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Cecília Dassi cresceu e largou a TV para ser psicóloga: "Fazia mais sentido para mim"

Publicado 1 Mar 2017 – 08:00 AM EST | Atualizado 11 Jul 2019 – 02:01 PM EDT
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Você se lembra da atriz Cecília Dassi? Com a voz doce e lindos olhos azuis, ela encantou o público brasileiro nos anos 90, quando tinha oito anos e estreou em novelas da Globo. Em 2016, o contrato da jovem com a emissora foi encerrado, e ela se encontrou de vez em sua nova profissão: a psicologia.

Focada em acompanhamento de artistas mirins e coaching, Cecília teve no passado a experiência perfeita para tratar do assunto hoje em dia, servindo de exemplo para pacientes que buscam seguir passos semelhantes aos dela. Além do atendimento em consultório, ela também dá palestras - e a próxima será no TEDxSantos, no dia 13 de maio desse ano.

Em entrevista ao VIX, ela contou como foi mudar de carreira, detalhes de sua especialidade, como a fama afetou sua infância e já adianta: ela não tem vontade de voltar a atuar.

Como está a atriz Cecília Dassi

O primeiro papel de sucesso de Cecília foi Sandrinha, em “Por Amor”. O contato com a fama mudou completamente a infância da gaúcha, que se mudou para o Rio de Janeiro e seguiu firme na Globo por mais alguns anos.

Embora o contato com as artes cênicas fosse muito forte em sua vida, na hora de escolher uma faculdade, a atriz decidiu trilhar outro caminho. “Eu sempre gostei de estudar e tinha muita admiração, curiosidade e interesse pelo comportamento humano, e a própria área da psicologia tem muito a ver com interpretação e artes cênicas”, explica Cecília.

A vontade de buscar um plano B foi o que motivou a jovem a trilhar outro caminho. “Nunca me senti satisfeita [sendo atriz], senti necessidade de buscar algo a mais, me estabilizar”.

E no fim das contas, ela finalmente se encontrou na profissão. “Acabei me apaixonando, fazia muito mais sentido pra mim do que a atuação”, revela, contando também que a migração foi muito natural.

“Nunca quis ser famosa”

Embora Cecília tenha feito muito sucesso quando estreou na TV, esse não era seu objetivo. Antes das novelas, ela fazia alguns trabalhos publicitários, e o que a encantava era a interpretação de um papel. “A minha intenção era mais pelo trabalho do que pelo glamour, eu queria ser só um personagem”, conta, “não tinha a menor ideia do que era ser famosa”.

Apesar disso, a atriz tinha todo o apoio da família para que a fama não prejudicasse sua infância. Mesmo tendo que trocar de estado e mudar de vida completamente, a mãe de Cecília colocava as brincadeiras como prioridade na rotina da filha.

“Minha mãe sempre correu atrás de me divertir o máximo possível, sempre no meio desse processo e ela me incentivando, queria que eu tivesse essa vivência”, explica.

Como qualquer artista mirim, a rotina de Cecília teve que se adaptar ao trabalho. A novela mais puxada foi justamente a primeira, “Por Amor”, pois as seguintes tinham um ritmo bem mais tranquilo. “Como o trabalho era intenso, eu digo que foi feito realmente por amor”, conta.

Ansiedade e insônia na infância

Embora hoje o trabalho de Cecília seja voltado para atrizes mirins, ela não teve o mesmo acompanhamento na infância. “Na época a gente nem tinha tanta noção, hoje existem os psicólogos do Projac na rotina das crianças, mas no passado isso não existia”, conta ela.

No entanto, ela se apoiou em uma base fundamental: a família. Cecília explica que a mãe, Elenara, era muito compreensiva e preocupada em protegê-la do mundo. “Nunca tive um processo realmente problemático, mas poderia ser menos dolorido em alguns momentos”, revela.

“Eu tive vários momentos da minha infância em que eu não conseguia dormir, ficava bastante ansiosa, mas foi um processo natural. Eu dei muita sorte porque meus pais eram cuidadosos, atentos, dispostos a me ouvir”, explica.

Especialização em artistas mirins: vivência pessoal

Na psicologia, Cecília acabou migrando para a área de acompanhamento de artistas mirins e coaching, que é o acompanhamento para o alcance de objetivos específicos. A bagagem que ela mesma trouxe da atuação é uma ajuda aos próprios pacientes, que se espelham em Cecília para querer mudar de vida.

