null: nullpx
brasileira-Zappeando

Gilberto Gil: 10 músicas que contam a história e a vida do artista

Publicado 27 Out 2016 – 03:21 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
Compartilhar

O cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil, ao lado de outros grandes nomes da MPB como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina e Maria Bethânia, marcou, e continua marcando gerações com suas músicas que falam através do tempo. Como qualquer grande compositor, suas canções muitas vezes são reflexão de períodos da vida dele mesmo. Por isso, veja as 10 músicas de Gil que traçam a trajetória dele. 

Trajetória de Gilberto Gil pela música

Expresso 2222

No site de Gil, o próprio cantor explica a sua história por trás da música: "Da infância até a idade adulta, eu fiz muita viagem de trem, que era um dos meios de transportes fundamentais para nós da Bahia. Os trens da Companhia Leste Brasileira - e outros - saindo e entrando nas estações, em Salvador, em Ituaçu, em Nazaré das Farinhas, me marcaram. Não sei por que cargas d'água, essa repetição do 2 era algo de que eu estava impregnado; alguma locomotiva, de número 222, que eu vi, ficou na minha cabeça e, quando comecei a letra, a primeira imagem que me veio foi dela." 

Aquele Abraço

Depois de solto na ditadura militar, Gil foi ao Rio para tratar sobre sua saída do Brasil (quando começou o exílio) com o Exército. Na manhã em que voltava para Salvador, visitou Mariah Costa, a mãe de Gal; ali, na casa dela, surgiu a ideia de “Aquele Abraço”, como uma forma de se despedir do país e sumarizar o que ele estava vivendo. “No avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer, um guardanapo, e mentalizando a melodia. Quando cheguei à Bahia eu só peguei o violão e toquei; já estava afetivamente comprometido com a canção”.

Nêga

A música “Nêga” foi o resultado das influências que Gil sofreu em seu exílio em Londres nos anos 70. O rock e o reggae – estilos com os quais os brasileiros tinham pouco contato até então - são algumas das marcas do som do ícone da música brasileira.

Back in Bahia

O primeiro Verão na Bahia depois que Gil voltou do exílio em Londres. Ele estava na festa de Nossa Senhora da Conceição, em Santo Amaro da Purificação, na casa de Dona Canô, mãe de Caetano. Lembrou da saudade que sentia das pessoas e da Bahia enquanto estava em Londres e surgiu o impulso de escrever a canção.

Não Chore Mais

A música, uma versão brasileira de “No Woman, No Cry”, de Bob Marley, marcou o momento em que Gil estava muito ligado à cultura jamaicana e ao reggae. “No Woman, No Cry retratava o convívio diário de rastafaris no 'government yard' (área governamental) em Trenchtown, e a perseguição policial, provavelmente ligada à questão da droga (maconha), que eles sofriam. Esta situação, eu quis transportar para o parque do Aterro, no Rio de Janeiro, também um parque público, onde localizei policiais em vigília e hippies em rodinhas, tocando violão e puxando fumo, como eu costumava vê-los de noite na cidade. Coincidindo com o momento em que a abertura política estava começando, 'Não Chore Mais' acabou por se referir a todo um período de repressão no Brasil", explica o cantor.

Drão

A música trata da separação de Gil e Sandra, mais conhecida como Drão. “Sua criação apresentou altos graus de dificuldade porque ela lidava com um assunto denso - o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento; porque era uma canção para Sandra [apelidada Drão - daí o título da música] - e para mim. 'Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?', eu me perguntava. Além disso, havia a exigência de excelência, de que o versar tivesse capricho. Então demorou dias e dias de trabalho.”, conta Gil em seu site oficial.

Flora

Logo depois de se separar de Sandra, Gil se envolveu com Flora, mulher com quem é casado até hoje."Era o Verão de 79. Ela estava passando férias em Salvador. Eu a tinha conhecido um mês antes, e nós ainda não namorávamos. Telefonei para um amigo comum. 'Diga que eu quero vê-la, que vou estar no Teatro Vila Velha entre quatro e seis da tarde. Tenho uma coisa pra mostrar a ela.' Quando ela chegou, eu cantei a música".

Refavela

A música "Refavela" representa a conexão de Gil com as origens africanas. Ele passou por um período de imersão. “Em 77, eu fui participar do Festac, festival de arte e cultura negra, em Lagos, na Nigéria, onde reencontrei uma paisagem sub-urbana do tipo dos conjuntos habitacionais surgidos no Brasil a partir dos anos 50, quando Carlos Lacerda fez em Salvador a Vila Kennedy, tirando muitas pessoas das favelas e colocando-as em locais que, em tese, deveriam recuperar uma dignidade de habitação, mas que, por várias razões, acabaram se transformando em novas favelas.”

Filhos de Gandhi

"Chegado de Londres, em 72, eu fui passar o carnaval na Bahia, e encontrei o Afoxé Filhos de Gandhi sem massa humana na avenida, reduzido a apenas uns quarenta ou cinquenta na Praça da Sé. O bloco, tão vivo na minha memória, tinha sido um dos grandes emblemas da minha infância e era o mais antigo da cidade. Começou a sair em 49, quando eu tinha sete anos; os integrantes passavam pela porta de casa no bairro de Santo Antônio, todos de branco, com turbantes e lençóis, palhas de alho trançadas e fita na cabeça, e com um toque que era diferente do samba, da marcha, do frevo, dando uma sensação de espaço sagrado (depois viemos a saber que o afoxé era mesmo um toque religioso do candomblé). Eu tinha veneração pelo Gandhi, e ao revê-lo numa situação de indigência, me deu uma dor seguida de um arroubo de filialidade, de amor de filho, arrimo de família; resolvi dar uma força. A primeira coisa que fiz foi me inscrever no bloco - para 'engrossar o caldo'. Depois fiz a música e continuei saindo - saí treze anos seguidos. As fileiras foram aumentando, e o Gandhi se recuperando. Os jovens ficaram entusiasmados com minha presença, e os velhos se sentiram mais estimulados a trabalhar; enfim, foi um estímulo geral."

Palco

“Palco” marcou a vez em que Gil quase interrompeu sua carreira e quis parar de cantar. "Eu estava havia três dias pensando em parar de cantar; em deixar a seqüência profissional de discos e shows. Estava prestes a tomar essa decisão - e avisar todo mundo -, mas não por uma razão que tivesse a ver com cantar, que é a coisa que mais me encanta na vida. Minha sensação era de fastio; eu queria era um elemento que me trouxesse um novo ânimo. 'Se eu vou parar mesmo', pensei, 'eu tenho que fazer uma declaração pública, e essa declaração tem de ser musical.' Aí eu fiz Palco, uma canção que era na verdade pra não deixar dúvida a respeito de tudo o que cantar representa para mim, e a respeito da minha relação com a música - simbolizada de forma completa pelo estar no palco."

Música e entretenimento 

Compartilhar

Mais conteúdo de interesse