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Chinesa diz que nadou menstruada em prova da Rio 2016 e causa polêmica e admiração

Publicado 17 Ago 2016 – 01:15 PM EDT | Atualizado 14 Mar 2018 – 09:30 AM EDT
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A nadadora chinesa Fu Yuanhui já havia chamado atenção durante a Olimpíada por sua espontaneidade e pelas caras e bocas que faz durante provas e premiações. Mas em sua última competição, apesar de ter ficado fora do pódium, ela ganhou destaque por um comentário bem mais importante.

Ao ser questionada por uma repórter sobre seu desempenho na prova de revezamento 4 X 100 metros medley – prova competida por 4 atletas –, Fu disse que não nadou tão bem porque havia menstruado no dia anterior e, por isso, estava se sentindo muito cansada.

Antes de ser abordada pela entrevistadora, a atleta estava agachada atrás de um cartaz, aparentemente com cólicas, e permaneceu ofegante durante a entrevista. 

Chinesa quebra tabu sobre menstruação

Pelo simples fato de estar relacionada à intimidade e à sexualidade feminina, a menstruação é considerada um tabu, daqueles temas que muita gente prefere nem falar a respeito. Além disso, o assunto gera polêmica também em suas ramificações, por exemplo nas questões relacionadas ao trabalho: há empresas e países, como o Japão, que permitem alguns dias de licença-menstrual.

A fala de Fu Yuanhui é, portanto, libertadora, não apenas porque ela afirma que menstrua (afinal, é mulher) em frente às câmeras durante o maior evento esportivo do mundo, mas também porque admite que uma atleta como ela também sente os efeitos do período menstrual, nem sempre agradáveis, em seu corpo. A identificação de milhares de mulheres ao redor de todo o mundo foi imediata e muitas delas se manifestaram via redes sociais.

Vale lembrar que Fu vem de um país extremamente conservador, a China, onde apenas 2% das mulheres utilizam absorventes internos.

Acusações contra Fu

"Nadar menstruada é impossível"

Houve quem dissesse que a nadadora estaria mentindo para justificar seu baixo desempenho, uma vez que os absorventes internos são usados apenas por uma parcela mínima da população chinesa e nadar menstruada, segundo alguns, seria impossível, uma vez que o sangramento ficaria visível.

O ginecologista Vamberto Maia, especialista em reprodução humana da Clinica Mãe (São Paulo), explica que, ao contrário do que muitos pensam, a pressão exercida pela água não evita que o fluxo sanguíneo deixe o canal vaginal ou faz com que o útero deixe de expulsar seu conteúdo. Ou seja, é mito dizer que menstruação não desce na piscina.

O que acontece é que o volume de sangue eliminado é bem pequeno (durante todo o período menstrual, a mulher elimina de 30 a 50 ml) e acaba sendo diluído na água da piscina sem que seja notado.

"Sangue menstrual contamina a água da piscina"

Não há nenhum risco de contaminação, uma vez que o cloro da piscina é adicionado justamente para lidar com micro-organismos presentes em secreções humanas. Afinal, é natural que o ser humano elimine secreções – como saliva e suor, por exemplo - todo o tempo, e isso continuará quando ele está dentro da piscina.

Menstruação afeta mesmo o desempenho físico de atletas? 

O ginecologista e obstetra Vamberto explica que o ciclo menstrual pode mesmo afetar algumas funções no corpo da mulher.

O cansaço relatado pela nadadora, por exemplo, pode ser causado pela perda de sangue, que faz com que o corpo precise produzir mais células vermelhas, as hemácias, para difundir oxigênio para o corpo. O transporte corporal de nutrientes também pode ficar prejudicado, e o inchaço, comum na TPM, pode ser um problema no caso da nadadora, uma vez que ele implica em ganho de peso e uma necessidade de mais força para fazer o deslocamento pela piscina na mesma velocidade de antes.

Há ainda as dores das cólicas e a dor de cabeça, que podem prejudicar o foco e a concentração.

No entanto, estudos científicos que avaliem esses impactos ainda são escassos e não muito amplos. “No geral, o que se fala é para que as atletas não menstruem através do uso de hormônios [como a tomada contínua de pílulas anticoncepcionais, por exemplo]. Há poucos trabalhos que analisem as alterações causadas pela menstruação e sugiram outras alternativas”, critica o médico. 

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