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Artista reconhecido, Kobra afirma: "Grafite é importante para a rua. São artes públicas"

Publicado 27 Jan 2017 – 03:32 PM EST | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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"É importante para as ruas que possamos fazer grafites”, disse Kobra, grafiteiro responsável por fazer o maior mural do mundo durante os Jogos Olímpicos de 2016 e propagar sua arte em mais de 30 países.

Em mais de 30 anos de trajetória, Kobra passou por pichação, lambe-lambe e intervenções artísticas. Em entrevista ao Vix, Kobra opinou sobre o grafite no Brasil, sua presença, objetivos e riscos. Segundo ele, o grafite pode ser considerado a “marca registrada de São Paulo” ou, ainda,  “uma galeria de arte a céu aberto”.

“O grafite foi reconhecido no Brasil pelo que os artistas fazem nas ruas. Chegou um momento em que a qualidade era tamanha (e é impossível questionar isso), que as pessoas passaram a perceber a importância desse trabalho para a cidade e para as ruas”, diz ele.

Outro grafiteiro profissional, conhecido como Gueto – ele fez pinturas ao lado d’Os Gêmeos e viagens para países da Europa e da América do Sul – também falou ao Vix a respeito da relevância do Grafite. “Grafitar é fazer onde quiser, quando quiser, com a cor que quiser. A partir do momento que tem qualquer conotação comercial, o grafite perde a essência", disse. 

Grafite ou pichação?

Existe uma grande- e importante - diferença entre Grafite e Pichação. Mas a linha é tênue, pelo menos quando se trata dos artistas. “Muita gente já começa direto no grafite hoje em dia, mas nada impede um grafiteiro migrar pra pichação depois”, conta Gueto. “Isso vira e mexe acontece, é comum”.

Fato é que a discussão sobre o que é Grafite e o que é Pichação ainda é calorosa nos dias de hoje. "Chamo de street art, porque nela já está inserida grafite, mural, intervenções, colagens, lambe-lambe. Independente do tipo de técnica, são artes públicas”, simplifica Kobra.

Gueto traça a diferença estética entre um e outro: “Pichação é uma coisa mais seca, de uma cor só, e o objetivo é espalhar bastante nome pelas quebradas. Já o grafite é parede, porta, trem, metrô e alguns lugares altos também, mas a atuação é a mesma”, explica. “A vantagem é que o grafite proporciona o lance criativo”, defende.

O grafiteiro também faz grandes murais, mas vê o grafite como uma arte de livre expressão. “É fazer onde quiser, quando quiser, com a cor que quiser. Pintar em galeria pressupõe em fazer algo para agradar outras pessoas, e não somente a mim mesmo”.

“Grafiteiros famosos por telas e grandes murais, quando fazem isso, não estão fazendo grafite. Nesse universo, todo mundo é ciente disso, até os mais famosos”, conclui Gueto.

Para os olhos da Lei brasileira, no entanto, não há muitas diferenças. Tanto um quanto outro, quando feito sem consentimento do proprietário do muro, são considerados atos criminosos, com detenção de 3 meses a um ano e multas.

Ou seja, quando alguém é pego pintando ilegalmente, o mais comum é ser encaminhado à Justiça. “Eu tenho cinco processos”, conta Gueto. “Tenho amigos, porém, que têm mais de 20."

Em cidades como Melbourne (Austrália), Copenhague (Dinamarca) e Nova York (EUA), o grafite é legal, desde que tenha autorização.

Japão, Itália e Emirados Árabes Unidos têm uma grande quantidade de grafiteiros, mas são países em que a arte de rua é proibida. Ainda assim, “eles estão começando a permitir mais. Há uma abertura no mundo inteiro para que esse tipo de arte aconteça”, diz Kobra.

Fato é que, mesmo que a notoriedade tenha dado mais espaço aos grafiteiros, Gueto acha que muita gente ainda “fica com pé atrás quando vê algum artista com spray pintando muro nas ruas.”

“Na real, somos mais insultados do que reconhecidos”, desabafou.

Grafite: história e aceitação

Quando surgiu em Nova York, nos anos 1970, o grafite tinha como principal ‘tela’ os trens da cidade.

Durante muito tempo as autoridades tentaram evitar que aquelas letras coloridas e ininteligíveis saíssem do subúrbio do Brooklyn, mas enquanto os agentes da cidade comemoravam que os trens estavam “livres do graffiti”, em 1989, suas obras já tinham invadido muros de outros lugares, prédios e até mesmo a galeria de arte.

Guerra contra o Grafite

Quarenta e cinco anos depois do prefeito de Nova York declarar guerra contra o grafite em 1972, o tema ainda causa polêmica. Naquela época, o prefeito John Lindsay começou uma enorme gastança tentando apagar os trens e capturar os artistas. Até 1989, Nova York tinha gastado mais de US$ 300 milhões nessa ‘guerra’, numa época em que os trens mal funcionavam.

Eric Felisbret, autor do livro “Graffiti New York” e tido como um historiador do tema, afirmou que “o debate sobre se grafite é arte ou crime é inútil porque, idealmente, é as duas coisas”.

Em artigo para o jornal The New York Times, Felisbret explica melhor: “poucos locais considerados ‘legais’ permitem completa liberdade criativa e muitos ‘puristas’ na comunidade do grafite sentem que as pinturas criadas com permissão não têm o espírito e a intensidade que só podem resultar da pintura sob pressão”.

“Uma pintura bem executada, feita em condições adversas e restrições de tempo é muito mais impressionante do que uma obra realizada sem risco”, explica Felisbret, contextualizando o universo dos grafiteiros.

Expressões das ruas

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