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"Voo suicida": especialista cita ganância de piloto em tragédia da Chape. Leia entrevista

Publicado 1 Dez 2016 – 06:52 PM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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“Por ganância ou por aperto financeiro. Ele não poderia ter feito esse voo de jeito nenhum. Foi um voo suicida”. A opinião é do piloto Ivan Sant’Anna, autor de livros sobre acidentes na aviação, como "Caixa Preta". Em entrevista concedida ao Vix, Ivan sustenta que o piloto do avião que levava o time da Chapecoense à Colômbia teve total responsabilidade no acidente e que sua postura ao decidir fazer um voo com combustível insuficiente teria sido movida por questões financeiras.

Em sua página oficial no Facebook, o especialista declarou que não tem dúvidas sobre a causa da tragédia, apesar de ela ainda não ter sido confirmada pelas autoridades. "Geralmente eu levo meses, e não raro até mais de um ano, para ter certeza das causas de um acidente aéreo. Mas não deste em Medellín. Foi homicídio com dolo eventual, cometido pelo piloto que, caso tivesse sobrevivido, teria de pegar uma pena enorme por seu crime. Os jogadores da Chapecoense e os outros passageiros foram assassinados.”

Entenda o contexto

A causa da queda do avião que levava o time de futebol Chapecoense, jornalistas esportivos e outros convidados, oficialmente, ainda não foi divulgada pelas autoridades. As provas e análises em torno do caso, entretanto, já apontam uma conclusão: a tragédia foi motivada por falta de combustível da aeronave. 

Novos documentos dão conta de que uma funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea da Bolívia questionou o plano de voo do piloto e também dono da empresa LaMia, Miguel Quiroga.

Ela apontou que a autonomia do voo não era adequada, mas um despachante operacional repassou o recado do piloto, que havia afirmado que faria o voo em menos tempo do que previsto (veja abaixo documento com a transcrição desse diálogo).

Motivo da queda do avião da Chapecoense

O acidente da terça-feira (29), no horário de Brasília, que matou 71 pessoas, entre membros da delegação da Chapecoense, tripulantes, jornalistas esportivos e convidados, ainda gera tristeza entre todos. 

A cada momento, entretanto, o esclarecimento sobre o motivo da queda do avião vem à tona, mesmo com a possibilidade de as investigações, coordenadas pela Aeronáutica da Colômbia, demorarem até um ano para chegarem ao fim.

Para o piloto e autor de livros sobre acidentes na aviação Ivan Sant’Anna, este fator coloca o piloto Miguel Quiroga, que também morreu na tragédia, como o responsável pelo triste episódio que comoveu o mundo inteiro. Entenda o porquê e acompanhe a reconstituição dos fatos feita pelo especialista.

Reconstituição do acidente: o que aconteceu

A Chapecoense saiu de São Paulo em direção à Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. De lá, os passageiros embarcaram no avião da LaMia, uma empresa boliviana, com destino a Medellín, na Colômbia. 

Foi próximo ao aeroporto de destino que a aeronave caiu. O piloto deveria ter feito uma parada para abastecer em Cobija, na Bolívia, mas resolveu seguir direto até chegar ao espaço aéreo colombiano.

“Ele é totalmente responsável pelo acidente, ele era o proprietário e o comandante do avião e fez um voo de altíssimo risco. Se ele tivesse saído duas horas antes, poderia ter feito uma parada em Cobija para abastecer. Mas, como a chegada dos passageiros em Santa Cruz atrasou, ele não pode fazer essa parada, e ele sabia disso.”

Para Sant’Anna, o piloto Miguel Quiroga foi irresponsável ao voar com a delegação da Chapecoense sem a quantidade de combustível suficiente, em que se prevê o gasto para chegada ao destino, mais a possibilidade de um aeroporto alternativo e outros 30 minutos a mais.

Sant’Anna pondera ainda que não foi encontrado combustível nos tanques entre os destroços do avião e que, no final da mensagem que Quiroga transmite à torre, ele informa sobre “problemas com combustível”.

“Admite-se que o piloto pode ficar sem combustível se houver tempestade e ele precisar desviar, se acontecer uma pane no avião que o deixe mais lento, ou ele enfrentar uma corrente de vento”, considera. Não há informações de que o piloto tenha enfrentado nenhum destes obstáculos antes da queda.

Sant’Anna explica que, após a tragédia, alguns colegas pilotos apontaram o perfil de Quiroga como “aventureiro e irresponsável”

“Ele [Quiroga] era um ‘pirata do ar’, um piloto aventureiro, que pode ter feito isso por ganância ou por um aperto financeiro”, pontua. “Ele fretava o avião mais barato e os times de futebol entregavam seus jogadores a ele”.

 “Ele não poderia ter feito esse voo de jeito nenhum, foi um voo suicida”, completa Sant'Anna 

Combustível insuficiente para percurso

Um novo documento revelou que a insuficiência de combustível foi alertada por uma funcionária da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea da Bolívia, Celia Castedo Monasterio.

Ela questionou o despachante operacional sobre o fato de o tempo de autonomia do voo, 4 horas e 22 minutos, ser exatamente o tempo que o piloto levaria para chegar ao destino.

Alerta de funcionária 

O documento abaixo, divulgado pelo  jornal boliviano El Deber, contém as observações de Celia sobre os problemas que ela encontrou no plano de voo de Quiroga.

Ela explica a situação para o despachante Álex Quispe, tripulante da aeronave que estava dentro do voo e também morreu no acidente.

A tradução da conversa dela no item 3, que fala da autonomia do voo, com o despachante da LaMia está abaixo.

Conversa sobre o tempo de rota ser igual ao de autonomia

Funcionária: Isso não está bem. Consulte melhor e mude o plano de voo. Despachante: Sra. Celia, esta autonomia me passaram, é suficiente. Funcionária: [o tempo de autonomia] é igual ao tempo de rota Despachante: Sim, não apresento mais nada. Vamos fazer em menos tempo, não se preocupe. É assim, fique tranquila, está bem. Funcionária: Não insisto mais ao ver a obstinação do despachante.

A funcionária não teria autoridade para impedir que o voo fosse realizado. A proibição caberia ao Departamento de Aviação Civil da Bolívia. O órgão ainda não se manifestou oficialmente sobre este episódio. 

Em defesa ao piloto, a prima do comandante, Milena Quiroga, disse ao G1 Acre que culpar Miguel pelo acidente em um momento de luto "é cruel e absurdo".

"É cruel, absurdo e injusto tentar achar que ele tenha sido o causador de tudo. Se ele se arriscou, tinha algumas convicções para isso, mas é difícil e até impossível mensurar isso nesse momento. É cruel tentar achar um culpado, pois, uma tragédia dessas acontece após uma série de fatores que ainda devem ser analisados", afirmou.

Tragédia com a Chapecoense

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