null: nullpx
amamentação-Mulher

Tipo de parto define bactérias presentes no leite materno (e é incrível como isso ocorre)

Publicado 26 Jun 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
Compartilhar

Embora algumas bactérias sejam responsáveis por infecções e doenças, a relação destes microrganismos com o corpo humano é fundamental para a nossa saúde. E principalmente para a saúde dos bebês, afinal é no início da vida que se compõe a microbiota, ou seja, a colonização de nosso corpo pelas 40 trilhões de bactérias que vivem nele.

A microbiota intestinal, onde vive a grande maioria das bactérias que povoam o corpo humano, tem relação direta com obesidade, síndrome metabólica, diabetes, asma, eczema e até depressão e distúrbios neurológicos. O primeiro contato do bebê com essas bactérias que irão regular sua saúde ao longo de sua vida se dá ainda dentro do útero materno, mas os momentos mais importantes para ele são o nascimento e o aleitamento - em ambos, o parto normal é melhor para a criança.

Como o parto normal influencia a microbiota do bebê?

“Ao contrário do que pensávamos, o bebê começa a ter contato com bactérias durante a gestação, ainda no útero”, afirma Natalia Pasternak, professora e pesquisadora do departamento de bacteriologia molecular do ICB-USP. Hoje já está confirmada a presença de DNA bacteriano na placenta e nas primeiras amostras da composição intestinal do bebê ao nascer, decorrente da ingestão do líquido amniótico.

O momento do nascimento, contudo, é quando o corpo do bebê tem pela primeira vez uma hiper exposição às bactérias - e são exatamente as ideais para bom funcionamento do organismo. Isso ocorre graças à passagem do filho pelo canal vaginal da mãe, repleto de boas bactérias. “Assim, teria início a colonização do intestino, da pele e das mucosas, a ser completada pelo aleitamento no peito e o contato com a pele da mãe”, explica a bióloga.

Parto normal melhora o leite materno: como?

Durante o trabalho de parto, são liberados hormônios que alteram a microbiota do intestino da mãe. O que é surpreendente é que as bactérias intestinais se transportam para as glândulas mamárias, via células dentríticas, exclusivas do sistema imunológico.

“Durante o trabalho de parto, os hormônios sinalizam para que essas células possam “capturar” as bactérias do intestino da mãe e transportá-las até as glândulas mamárias. Esse mecanismo provavelmente ocorre também durante toda a gestação, é assim que elas chegam no útero, e tem seu ápice no momento do parto”, esclarece a professora da USP.

Os estudos sobre a relação entre bactérias e composição do leite materno mostram que mesmo em caso de cesáreas de emergência, feitas após o início do trabalho de parto, o leite apresenta elementos bacterianos importantes para o bebê.

Natalia Pasternak relata que o leite materno é rico em oligossacarídeos e os bebês que mamam no peito apresentam maiores quantidades de bactérias dos gêneros Bifidobacterium sp e Lactobacillus sp. Esta composição impede o crescimento de bactérias patogênicas (que geram doenças) e tornam o bebê mais resistente a infecções e a problemas como doença celíaca, diabetes, asma e obesidade.

“Assim, concluímos que a cesárea eletiva, com hora marcada, é duplamente ruim para o bebê, privando-o do contato com as bactérias do canal vaginal e afetando a composição do leite materno”, conclui a especialista em seu artigo sobre o tema.

De mãe pra filho

Compartilhar

Mais conteúdo de interesse