do que nunca. Por isso, vamos nos unir e tentar despertar essas mulheres que estão há muito tempo apagadas pela sociedade machista".

Estupro é coisa séria

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