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Polêmica com apresentador que chamou Ludmilla de "macaca": gíria ou racismo?

Publicado 18 Jan 2017 – 12:15 PM EST | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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*Matéria publicada em: 18 de janeiro de 2017

Um comentário de um apresentador sobre Ludmilla virou polêmica nas redes sociais após a cantora publicar uma dura crítica ao jornalista, o acusando de racismo. A fala foi do âncora do programa Balanço Geral, da Rede Record do Distrito Federal, Marcos Paulo Ribeiro de Moraes, conhecido como “Marcão do Povo”, que acabou sendo demitido pela emissora. "Trata-se de um desrespeito absurdo, vergonhoso", disse a famosa. Porém, a emissora nega e afirma ter sido apenas uma "expressão regional".

Na segunda (9), o jornalista disse: 

“É uma coisa que não dá para entender. Ela era pobre macaca. Pobre, pobre, mas pobre mesmo. Eu sempre falo para os meus amigos: eu era pobre macaco também, eu era, hoje eu sou rico de saúde e de Deus”, disse ele durante o quadro “A hora da venenosa”.

Ele apresentava o programa com a jornalista Sabrinna Albert, que comentava sobre Ludmilla e seu relacionamento com os fãs. Sabrinna dizia que a funkeira não gostava de cumprimentar fãs e que ela tinha feito um acordo com os garçons de um bar no Rio de Janeiro, para que falassem que ela estava resfriada, se alguém pedisse para tirar fotos.

Infelizmente, ainda existem pessoas que não compreendem que a discriminação racial é crime e alguns, ainda usam o espaço...

Posted by Ludmilla on Tuesday, January 17, 2017

"Macaca": gíria ou racismo?

Apesar de ter dito "pobre macaca" e "pobre macaco", de acordo com informações do site de notícias Uol, o apresentador disse em nota que: "o termo 'macaco' é utilizado no Centro-Oeste sem teor pejorativo. Por exemplo: é bastante comum ver pessoas dizendo que 'fulano é macaco velho', pois já tem certa vivência em determinada coisa. É a mesma situação presente no vídeo, com a simples mudança do adjetivo que acompanha o termo. A acusação de racismo não procede".

No twitter, a emissora também se pronunciou desmentindo a discriminação racial por parte do apresentador Marcão, e alegando que o termo utilizado, é uma gíria da região Centro-Oeste.

“Rede RecordTV Brasília e o Balanço Geral informam que não apoiam quaisquer tipo de preconceito, independente de qual seja. Temos a plena certeza de que o apresentador @marcaoapresentadortv apenas utilizou uma expressão regional para se manifestar, sem o intuito de ofender a cantora Ludmilla ou qualquer outra pessoa”, disse a emissora.

A publicação, porém, foi tirada do ar.

O que dizem os Brasilienses

O Vix entrou em contato com diversos internautas, moradores e nativos de Brasília. A maioria deles afirmou que, apesar da expressão "macaco velho" ser comum, nunca ouviu o termo sendo usado com esta variação: "pobre macaca". 

“Nunca ouvi essa expressão sendo usada solta assim”, diz Nathalia Sobral, nascida em Brasília.

Expressão preconceituosa?

Não existe uma definição exata para a origem da expressão "macaco velho". Uma das possibilidades é que ela tenha surgido para definir pessoas que possuem muita experiência adquirida com o tempo.

Essa explicação mostra que, talvez, a origem do termo não carregue preconceito racial. Isso, contudo, se usada exatamente dessa forma e sem variações. Como o apresentador usou "pobre macaca", direcionada à uma pessoa negra, é possível que tenha carregado uma carga preconceituosa e tenha aberto possibilidades de interpretação, mesmo que ele não tenha se dado conta disso.

Por que relacionar uma pessoa negra a macaco é um problema?

Chamar qualquer pessoa de macaco é o mesmo que associar um humano a um animal irracional. Mas, chamar um negro de macaco tem alguns agravantes bastante importantes, como explica o jornalista Leandro Beguocini ao site Uol e James Bradley, ao site de notícias The Conversation

1- Relaciona a cor do macaco à cor da pele de uma pessoa.

2 - Há uma carga histórica que fez com que negros fossem relacionados a macacos. Pensando na teoria da evolução de Darwin, por muito tempo acreditou-se que os negros fossem mais próximos dos macacos, ou seja, menos evoluídos e quase uma sub-raça. Além disso, outra crença antiga é de que Deus havia criado espécies humanas separadas. “Neste esquema, os europeus brancos eram descritos como próximos aos anjos, enquanto africanos negros e aborígenes estavam mais próximos aos macacos”, disse James Bradley. 

Ludmilla sofre preconceito e fará denúncia

De acordo com a assessoria de imprensa da cantora, Ludmilla deve prestar queixa sobre o ocorrido.

A artista publicou em suas redes sociais um desabafo.

“Infelizmente, ainda existem pessoas que não compreendem que a discriminação racial é crime e alguns, ainda usam o espaço na mídia para noticiar mentiras ao meu respeito, ofender, menosprezar e propagar todo o seu ódio.

Não deixaremos impune tais atos, trata-se de um desrespeito absurdo, vergonhoso. Fica evidente que esse cidadão @marcaoapresentadortv não possui nenhum pudor ou constrangimento em ofender alguém em rede nacional.

Como já foi dito por Paulo Autran, “todo preconceito é feito da ignorância”, visto que os racistas não possuem um conhecimento de moralidade, tratando sua própria cor de pele como superior e única.

Isso tem que ser combatido e farei a minha parte, quantas vezes for necessário.”

Não é a primeira vez: No ano passado, a cantora foi vítima de um internauta em suas redes sociais, que disse “Odeio essa criola. Nojenta”. Durante a véspera de Ano-Novo, em dezembro de 2016, outra pessoa cometeu o crime de racismo contra Ludmilla, chamando-a de e “nega safada”.

Qual a punição para o crime de racismo ou injúria racial?


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Como Ludmilla deve levar a denúncia adiante, se o comentário for considerado racista pela Justiça, o autor do preconceito poderá responder processo judicial de acordo com a Lei 7.716/1989, que define o racismo como crime, e sem possibilidade de pagar fiança, explica o advogado Hugo Antonio Vieira, advogado graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo Vieira, os crimes raciais se dividem em dois: a injúria, que acontece quando é direcionada a um indivíduo apenas, com o intuito de ofender; e o racismo, que é quando atinge a coletividade e não uma pessoa em específico. Para ambos, existem diversas formas de punição, sujeito à multa, e pode levar de 1 a até 5 anos de prisão. 

Contra o Racismo

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