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Por que piloto de avião da Chapecoense queria mudar o voo? Entenda conversas

Publicado 29 Nov 2016 – 01:30 PM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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O acidente com o avião que levava a equipe de futebol da Chapecoense para disputar a final da Copa Sul-Americana na Colômbia caiu e deixou 76 mortos, entre as 81 pessoas que estavam a bordo do voo. O jogo contra o Atlético Nacional de Medellín seria na quarta-feira, dia 30 de novembro.

Entre as informações já divulgadas, está um áudio do piloto e dono do avião que caiu, Mick Quiroga, conversando com o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon.

Mudança de rota do avião da Chapecoense: entenda o caso

A Chapecoense e profissionais da imprensa que acompanhavam o time fizeram dois voos. O primeiro, um voo comercial da companhia boliviana BoA, saiu de Guarulhos, em São Paulo, e foi até Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Lá, um avião fretado da empresa também boliviana LaMia os aguardava para o voo até Medellín, na Colômbia, que acabou caindo em uma região montanhosa antes de chegar ao destino.

A aeronave era um modelo Avro Regional Jet 85, também conhecida como Jumbolino, de matrícula CP-2933, produzido pela British Aerospace, com capacidade para 95 pessoas.

Inicialmente, o piloto queria autorização da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para que o avião fretado da Bolívia viesse ao Brasil para pegar a equipe e fazer um voo direto até Medellín - o que não foi autorizado.

Em comunicado oficial à imprensa, a Anac explica que, segundo regras do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer) e da Convenção de Chicago, só é possível fretar um avião caso ele seja do país de onde o voo está saindo (no caso, o Brasil) ou do destino final (no caso, a Colômbia). Como o avião era boliviano, não houve essa autorização.

O time tinha a opção de fretar outro avião, de origem brasileira ou colombiana, mas permaneceu com a boliviana LaMia, já conhecida da equipe.

Por que o piloto pediu a mudança de rota mesmo sabendo que era contra as regras nacionais?

Uma situação parecida aconteceu em outubro passado quando, depois de jogar contra o time do Cruzeiro pelo Campeonato Brasileiro, a Chapecoense teria de ir à Colômbia para um jogo da Sulamericana. Foi solicitado que esse avião da empresa boliviana buscasse os jogadores na capital mineira para que fossem direto à Colômbia, mas a Anac negou. Eles foram, então, até Corumbá, no Mato Grosso do Sul, cruzaram a fronteira de ônibus e, já na Bolívia, pegaram o voo neste mesmo avião.

Na volta, houve a autorização, e os jogadores seguiram no avião boliviano direto para Foz do Iguaçu, onde fizeram os procedimentos de imigração e pegaram outro voo de uma empresa brasileira até a cidade de Chapecó.

O piloto, então, tentava conseguir novamente esta autorização para o voo da volta, já que a ida direta já havia sido negada.

Conversa do piloto da Chapecoense

No áudio, divulgado pelo telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, é possível ouvir o piloto pedindo ajuda ao prefeito de Chapecó para conseguir o voo direto da Colômbia a Foz do Iguaçu quando o time retornasse ao Brasil.

Momentos antes da decolagem do Brasil, o piloto do avião boliviano enviou a mensagem ao prefeito informando sobre o voo que iria de Guarulhos a Santa Cruz e dizendo que estaria esperando a equipe na cidade para o novo voo. "Eu contratei a Boliviana de Aviação [BoA] para eles pegarem você de Guarulhos para Santa Cruz. Eu vou estar esperando aqui em Santa Cruz. Esse voo sai 15h da tarde, horário local de São Paulo."

Quiroga falou também sobre o pedido de aprovação para que, na volta, fossem novamente até Foz do Iguaçu e depois a Chapecó. "Por favor prefeito, dá uma força aí pra gente poder entrar", disse.

Essa "força" que ele pedia era uma conversa com a Anac. "Fiz contato com Anac, que explicou que a volta ainda seria resolvida, mas a ida já estava negada", explicou o prefeito, em entrevista ao telejornal. "Retornei para ele dizendo isso, que tomassem o voo e, na Colômbia, a gente falava sobre isso", disse.

O prefeito falou ainda sobre os outros voos já realizados com esse piloto e a confiança que sempre tiveram no trabalho dele. "Era uma pessoa muita calma e tranquila, explicava sobre todo o avião, tinha uma tripulação que atendia bem, não há nenhuma queixa em relação a isso, até porque, se não fosse assim, a Chapecoense não ia contratá-lo. Sempre nos atendeu muito bem", afirmou.

Áudio de piloto com prefeito de Chapecó

Confira a transcrição do áudio enviado por Mick Quiroga a Luciano Buligon:

"Eu contratei a Boliviana de Aviação para eles pegarem vocês de Guarulhos para Santa Cruz. Eu vou estar esperando aqui em Santa Cruz. Esse voo sai 15h da tarde, horário local de São Paulo, mas o processo deste outro pedido que a gente fez tem que sair, porque aí está a aprovação para a gente entrar em Foz do Iguaçu e ir até Chapecó. Por favor, prefeito, dá uma força aí pra gente poder entrar, né?", disse o piloto.

Nota oficial da Anac sobre rota do avião

Veja também a explicação dada pela Agência Nacional de Aviação Civil para a negação ao pedido do piloto:

"A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) informa que a empresa boliviana Lamia Corporation solicitou autorização de voo à ANAC para o transporte do time de futebol Chapecoense que faria um torneio na Colômbia. O voo partiria do Brasil para a Colômbia, na segunda-feira, 28/11, segundo a solicitação. O pedido foi negado com base no Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer) e na Convenção de Chicago, que trata dos acordos de serviços aéreos entre os países. O acordo com a Bolívia, país originário da companhia aérea Lamia, não prevê operações como a solicitada.

Complementando a negativa do pedido, a ANAC informou ao solicitante do voo que o transporte poderia ser realizado por empresa aérea brasileira e/ou colombiana, conforme a escolha do contratante do serviço, nos termos dos acordos internacionais em vigor.

A ANAC se solidariza com os familiares das vítimas do acidente ocorrido nesta madrugada, 29/11, com o time da Chapecoense, nas proximidades de Medellín, na Colômbia."

#ForçaChape

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