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"Amamentar não é um ato de amor": isso faz muito sentido ainda que não pareça

Publicado 11 Ago 2017 – 03:11 PM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 03:02 PM EDT
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A amamentação é uma das fases mais importantes e indispensáveis para o desenvolvimento do bebê. Mais do que alimento, o leite materno é capaz de suprir as necessidades fisiológicas da criança e fornecer todos os nutrientes que ela precisa para crescer saudável.

Além de nutrir, muitas mulheres e especialistas defendem que o aleitamento fortalece os laços do filho com a mãe e ainda estimula diversas sensações emocionais no bebê. Há quem diga que o ato de amamentar carrega outros benefícios que vão além de apenas matar a fome da criança.

Amamentar: ato de amor?

Contribuindo com o debate sobre o aleitamento, a terapeuta perinatal Carolina Leão fez um post marcante em sua página no Facebook que acabou viralizando na internet. Escrito originalmente em 2009 pela escritora Tais Vinha, o texto defende a ideia de que amamentar não é um ato de amor.

A autora, que é mãe de três filhos com idades entre 19 e 13 anos, descreve no texto uma conversa que teve com sua mãe, Vera Heloísa Pileggi Vinha, reconhecida como uma das maiores defensoras do aleitamento materno no Brasil

Tais inicia o relato dizendo que a frase em questão partiu de sua mãe e que ficou confusa ao escutar uma afirmação como aquela. 

“A primeira vez que ouvi minha mãe pronunciar tal frase, estranhei. Eu havia ido buscá-la após uma entrevista para um programa da Rede Mulher e notei que ela estava aborrecida. Perguntei o que havia acontecido e ela disse: ‘Eles fizeram de tudo para que eu afirmasse que amamentar é um ato de amor. Mas eu nunca direi isso. Amamentar não é um ato de amor‘”, começa Tais.

Significado da amamentação

A escritora conta que questionou a mãe, argumentando que sempre escutou pessoas dizendo que “amamentar é dar amor”.

Como resposta, Tais ouviu um discurso que faz total sentido sobre a verdadeira função do aleitamento materno.

Retomado na página da terapeuta Carolina Leão, o texto levantou um grande debate entre mulheres que concordam ou discordam da afirmação. Embora seja polêmico, o tema deixa uma reflexão importante sobre a “maternidade sem culpa”, podendo ajudar, inclusive, muitas mamães que enfrentam dificuldades na amamentação.

Para resumir a questão e fazer refletir: a mulher que não consegue amamentar o filho, por inúmeros motivos, é uma mãe pior? É uma mãe que deixa de amar seu bebê?  

Confira o texto na íntegra:

A primeira vez que ouvi minha mãe pronunciar tal frase, estranhei.

Eu havia ido buscá-la após uma entrevista para um programa da Rede Mulher e notei que ela estava aborrecida. Perguntei o que havia acontecido e ela disse:

‘Eles fizeram de tudo para que eu afirmasse que amamentar é um ato de amor. Mas eu nunca direi isso. Amamentar não é um ato de amor‘.

‘Mãe, como assim?’ Por um instante, achei que minha mãe estava virando casaca e negando o trabalho de toda uma vida.
Minha mãe foi uma das grandes batalhadoras do aleitamento materno no Brasil e no mundo. Docente da Faculdade de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto, ela ajudou a formar núcleos de aleitamento por todo o país, colocou o assunto na pauta da formação de profissionais, escreveu livros, cartilhas e foi conselheira da OMS sobre o tema, para os países de língua latina.

Eu cresci com mulheres batendo à nossa porta para “desempedrar” as mamas e aprender a dar de mamar. Com alunas que a procuravam para orientar teses de mestrado. Era peito e recém-nascido para todo lado. Aquela frase, dita assim de repente, me pegou totalmente de surpresa.

‘Amamentar é optar por dar o melhor alimento ao bebê. Não tem nada a ver com amar. Se fosse assim, poderíamos dizer que os pais amam menos seus filhos? Eles não amamentam. As mães adotivas também não. Ou as mulheres que fizeram plástica. Ou as mães que precisaram desmamar seus bebês para trabalhar…será que todos eles amam menos seus filhos porque não amamentam?’

‘Mas é o que a gente sempre escuta…que amamentar é dar amor’, argumentei.

‘Pois é…mas amamentar é dar alimento. O melhor alimento. O mais completo e o que melhor nutre o bebê. Já amar é outra coisa. As pessoas que confundem as duas coisas, sem querer, estão fazendo um desserviço ao aleitamento, pois as mães ficam mais ansiosas, culpadas e cheias de temores. Todos sabem que uma mãe tranquila amamenta melhor. E como uma mãe pode amamentar tranquila se ela acha que estará dando menos amor para seu bebê se fracassar? Olha o peso deste sentimento!

Quanto mais desmistificarmos o aleitamento, melhor. As sociedades que amamentam melhor, são aquelas que o fazem naturalmente, como parte de uma rotina. O bebê está com fome, a mãe dá o peito. Simples assim. Quase mecânico. Ninguém pensa muito nisso.

E as mulheres que por algum motivo não conseguem amamentar, precisam parar de sofrer. De sentir culpa. Existem muitas outras formas delas darem o suporte psicológico que o bebê precisa. É óbvio que o aleitamento é a melhor escolha, mas a partir do momento que esta escolha não pode ser feita, a mãe deve parar de sofrer’.

Essa era a minha mãe. Cheia de ideias próprias. Cheia de amor. Uma batalhadora da maternidade sem culpa”.

Relatos sobre dificuldades na amamentação

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