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Bebê com microcefalia que era maltratado ganha nova vida ao encontrar “anjo”

Publicado 7 Mar 2017 – 05:00 AM EST | Atualizado 14 Mar 2018 – 09:19 AM EDT
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Adotar um filho já é um gesto lindo de amor. Receber um bebê com deficiência sem se importar com as dificuldades, então, é uma ação ainda mais altruísta. Foi justamente o que fez Valéria Gomes Ribeiro, 46 anos, de Paulista, cidade a 15 km de Recife, no Pernambuco.

Adoção de menino com microcefalia 

Valéria pode ser considerada um verdadeiro anjo. Ela já era mãe adotiva de um jovem de 19 anos que tem deficiência mental e cuidadora de um parente de 33 anos que sofre de depressão. Agora, também cuida de João, um bebê de 1 ano e 4 meses cuja mãe biológica o maltratava por não saber lidar com a condição de saúde do filho.

Para ter tempo de acompanhar a criança nas consultas e tratamentos, ela teve que abandonar o trabalho como vendedora em uma barraca de doces.

Maus tratos a criança com deficiência

A mãe de João já tinha 9 filhos quando ele e sua irmã gêmea (que não tem microcefalia) nasceram. Desde o 1º mês de vida do bebê, as irmãs mais velhas – de 8 e 11 anos – o levavam à casa de Valéria, vizinha da família, para ser cuidado.

“Ele não recebia tratamento. A mãe começou a mandar o João todos os dias para mim, porque sabia que eu já era mãe de um filho especial e ia saber lidar com ele”, conta Valéria.

“As crianças traziam ele no pescoço porque não sabiam carregá-lo, não tinham o mesmo cuidado de um adulto. Por isso, ele tinha muito medo de cair. No começo, chorava dia e noite e só eu conseguia acalmá-lo”, afirma.

Segundo Valéria, João sofria muito porque não recebia os cuidados que uma criança com a doença necessita, como tomar o leite apropriado, e tinha dificuldade para se alimentar.

Tratamento da microcefalia e dificuldades financeiras

“A mãe não me falou que ele tinha microcefalia. Foram os médicos da Upa (Unidade de Pronto Atendimento) que perceberam quando o levei lá por causa de uma pneumonia e me orientaram a procurar um neurologista, fisioterapeuta e outros especialistas”, relembra a ex-vendedora.

Assim que soube da condição, Valéria não poupou esforços para achar tratamento. Ela inclusive conseguiu um auxilio do governo ao qual crianças com a doença têm direito, mas os R$ 880 ainda estão sendo repassados à mãe biológica da criança.

João toma seis medicamentos todos os dias e, infelizmente, todos precisam ser comprados. “Só o leite especial custa R$ 90, o remédio para refluxo, R$ 114, tudo é muito caro. A sorte é que ganho algumas coisas. Hoje mesmo ganhei um pacote de fraldas, dois sabonetes, um lenço umedecido e umas roupinhas usadas”, fala sobre a dificuldade de sustentar todo mundo.

Por enquanto, a única renda da família são R$ 920 que recebe de auxílio devido à deficiência de seu filho mais velho. Antes do início do tratamento do bebê, Valéria tinha uma barraquinha de doces em casa, mas teve que fechá-la para poder levar o filho caçula para as consultas e sessões diárias de fisioterapia.

Rotina difícil 

Dona de casa, ela sai de casa às 3 horas da manhã com João no colo, pega de 10 a 12 ônibus por dia e volta apenas por volta das 19h.

“O João vai à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e outros 3 lugares para fazer fisioterapia, fonoaudiologia, estimulação visual e auditiva”, relata.

“O primeiro horário dele é às 7 horas da manhã e a tolerância é só de 10 minutos. Depois disso já é considerado falta e se ele faltar duas vezes já é tirado do tratamento. Por isso, saio de madrugada carregando cerca de 30 kg porque, além do João, levo comida, coisas para o banho dele, tudo para passar o dia inteiro fora”, comenta sobre sua rotina.

Preconceito 

Além de ter que superar diariamente todas essas dificuldades, Valéria também precisa enfrentar o preconceito das pessoas nas ruas. 

“Pessoas ignorantes olham para nós [ela e João] e fingem não nos veem para não precisarem dar lugar no ônibus, me perguntam quanto tempo de vida ele tem, me falam que ele nunca vai andar, que vai ficar sempre em cadeira de rodas”, desabafa.

“Me trouxe alegria” 

Mas tudo isso não diminui a alegria que Valéria sente em ter João como filho, o "presente de Deus" que mudou completamente a sua vida.

“João me trouxe a alegria de volta, a vontade de viver, me dá força todos os dias. Tenho problema de obesidade e isso me deixava deprimida, mas ele me trouxe garra, vontade de ser a mulher guerreira que eu era quando era magra e a vontade de não desistir”, comenta.

Por enquanto, ela tem apenas a guarda provisória, mas tem esperança de conseguir a guarda definitiva do menino dentro de um mês.

Como ajudar? 

Caso você queira ajudar a Valéria com doações de produtos de higiene, roupas ou dinheiro, pode entrar em contato pelos telefones (81) 98855-5218 ou (81) 98466-1204.

Bebês com microcefalia

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