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Médica faz alerta e emociona a internet com relato de mãe sobre depressão pós-parto

Publicado 7 Out 2016 – 06:55 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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O relato de uma médica sobre uma mãe com depressão pós-parto emocionou a internet. A publicação viralizou e já conta com mais de 50 mil curtidas e mais de 11 mil compartilhamentos.

O texto, escrito pela médica mineira Júlia Rocha, conta que a paciente chamada Laura, de 28 anos, chegou em seu consultório nervosa. A consulta havia sido um pedido da própria Júlia depois de observar sérios problemas na alimentação da filha de Laura. "Uma criança de 4 anos, com sérios problemas relacionados à alimentação. Obesa, mal conseguia acompanhar as brincadeiras na escola. As vacinas, todas foram dadas com atraso depois de grande insistência e orientação da equipe. Vendo este cenário, concluí que precisava conhecer seus pais", disse.

Relato de depressão pós-parto

Ao oferecer a consulta, a mulher quis ir primeiro e já chegou dizendo que sua mãe (no caso, a avó da criança) dizia que ela tinha depressão, esquizofrenia e bipolaridade. A médica começou a fazer algumas perguntas para tentar conhecer melhor a história e entender o caso. Laura revelou que teve pouco contato com a própria mãe, pois foi criada pela avó. Disse também ter se casado errado: "Pra quem nunca se sentiu amada, pra quem não se ama, pra quem se acha gorda, feia, vem um cara e fala meia dúzia de palavras bonitas", explicou. Contou ainda que quando já tinha decidido se separar, soube que estava grávida e se desesperou. 

A gravidez foi difícil. "Minha filha não crescia no meu útero. Me diziam que meu corpo estava rejeitando ela. O parto foi cesárea e ela ficou internada muito tempo. Tadinha. Tão pequenininha e tendo de passar por isso", relatou, chorando.

Em seguida, contou que cuida bem da menina, que pode estar "com a depressão que for", mas quando ela chega, tem sempre comida na hora, coisas saudáveis, ela dá banho, penteia o cabelo, veste a roupa e passa perfume. "A única coisa que eu queria, mas não consigo, é amar minha filha". 

O depoimento forte deixou a médica impactada e fez com que ela buscasse explicar à mãe sobre as diferentes formas de amar.

Sintomas e tratamento

A depressão pós-parto é um problema que atinge 20% das mulheres e acontece não somente por conta dos hormônios da gestação, mas também pela série de mudanças emocionais, sociais e familiares que acontecem na vida da mulher durante esse período. Isso pode afetar todas as mulheres, mesmo aquelas muito bem amparadas por familiares e uma equipe profissional competente durante o parto.

O problema pode ser classificado em três grupos: tristeza pós-parto, que consiste em alterações do humor, tristeza e choro sem razão aparente e um estado melancólico que costuma durar cerca de 15 dias; depressão puerperal, que tem instabilidade emocional mais intensa, irritabilidade, ansiedade, anorexia, insônia, autoavaliações negativas e reprovações, não se considerando competente para cuidar do bebê; e psicoses, que são os casos gravíssimos em que pode haver alucinações, agitação severa, delírios e depressão grave.

Em todos os casos o acompanhamento médico e psicológico é importante para controlar ou reverter o quadro, seja através de terapia ou uso de remédios, dependendo de cada situação.

Leia na íntegra o relato da médica sobre a  mãe com depressão pós-parto:

