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Em detalhes: o que é pane seca e como ela pode ter causado queda de avião da Chape

Publicado 30 Nov 2016 – 03:15 PM EST | Atualizado 28 Mar 2019 – 12:16 PM EDT
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As investigações sobre a causa do acidente do avião fretado pela Chapecoense ainda são iniciais. Apesar disto, uma das hipóteses considera “pane seca” como um possível motivo para a queda da aeronave que matou pelo menos 70 pessoas, entre elas, jogadores e diretores do time catarinenses, jornalistas esportivos e convidados.

O presidente da Associação de Aviadores Civis da Colômbia, Jaime Alberto Sierra, levantou essa possibilidade em entrevista à TV colombiana Caracol. O jornal El Tiempo, também da Colômbia, destacou a ausência de explosões na queda do avião, o que poderia indicar falta de combustível na aeronave - que é o que caracteriza, basicamente, essa pane. 

Fato é que ainda não há um motivo oficial do acidente, que está sendo investigado principalmente pela Aeronáutica da Colômbia. O que se sabe até agora é que a autonomia de combustível das aeronaves é regulada e, se descumprida esta regra de segurança, a empresa aérea e o piloto podem ser responsabilizados pelas consequências. 

Abaixo, entenda o que é a pane seca, como é feito o planejamento de uso de combustível antes mesmo de o avião decolar e o que pode ter acontecido no avião momentos antes da tragédia.

Por que o avião caiu? Entenda possível motivo

De acordo com informações da imprensa colombiana, o avião da empresa LaMia que levava a equipe da Chapecoense, jornalistas e outros convidados, demorou a pedir prioridade de pouso no aeroporto de Medellín, na Colômbia, mesmo estando com falta de combustível. Outro avião solicitou primeiro e ganhou a preferência, justamente pelo mesmo motivo.

O avião da Chapecoense caiu em uma região montanhosa de Medellín. Ele tinha capacidade para 95 pessoas, mas 77 passageiros embarcaram. Até o momento, foram confirmadas 71 mortes e seis feridos.

Pane seca e falta de combustível

A falta de combustível, também chamada de pane seca, é uma das possíveis causas da tragédia, que ainda está sendo apurada. 

O comandante George Barros, especialista em segurança de voo, explica que todos os voos civis, sejam comerciais, particulares ou fretados, precisam seguir uma regra que define o quanto a aeronave deve ter de combustível para uma viagem.

“É preciso ter combustível suficiente para chegar ao aeroporto de destino, para um aeroporto alternativo e mais 30 minutos de autonomia”, explica, se referindo a voos a jato, como o da Chapecoense. 

Se o equipamento é à hélice, este tempo de autonomia requerido é de 45 minutos.

Apesar disto, o comandante destaca que é comum que os aviões transitem pelo ar sem o “tanque cheio” e que este é um procedimento de praxe entre os pilotos civis. “Muitos trabalham no limite [do mínimo]”.

“Um Boeing que sai de São Paulo para o Rio de Janeiro, por exemplo, pode ter autonomia de combustível para ir até a Europa; entretanto, ele não vai abastecer totalmente, porque combustível pesa”, esclarece.

A quantidade de passageiros embarcados também faz parte desta equação. “Não existe nenhum avião que consiga colocar todos os tanques e todos os passageiros”, comenta. “Senão, ele vai além da sua capacidade”.

Parada para abastecer

O planejamento de voo feito pelo piloto e também dono da empresa LaMia, Miguel Alejandro Quiroga Murakami, previa uma parada para abastecer o avião, informou o diretor da empresa, Gustavo Vargas, à imprensa colombiana. 

Inicialmente, a equipe sairia de um voo direto do Brasil a Colômbia. A Agência Nacional de Aviação Civil brasileira, a Anac, entretanto, não autorizou essa viagem, pois o avião só seria liberado para essa rota se fosse de empresa brasileira ou colombiana (e a LaMia é boliviana).

