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Auroville: a cidade onde pessoas vivem sem dinheiro de troca, religião e política

Publicado 18 Abr 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:28 AM EDT
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Conhecida como a “Cidade do Amanhecer”, Auroville, em Pondicherry, sul da Índia, é uma cidade completamente diferente de tudo o que você já viu: as pessoas vivem sem religião, política e dinheiro.

Os moradores seguem um sistema de auto-subsistência, produzindo seus próprios alimentos, em uma economia colaborativa, com o uso de energias sustentáveis e troca de serviços.

Auroville: religião, política e dinheiro

Fundada em 1968 pela francesa Mirra Alfassa, e idealizada pelo poeta e filósofo indiano Sri Aurobindo, a cidade foi reconhecida pela Unesco como um território internacional. Teve apoio também do governo da Índia.

Ela abriga por volta de 2,5 mil pessoas, mas tem capacidade para 50 mil. Já são 49 nacionalidades diferentes (um terço são indianos), de diversas classes sociais, que vivem em uma região de 20 km2. Dentre eles, 1,6 km2 são granjas que cultivam cereais, hortaliças e frutas.

O clima é tropical, com temperaturas por volta de 40°C durante o dia e 20°C pela noite.

Suas atividades incluem florestação, agricultura orgânica, pesquisa educacional, saúde, desenvolvimento de aldeias, tecnologia apropriada e construção de edifícios, tecnologia da informação, pequenas e médias empresas, planejamento urbano, manejo de lençóis freáticos, atividades culturais e serviços comunitários.

A paisagem equilibra o urbano com a natureza: 55% de área verde e 45% de construções.

O local mais importante da cidade é o Matrimandir (“Templo da Mãe Divina”): dedicado exclusivamente à meditação, o espaço é o ponto de união entre os povos que ali vivem e simboliza o ideal de beleza e de harmonia.

Mas a cidade não está isenta de problemas. Crimes e brigas já aconteceram e normalmente são mediados por um conselho. Outras decisões são feitas por uma assembleia de moradores, sempre por consenso de votos.

Dinheiro

Funciona assim: os moradores de Auroville contribuem financeiramente com, pelo menos, o suficiente para todas as suas despesas dentro da cidade e para as despesas gerais da comunidade (é como se fosse um condomínio).

O dinheiro é fruto do trabalho que os moradores realizam ou já realizaram fora da cidade. 

Mas, dinheiro lá não é usado em transações financeiras internas. Ou seja, não se paga para se adquirir determinado bem. Não há dinheiro de troca. 

Dinheiro e bens no município ficam apenas sob a tutela de indivíduos, detentores de projetos e gerentes de serviços ou unidades comerciais.

“Ninguém tem qualquer direito de propriedade sobre casas e outros edifícios, serviços, projetos ou atividades comerciais em Auroville”. Vender ou alugar esses bens para fins lucrativos também é inaceitável. Eles são utilizados para as atividades e desenvolvimento do município e para a promoção dos ideais da cidade apenas.

Embora esteja caminhando para isso, Auroville ainda não consegue sustentar todas as necessidades das pessoas sozinha.

O turismo local, que inclui serviços como aulas de yoga, pilates, artes marciais, línguas, entre outros, ajudam nas despesas.

Política

Não existem prefeitos, governadores, deputados, muito menos partidos. Tudo depende da própria comunidade, que toma as decisões por meio de votos em consenso.

A administração da cidade é dividida em três órgãos: o Conselho Diretivo, que supervisiona o desenvolvimento do município em colaboração com os moradores, a Assembleia de Moradores e o Conselho Consultivo Internacional, que presta apoio ao Conselho Diretivo.

Religião

Nenhuma religião é vinculada à cidade ou aos seus moradores oficialmente. Cada um pode exercer a sua própria fé desde que não interfira na do próximo. Entretanto, existe uma alerta: Auroville não deve ser usado como um lugar para proselitismo ou recrutar seguidores para qualquer organização política, religiosa ou espiritual.

Moradores de Auroville: requisitos

Qualquer um pode morar em Auroville, entretanto, é preciso preencher alguns requisitos. Do ponto de vista psicológico, é preciso “estar convencido da unidade essencial da humanidade e ter a vontade de colaborar para a manifestação material dessa unidade”, explica o site oficial da cidade.

Falar a língua “tamil” não é obrigatório, mas é um diferencial, já que muitos povos se comunicam por meio dela. Quem não sabe, tem a oportunidade de aprender lá dentro mesmo. O processo para se tornar um morador tem duração de cerca de 15 meses.

Os recém-chegados são “convidados” a contribuir com, pelo menos, o suficiente para as suas próprias despesas durante o primeiro ano no mínimo.

No começo, existe a possibilidade de viver em uma casa destinada aos novatos ou uma pousada, de acordo com a disponibilidade.

Isso porque já existe um número considerável de moradores que não têm um lugar próprio ou que vivem em condições abaixo do normal. Quem não tiver condições de conseguir sua própria habitação vai ter que esperar até que algum lugar “de graça” fique livre.

Tanto os recém-chegados quanto os mais velhos precisam contribuir com uma quantia mensal fixa, que são usadas para manter a infraestrutura, que inclui estradas, serviços de saúde, instalações de educação, habitação de recém-chegados, etc.

Além disso, existe uma contribuição única de administração. Se você realmente decidir ser um morador, esse valor é devolvido.

O custo total de vida varia dependendo das necessidades individuais e do estilo de vida da pessoa. Mas segundo o site oficial, para a maior parte um mínimo de 6 mil rúpias indianas (por volta de R$ 290) por pessoa, por mês é o suficiente para atender às despesas mais básicas.

Todos os residentes tem cobertura de saúde ou seguro de algum tipo, e possuem acesso a diversas práticas alternativas de cura (homeopatia, medicina ayurvédica, etc). Mas para serviços especializados, é necessários procurar hospitais fora da cidade.

Sem política, religião e dinheiro: como a ideia surgiu?

O conceito da cidade é dedicado a “promover uma experiência pela unidade humana”. O objetivo era criar um local de transformação da consciência, em que fosse possível unir matéria e espírito coletivamente, mas de forma livre. Isso era o que pregava Mirra, também conhecida como “A Mãe” ou “Mãe Suprema”.

“A humanidade não é o último degrau da criação terrestre. A evolução continua e o homem será superado. É para cada indivíduo saber se ele quer participar do advento desta nova espécie. Para aqueles que estão satisfeitos com o mundo como ele é, Auroville, obviamente, não tem razão para existir”, dizia ela.

Filha de uma egípcia com um turco, Mirra (1878-1973) era pintora e música, e também estudava a filosofia do ocultismo (estudos e práticas que buscam desvendar os segredos da natureza e do Homem), ela foi inspirada por Sri Aurobindo, um guru indiano, filósofo, poeta, escritor, que defendia o progresso humano e a evolução espiritual pela união das almas.

“O segredo da unidade está dentro. O segredo da fraternidade está dentro. Não há unidade senão pela alma, não há verdadeira fraternidade senão na alma e na alma. Somente quando vivemos da alma e não do ego, uma unidade real reinará na Terra”, pregava ele.

E o único jeito de conseguir isso era se aproximando da unidade. Percebendo de forma progressiva que existe um Espírito secreto, uma Realidade divina em que todos somos um. E para realizar isso era necessário descobri-la em nós mesmos e vivê-la. Daí a ideia de criar Auroville.

Cidades misteriosas

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