"QUANTAS MÃES DESNATURADAS VOCÊ CONHECE?
A quantas você deu oportunidade de falar?
Laura, 28 anos, entrou no consultório nervosa. Sorriso no canto da boca, olhar para o chão, raramente olhava pra mim. Mãos que se esfregavam, respirou fundo e disparou:
"Eu vim por que minha mãe falou que eu tenho depressão pós parto."
"Ahan..."
"Mas ela fala que eu tenho tudo, né." E sorriu.
"Tudo?"
"É. Fala que eu tenho esquizofrenia, que sou bipolar." E mais risadas. "Ai, ai, minha mãe..."
"Mas, e você? Fala o quê?"
"Ah, eu tenho um pouco de anemia... Mas é do tratamento que eu fiz pra emagrecer. Eu era uma baleia." E sorriu mais.
A consulta de Laura foi um pedido meu. A filha dela, uma criança de 4 anos, vinha apresentando problemas sérios relacionados à alimentação. Obesa, mal conseguia acompanhar as brincadeiras na escola. As vacinas, todas foram dadas com atraso depois de grande insistência e orientação da equipe. Vendo este cenário, concluí que precisava conhecer seus pais. Oferecemos a consulta e a mãe quis vir primeiro.
"Além da anemia, mais algum problema de saúde?"
"Não."
"E depressão pós parto? De onde sua mãe tirou isso?"
"Não sei, por que ela nem me conhece direito pra falar. A gente conviveu pouco. Fui criada na casa da minha avó... (fez silêncio) Casei errado, doutora. Pra quem nunca se sentiu amada, pra quem não se ama, pra quem se acha gorda, feia, vem um cara e fala meia dúzia de palavras bonitas... (novo silêncio). Quando eu engravidei, já tava decidida a me separar. Quando eu soube, me desesperei. Não aceitava."
"E como foi a gravidez?"
"Difícil. Minha filha não crescia no meu útero. Por mais que eu me alimentasse, ela continuava muito magrinha. O tempo todo me diziam que meu corpo estava rejeitando ela... (e chorou pela primeira vez). O parto foi cesárea. Ela ficou internada muito tempo. Tadinha. Tão pequenininha e tendo que passar por isso."
"Deve ter sido muito difícil."
"Doutora, todo mundo sabe que eu cuido muito bem da minha filha. Eu posso estar com a depressão que for, mas quando ela chega, eu dou meu jeito. A comida sempre na hora, verdura, legume, coisas saudáveis. Dou banho, penteio o cabelo, visto roupinha, passo perfume..."
"Eu sei."
"A única coisa que eu queria, mas não consigo, é amar a minha filha."
FLECHADA! Sem preparo. Sem conversa. Sem doçura. Eis uma mãe desnaturada! Má! Bruxa! Como pode ter coragem de falar uma coisa dessas!
"Eu faço como se eu amasse... (e chora) mas eu não consigo sentir. Por que, doutora, eu não sei. Eu tento, me esforço. Eu não sei como fazer pra amar minha filha."
"Laura, não tem jeito certo nem jeito errado. Cuidar da alimentação, da higiene, se preocupar com a saúde também é amar."
"Eu não queria ser assim."
"Como era você com sua mãe?"
"Então, não morei com ela. Ela me deixou com a minha avó. Do pouco que convivemos, não construímos assim uma amizade... Intimidade... Sei lá."
"Você recebeu esse tipo de carinho que você acha que deveria dar para a sua filha?"
"Nunca. De ninguém."
"E como era sua avó com a sua mãe?"
"Ah, elas não se falam muito."
"E como era a sua avó com a sua bisavó?"
"Nossa!! Diz que a mulher era o cão!! Distribuía varada de marmelo pra todo lado. Batia pra machucar. Coisa que eu não tenho coragem nem de pensar em fazer com a minha filha."
"Laura, vou te falar uma coisa que tá aqui dentro do meu coração. Não quero te ofender ou ofender a sua família. É com todo carinho que te falo: a gente só consegue dar o que tem. Pra dar amor, a gente precisa se sentir amada. É como dizer para uma criança que ela tem que me dar um carro. Não tem como. O amor que eu recebi quando eu era bem pequena hoje me inspira a amar outra pessoa. Ódio, eu não recebi. Por isso, eu não consigo odiar ninguém."
Ela olhava como quem agradece a compreensão...
"Por outro lado, olha a história linda de superação que você está me contando: sua bisavó batia e machucava os filhos. Talvez por que tenha aprendido que isso era o correto a se fazer. Sua avó superou essa violência mas não conseguiu criar vínculos de amizade e carinho com sua mãe. Sua mãe já consegue conversar com você e, do jeito dela, te orienta e tenta te ajudar. Já, você está dando um salto enorme em busca desse entendimento. Você foi capaz de sofrer a dor da internação da sua filha, de se preocupar com a alimentação, com a roupinha, com o cabelo, com o perfume. Você já ama sua filha. Ninguém faz isso sem amor. Provavelmente, quando a sua filha tiver o neném dela, amar e cuidar será algo muito mais natural pra ela, por que ela vai se lembrar de tudo que você fazia por ela quando ela ainda era uma bebezinha!"
Laura estava chorando. Chorando me ouviu. Ficou com o que achava que devia ficar. Jogou fora o que achou bobagem. Vai conversar com a Psicóloga e com a Psiquiatra da nossa unidade.
Laura levou de mim o amor que recebo diariamente da minha família e dos meus amigos. A consulta terminou e, a mágica: o amor que eu tenho em mim agora é bem maior do que o que eu tinha antes de conhecê-la.
Obrigada, Laura".

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