Acontece que, segundo o Globo Esporte reportou, esta mudança de planos fez com que a possibilidade de parar para abastecer em Cobija (Bolívia) ou Bogotá (Colômbia) fosse suspensa. 

“Se o piloto continuou é porque podia. Continuou e aconteceu esta catástrofe que nos machuca muito”, destacou Vargas.

“Mas se ele considerava que não tinha combustível, ele teria que ir até Bogotá para reabastecer. O aeroporto de Bogotá, de acordo com o plano de voo, era a alternativa para qualquer coisa. Antes de passar por Bogotá ele tinha de tomar a decisão, se estava com combustível teria que seguir, mas se havia algo errado com o combustível deveria parar”.

Voltas antes de pousar

Momentos antes da tragédia, o piloto precisou dar duas voltas próximas ao aeroporto de Medellín. Alguns especialistas consideraram que este procedimento poderia ter consumido mais combustível. O comandante Barros questiona essa possibilidade.

“Duas voltas não são significativas neste contexto. Mesmo porque quanto mais alto ele estiver, mais ele economiza. Por isso, quem está com combustível contado, mantém a maior altitude que puder”, avalia, informando que o procedimento tomado pelo piloto é “normal e seguro”.

“Quando se chega perto do aeroporto, se desce em espiral. Este formato serve em três situações: para descer de uma vez sem gastar tanto combustível, para descer em região de montanha, e para esperar até que o aeroporto esteja livre (em caso de chuva, por exemplo)”.

Voo “apertado”

No dia do acidente, o piloto Ivan Sant’Anna, autor de livros sobre acidentes na aviação, deu entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Ele avaliou que o piloto Miguel Quiroga teria voado com combustível “apertado”.

“Se ele tem autonomia de aproximadamente três mil quilômetros e o voo tem aproximadamente três mil quilômetros, ele não tem nenhuma margem de erro”. 

Ele descartou ainda a possibilidade de o piloto ter despejado combustível pouco antes do acidente. Segundo Ivan, essa manobra só é colocada em prática quando a pane acontece na saída da aeronave, com o avião muito pesado. 

“Na hora da chegada, ainda mais em um voo crítico como aquele, não faz o menor sentido o piloto jogar combustível fora se ele está sem combustível”. 

Quem faz esse planejamento

O cumprimento da regra de autonomia de combustível fica nas mãos do piloto ou de um despachante operacional.

Em companhias aéreas maiores, essa tarefa é designada ao despachante, mas, em casos como a da LaMia, é possível que o cálculo tenha sido feito pelo piloto, como explica o comandante Barros. 

“Em empresas pequenas, é comum que o próprio piloto faça esse planejamento, de combustível suficiente para o destino inicial, uma soma para um segundo aeroporto, mais 30 minutos de autonomia”.

Oficialmente, esse cálculo consta no plano de voo que é informado tanto ao governo do país de saída quanto o de destino. 

“Mas, na prática ilegal, infelizmente alguns não cumprem essa regra. Se ele aterrissa para abastecer, precisa pagar tarifas deste pouso intermediário. Sem contar que gasta mais combustível para subir de novo, porque vai à plena potência”.

Fiscalização

As autoridades informadas sobre o plano de voo, como o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, acreditam “de boa fé” na quantidade de combustível informada. 

“Se eles disseram que era suficiente, eles acreditam. Agora, em uma situação que há pane, por exemplo, o governo ajuda em um pouso de emergência. Só quando pousa é que um fiscal vai avaliar se houve descumprimento da regra”.

Se a regra for descumprida

Caso um avião decole sem a quantidade de combustível padrão, a empresa aérea recebe uma multa do governo e tem a responsabilidade civil. O piloto pode responder penalmente, por crime de ingerência (quando se cria um risco como resultado de uma ação anterior). Neste caso, é preciso que seja aberto um inquérito policial. 

Acidente aéreo com Chapecoense

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