"Deu vontade de beijar": psicólogas alertam sobre fala de ator expulso de "A Fazenda"
A expulsão de Phellipe Haagensen de “A Fazenda 11” após um beijo forçado na colega de confinamento Hariany Almeida foi muito comemorada nas redes sociais, mas o sentimento de justiça logo foi substituído por revolta diante da "justificativa" problemática que o ator deu ao ser comunicado de seu desligamento.
Além de responsabilizar o álcool por seu comportamento, Phellipe se recusou a admitir o assédio, caracterizando-o como "carinho" e reproduzindo outros discursos que, conforme analisaram psicólogas consultadas pelo VIX, reforçam a cultura do abuso sexual e sua normalização.
Expulsão de Phellipe Haagensen de reality show
No final de semana, uma briga entre Phellipe e Hariany Almeida foi um dos destaques da nova edição de “A Fazenda”.
A discussão entre os participantes ficou no centro das atenções do público pela atitude do então peão durante a discussão com a companheira de casa.
Enquanto argumentava contra Hariany, Phellipe projetou seu corpo contra o da modelo e deu um beijo em sua boca sem consentimento.
O gesto do ator gerou uma onda de revolta do público, uma denúncia formal da vítima à produção do programa e, após pressão popular nas redes sociais, a expulsão do ator do reality show.
Justificativa de Phellipe para beijo sem consentimento
Quando Phellipe foi expulso, a reação dos participantes que permaneceram na casa foi exibida ao público, mas não se sabia até então o que havia acontecido com o ator.
Algumas horas depois, a Record revelou como reagiu Phellipe à notícia de sua expulsão. Ao saber que estaria fora do jogo, o artista tentou justificar sua atitude com argumentos problemáticos.
“O álcool me excedeu um pouco essa atitude de beijá-la, mas assumo meu erro como homem. Acho que me precipitei, sim. Sou um cara muito mulherengo, estava carente e me deu vontade de beijar. Uma hora eu iria estar fora da regra. Porque é um jogo que você tem que cumprir regras. Saí por carinho, tenho certeza.”
Por que justificativa usada por Phellipe é problemática
Em conversa com o VIX, as psicólogas Marilene Kehdi e Claudia Puntel explicam as muitas partes problemáticas da curta justificativa usada por Phellipe e por que elas expõem como o machismo ainda está presente na relação entre homem e mulher.
Álcool como justificativa de assédio
Um dos argumentos levantados por Phellipe é o de que a ingestão de bebida alcoólica teria contribuído para sua atitudes. Esse tipo de justificativa, para as especialistas, não pode ser usada para comportamentos abusivos com o do ator.
“Homens violentos são violentos com álcool ou sem álcool. Ele bate de caso pensado. Não se pode invadir a liberdade do outro justificando com a bebida. Nada justifica”, afirma Marilene.
Claudia adiciona também a análise de que culpar o álcool é uma forma "socialmente aceita" de uma pessoa não assumir a responsabilidade por ser abusivo. “Seja um abuso por usar o álcool ou por, através do álcool, realizar ações abusivas”, diz Claudia.
Carência não justifica assédio
Phellipe afirmou que, no momento da discussão, estava carente e “deu vontade de beijar”. A carência, como argumentou o ex-participante, não deve ser vista como prerrogativa para que atos abusivos como o seu sejam postos em prática e o mal a um terceiro, realizado.
Marilene expõe a lógica machista por trás deste discurso, que coloca a mulher como propriedade do homem e submissa a ele, de forma que, se ele sente desejo, é obrigação dela satisfazê-lo. "Muitas mulheres sofrem abusos por parte de homens por eles acharem que são donos delas. A carência é assunto para ser elaborado na psicoterapia, mas jamais pode ser usada como justificativa para invadir o espaço da mulher", diz.
Carinho é diferente de assédio
Em sua visão, o que Phellipe fez se tratou de um gesto de carinho, e não de violência.
Segundo as psicólogas, um ato que pode ser lido como expressão de afeto em alguns contextos - tal qual o beijo - perde este caráter quando é realizado sem autorização e de maneira forçada, imposta, adquirindo a condição de abuso, já que viola a liberdade e direito do outro.
"É tentar colocar a mulher numa posição de submissa, e isso ocorre porque esses homens têm uma ausência de limite, de autoestima", expõe Claudia.