Ela conta que, apesar de o trabalho com artistas mirins ter tudo a ver com seu passado, a procura por esse tratamento é muito menor do que ela esperava. “Eu tentei mostrar a importância disso, mas acho que os pais não visualizam a necessidade de um acompanhamento em longo prazo. A rotina é muito corrida, a criança tem várias atividades e isso fica em segundo plano”, avalia.

Cecília ressalta que, nesse caso, o ideal é a prevenção dos problemas, e o processo pode ajudar mais os pais do que as próprias crianças. “A gente não tem essa cultura de evitar o processo terapêutico, só procuramos quando temos sintomas. A última coisa que a pessoa acha é que a criança precisa de terapia, mas alguns indícios mostram que ela não está saudável, e os pais não se dão conta disso”.

Como a fama afeta crianças

E o que pode acontecer com crianças que são famosas? Para Cecília, a consequência mais comum é a ansiedade de desempenho, mais até do que a depressão. “De modo geral, há alguns transtornos de ansiedade generalizada, pessoas que se autodenominam ansiosas, muitas vezes por problemas da própria família”, explica.

“Muitos pais acabam comprometendo a situação financeira para apoiar as crianças, e se a carreira não vai para frente, são elas que se sentem culpadas. O problema é que a responsabilidade não é adequada para a idade da criança, e isso aumenta a possibilidade de desenvolver a ansiedade no futuro”.

É por isso que a psicoterapia acaba sendo mais voltada para os pais, a fim de prevenir todos esses problemas. “O que eu faço é uma orientação, ajuda na administração da vida da criança, mostrar pra ela que ela está sendo ouvida, cuidada, tirando a responsabilidade dela”, diz Cecília.

“Seria muito positivo esse acompanhamento ser constante, porque vai chegar um momento em que as crianças vão estar melhores. É um processo, faz parte do nosso entendimento”, conclui.

Ter sido famosa no passado acaba atraindo pacientes, e não o contrário, especialmente para o processo de coaching. Cecília trabalha com uma abordagem diferente da psicanálise, pois a autenticidade na relação é importante na terapia.

“No coaching essa identificação é muito positiva, pois torna a relação mais potente. As pessoas me procuram vendo que eu abri mão de uma carreira, que eu queria encontrar um propósito de vida e consegui, então buscam ajuda para encontrar também”, conta, “e eu uso minha própria bagagem, é gostoso poder ajudar, dar esperança para os pacientes”.

Pressão nos filhos e retorno à atuação

No papel de psicoterapeuta, Cecília explica que deve ressaltar os aspectos negativos da profissão de atriz, mas que na verdade, a experiência pode ser muito boa. “A criança ganha seu próprio dinheiro, faz parte de um universo mágico e recebe carinho, é muito gostoso”, compartilha.

Inclusive, caso seus futuros filhos queiram seguir por essa área, ela diz que daria total liberdade para que eles pudessem escolher. “Não incentivaria e nem proibiria, tem que ir pelo que ele quer mesmo, o mais importante é ele saber o que tá escolhendo e eu estar acompanhando o tempo todo”, explica Cecília, que também defende a liberdade na mudança de carreira.

“Não acho justo que a gente coloque a criança numa obrigação, tem que dar liberdade. Vou ficar feliz por ser honesto com ele mesmo”.

Dessa forma, ela deixa claro que não tem vontade de voltar a atuar. “Não fiquei traumatizada, tenho muito carinho e prazer em trabalhar com isso, mas meu amor é muito mais pelo processo, eu me conecto com a atuação por outros caminhos”, conta Cecília.

No entanto, ainda há a possibilidade de ficar balançada com alguma proposta. “Se houvesse um convite com um personagem que me encantasse seria difícil recusar, mas longe de ser algo que está na minha cabeça”.

Mensagem para artistas mirins: “Está tudo bem”

Se pudesse mandar uma mensagem para as pequenas celebridades, Cecília ressalta que é importante não se cobrar. “A gente não precisa querer fazer tudo corretamente, nós somos crianças e temos direito de estar desconfortável e está tudo bem”, confessa.

“Eu me julgava uma péssima profissional quando estava enjoada, cansada, até infeliz alguns dias, mas é normal, não tem porque se cobrar tanto. Quando eu estava mal humorada, minha mãe me divertia, me levava para tomar sorvete, era normal”.

Por fim, Cecília manda também um recado para os pais, mais importante até do que para as crianças. “Estejam muito atentos, deem espaço para os filhos investigarem se está sendo positivo, para dizer que não querem mais isso”, conclui.

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