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Químico explica risco do vazamento de nitrato de amônio e ácido sulfúrico em Cubatão

Publicado 5 Jan 2017 – 07:45 PM EST | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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*matéria publicada em: 5 de janeiro de 2016

Colaborou Nathália Geraldo 

Nesta quinta-feira (5), um vazamento químico na unidade 2 da companhia Vale Fertilizantes provocou um incêndio e, segundo informações da própria Vale, liberou nitrato de amônio, no Polo Industrial de Cubatão, no litoral de São Paulo.

O corpo de bombeiros acrescenta que, além do nitrato de amônio, houve vazamento de ácido sulfúrico durante o incêndio. A Vale, no entanto, nega o vazamento desta substância.

As duas substâncias são tóxicas e podem causar problemas de saúde para as pessoas e impactos negativos no meio ambiente.

Em nota, a Vale confirmou às 18h33 que a emissão dos gases gerados durante a queima do nitrato já havia sido contida e a fumaça gerada, de cor laranja avermelhada e tóxica, foi dissipada na atmosfera. 

Abaixo, o mestre em biologia química Murillo Mecchi, da Universidade Federal de São Paulo, explica os riscos reais à população.

Vazamento na Vale Fertilizantes

Para tentar aplacar a fumaça alaranjada, que podia ser vista de vários pontos da região, foram enviadas 20 viaturas de São Paulo ao local, somadas a 15 da Baixada Santista.

Não houveram feridos e não houve nenhum registro de males à população até o momento, apenas um bombeiro precisou de atendimento por inalar muita fumaça, mas passa bem.

Nitrato de amônio e ácido sulfúrico

O que é

O nitrato de amônio é um dos componentes de fertilizantes usados para fortalecer solos carentes de substâncias como o nitrato e sulfato, como os que recebem plantação batata, por exemplo, mas também para a fabricação de explosivos. Não é de produção exclusiva da Vale.

Já o ácido sulfúrico é um insumo e é utilizado para a fabricação de outros ácidos e fertilizantes.

Perigo

O alerta para o vazamento, que ocorreu após forte explosão e incêndio, se dá por conta de o nitrato de amônio ser um forte oxidante, ou seja, um tipo de material que libera oxigênio rapidamente para sustentar a combustão (reação química entre uma substância e um gás) dos materiais orgânicos, podendo agravar o efeito estufa.  

Segundo a Vale, a contaminação, ou seja, o contato (vazamento) do nitrato de amônio com outros materiais (como a própria matéria orgânica)  pode promover a sua decomposição, tornando-o imprevisível e perigoso. Explicando melhor: quando ele entra em contato com outros componentes químicos específicos, se aquecido, confinado ou sob ação de agentes iniciadores (ou seja, que provoquem a reação química), pode detonar.

Quais os riscos à população

Nitrato de amônio

De acordo com um documento que explica os riscos do nitrato de amônio produzido pela própria empresa, o nitrato de amônio é asfixiante, irritante aos olhos e a mucosas, dificuldades de respiração, tosse, dor de garganta.

Se uma pessoa tem contato com a fumaça do produto, pode sofrer com irritação na pele e nos olhos. Na inalação de poeira, há irritação no nariz, garganta e trato respiratório superior.

“O nitrato de amônio é altamente solúvel em água. Por isso, ele se dissipa pela umidade do ar e acaba atingindo os olhos e o trato respiratório das pessoas que estão por perto”, explica o especialista Murillo Consolli Mecch.

“Em altas temperaturas, como neste incêndio, ele pode formar óxidos de nitrogênio, que são poluentes para atmosfera”.

Para o meio ambiente, o nitrato de amônio pode representar risco de contaminação de cursos d’água, que se tornam impróprios para qualquer finalidade.

Ácido sulfúrico

“O ácido sulfúrico é um pouco pior; além de ter o potencial de causar os mesmos problemas que o nitrato de amônio, ele é corrosivo”.Sobre a pele, ele pode produzir queimaduras graves.

As causas e os efeitos, no entanto, ainda estão sendo investigadas. Nenhum desses efeitos ao corpo ou ao meio ambiente foram confirmados até o momento.

Como a população pode se proteger?

Murillo destaca que quem mora próximo à ocorrência pode sofrer os impactos na saúde por ação desses componentes. “A orientação é tentar  evitar o contato com a fumaça, ao máximo”.

São indicados, ainda, o uso de pano molhado próximo aos olhos e à boca e a permanência em locais arejados.

Fumaça alaranjada

Com o vazamento e incêndio, as substâncias formaram uma fumaça alaranjada. A cor, de acordo com o especialista consultado pelo Vix, provavelmente se dá pela reação da combustão do nitrato de amônio. "Um dos indícios de reação química é a mudança de coloração dos compostos", explica.

Segundo o professor, ainda não é possível avaliar qual será a reação química causada pela evasão do material.

“Eles sofreram uma mudança do estado físico pela queima que podem ocasionar reações químicas; estas reações podem aumentar ou diminuir o potencial destas substâncias”.

Tudo depende das condições do ambiente, principalmente em relação à temperatura, possibilidade de chuvas e vento.

Como controlar o incêndio?

No caso de incêndio com o nitrato de amônio, é preferencial o uso de água, mas não pode ser feita em excesso, já que, em grandes quantidades, pode gerar a contaminação de lagos e rios. Também é possível utilizar produtos como pó-químico seco ou espuma.

Fontes elétricas, cigarro e isqueiros precisam ser afastados do local; também é indicado não tentar abafar o recipiente, porque o nitrato é uma fonte de oxigênio. O fogo continua e pode até aumentar.

É indicado manter o ambiente o mais ventilado possível para deixar os gases se dissiparem.  

Em nota, a Vale esclarece que “está trabalhando com o Corpo de Bombeiros e autoridades locais e não medirá esforços para minimizar os efeitos deste incidente para a população. As causas do incêndio estão sendo apuradas, bem como eventuais danos ambientais”.

Relembre casos de vazamento

Não é a primeira vez que um vazamento dessa proporção acontece na região da Baixada Santista, que abriga muitas indústrias.

Em 26 de agosto de 2016, outro acidente liberou o mesmo composto também na Vale, por uma falha de tubulação. Na ocasião, centenas de peixes do Rio Cubatão morreram. Não houve outras vítimas.A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) multou a companhia em R$ 250 mil pelo ocorrido e exigiu a correção das irregularidades identificadas após inspeção, além de medidas preventivas.

Outro acidente parecido aconteceu também em 14 de janeiro de 2016. Dessa vez, no Porto de Santos, no Guarujá. Um composto de cloro inflamável da empresa Localfrio vazou de um contêiner e mais de 50 moradores relataram casos de alergia e irritação respiratórias.

Desastres no mundo

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