null: nullpx
crise-Mulher

Viajar, comprar e conseguir crédito: como crise do Governo mexerá com seu bolso?

Publicado 18 Mai 2017 – 02:31 PM EDT | Atualizado 13 Mar 2018 – 04:42 PM EDT
Compartilhar

O novo escândalo que atinge o governo de Michel Temer é o mais grave desde sua posse, pouco mais de um ano atrás. A denúncia de que o presidente seria conivente com propinas pagas a Eduardo Cunha e Lucio Funaro abre um abismo de incertezas no governo federal e afeta diretamente a economia brasileira.

Menos de 24 horas depois da revelação do grampo ao presidente Michel Temer, o dólar já subiu quase 8%, batendo no teto cambial deste ano, de R$ 3,40. A BM&FBovespa, que negocia as ações das empresas e do Estado brasileiro e é a quinta maior bolsa de valores do mundo, opera em queda de mais de 10% - chegou a ter suas atividades interrompidas ao longo do dia.

Entenda como isso reflete na sua vida.

Dólar

O dólar já abriu o dia em alta, chegando ao valor de R$ 3,40 na bolsa. Nas operadoras de câmbio, o seu preço chegou a patamares bem mais altos: R$ 3,94 às 10h40 na Confidence Cambio, R$ 3,84, no mesmo horário, na Get Money e R$ 3,76 às 11h na Treviso, segundo informa a agência Reuters.

Continuará a subir e depois cairá um pouco

“Câmbio está em torno de R$ 3,40, mas deve subir até R$ 3,50 ou até mais nos próximos dias ou semanas. Mas, depois, deve cair e estabilizar em um patamar mais baixo, mas, ainda assim, superior aos R$ 3,10 que estava”, prevê Guilherme Mello, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica. “Isso depende da gravidade e da duração da crise política”.

Isso significa que a variação do real perante ao dólar está à mercê da instabilidade política do governo Temer. Se não houver um fato novo tão impactante, se prevê que a desvalorização do real pode durar até três meses antes de se recuperar e estabilizar.

Viagem internacional e compras

Quem já tem viagem marcada deve sofrer as consequências dessa turbulência política. É provável que haja uma variação para cima do dólar e as operadoras de câmbio devem negociá-lo acima dos R$ 4,00.

Produtos importados também terão impacto imediato no preço final ao consumidor. Na inflação geral, a desvalorização do real deve pesar dentro de dois a três meses, tornando esses bens de consumo mais caros.

Lado positivo

Para os economistas que acreditam que a moeda brasileira estava sobrevalorizada, esta queda do real perante ao dólar pode gerar uma janela de oportunidade para a indústria brasileira. “Com o real caro, os produtos brasileiros perdem competitividade em relação aos importados e ficamos presos ao modelo de venda de commodities [matéria-prima]”, explica o economista. “A desvalorização da moeda, junto de outras medidas necessárias, pode ser ferramenta para uma retomada da industrialização”.

Inflação

O impacto inflacionário da crise política não deve ser tão intenso. “Não é um fator tão preocupante por enquanto. A inflação deve seguir na meta, talvez no limite dela”, afirma Guilherme Mello. A meta prevista pelo governo federal para 2017 é de 4,43%.

Elevação será sentida a partir de agosto

A desvalorização da moeda irá elevar um pouco a inflação no Brasil a médio prazo, seu impacto inflacionário mais direto será, de fato, em produtos importados para o consumidor final. Na roda da economia, os sinais devem surgir a partir de agosto.

“Os contratos têm prazos já fechados com a taxa de câmbio anterior. Os novos contratos e as novas compras começam a dar sinais a partir do segundo ou terceiro mês”, explica o professor da Unicamp.

Garantir o cumprimento da meta da inflação é uma das promessas da gestão de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. Portanto, se prevê que o Banco Central aja nesse sentido e torne mais lento o processo de queda da taxa básica de juros Selic.

Para conseguir crédito

O Banco Central determina a taxa de juros Selic. Essa taxa tem tendência de queda desde o início do ano, quando apontava 13,25%, em janeiro. Atualmente, a taxa de juros anual é de 11,15% e os analistas econômicos previam que cairia até 8,75% em dezembro. Pois é, previam.

A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que determina a taxa Selic, está marcada para os dias 30 e 31 de maio. A expectativa era de que houve queda de 1.25 pontos percentuais. Agora, se prevê que caia 1 ponto percentual e os analistas mais pessimistas já afirmam que terá queda de 0.75 ponto percentual.

“Mesmo com uma eventual queda do governo, o Banco Central segue trabalhando da mesma forma e não tem razão para segurar juros tão altos. O ritmo da queda que deve ser menor”, explica o professor da Unicamp.

Como fica na prática

Embora haja queda na taxa básica de juros, pouco isso irá refletir nos juros que você paga no cartão de crédito, cheque especial ou carnê - o que aumenta, pelo menos no primeiro momento, é o lucro dos bancos.

E mesmo com os juros mais baratos, a tendência é que o crédito fique mais difícil de conseguir e, também, mais caro. Mais uma vez, culpa é da instabilidade política econômica: quanto mais incerto mercado, menos riscos as operadores financeiras e bancos correm.

“Deve ter racionamento de crédito, os bancos vão dificultar oferta de crédito, que pode ficar mais caro e mais raro. Impacta menos o consumidor final, mas, principalmente, as empresas”, afirma Guilherme Mello. Sem crédito, a iniciativa privada tem mais dificuldade de pagar dívidas e investir. Ou seja, menos empregos a caminho.

Emprego

O desemprego hoje atinge 13,7% da população brasileira, segundo o IBGE. Isso significa que mais de 14 milhões de pessoas ativas estão procurando trabalho e não encontram. A nova crise deve elevar ainda mais este número.

“A tendência sobre a geração de emprego já era ruim, por escolhas econômicas e também por problemas na produção agrícola. Agora, deve piorar”, sentencia o economista.

Não significa que quem está empregado corre risco iminente de demissão após o novo escândalo do governo Temer. As empresas não devem demitir ninguém neste momento, contudo a capacidade de investimento delas fica comprometida com menos crédito no mercado e sem sinalização do que irá ocorrer na economia.

As empresas já fragilizadas devem seguir seus programas de demissões sem a possibilidade de conseguir novos empréstimos e as empresas saudáveis, que eventualmente planejavam expandir e contratar, devem segurar seus investimentos até haver uma definição política.

O que vai acontecer agora?

O atual momento político é mais tenso do que o processo que afastou Dilma Rousseff da Presidência. Havia, naquela oportunidade, uma sinalização de projeto, o programa “Ponte para o Futuro”, de Temer, e uma base governista definida com PMDB e PSDB. A eventual queda de Temer não deixa sinais ao mercado e ao setor produtivo sobre quem assumiria o governo. “Mesmo que não caia, o governo acabou, não tem condições políticas de tocar uma agenda. E não há nada para ocupar seu lugar”, analisa o economista.

“É um campo de incertezas profundas. No curto prazo, haverá impacto grande no mercado financeiro. A médio e longo prazo, todos os projetos de investimento devem ser adiados e até cancelados, ninguém vai investir com tamanha incerteza. Se havia alguma possibilidade tímida de recuperação econômica, agora diminui muito. Com sorte, haverá estagnação da economia”, conclui Guilherme Mello.

Política brasileira

Compartilhar
RELACIONADO:crise-Mulhereconomia-Mulher

Mais conteúdo de interesse