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Depois de "13 Reasons", "O Mínimo para Viver" divide opiniões ao tratar doença séria

Publicado 25 Jul 2017 – 03:55 PM EDT | Atualizado 27 Mar 2019 – 08:57 AM EDT
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Quando “13 Reasons Why” chegou ao catálogo da Netflix, as opiniões sobre a qualidade da obra se polarizaram: o alerta sobre depressão era importante e necessário ou foi irresponsável? Agora, uma nova obra do streaming começa a levantar o mesmo questionamento sobre um transtorno que também é um tabu.

“O Mínimo Para Viver” (“To The Bone”) estrela Lilly Collins (“Os Instrumentos Mortais”) como Ellen, de 20 anos, que sofre com a anorexia e não consegue encontrar tratamento eficaz para se livrar do distúrbio. Isso até conhecer uma clínica alternativa comandada pelo terapeuta Dr. Beckham (Keanu Reeves), que começa a transformar sua perspectiva de vida.

O longa estreou no Festival de Sundance e depois foi comprado pela Netflix. Quem dirige é a cineasta Marti Noxon (“Buffy”), que também enfrentou distúrbios alimentares na juventude e escreveu a história baseada em suas experiências.  Em entrevista, Lilly Collins também revelou que já enfrentou a doença.

O Mínimo para Viver

Abordagem 

As análises de “O Mínimo Para Viver” também ultrapassam as questões técnicas e se voltam muito mais para a abordagem da doença e para a escolha do “choque” como ferramenta para expressar a gravidade do problema – assim como a cena de suicídio de Hannah, em "13 Reasons".

No longa, cenas impactantes mostram o corpo esquelético da protagonista, os hematomas e marcas deixadas pelo distúrbio. Além disso, outros personagens que também sofrem com o transtorno comentam sobre técnicas e “dicas” que usam para evitar comer, vomitar ou perder peso o mais rapidamente possível.

Vale questionar, novamente, os recursos utilizados para explorar um problema que pode levar à morte e que afeta principalmente pessoas jovens.

Para a psicóloga Valéria Lemos Palazzo, fundadora do Grupo de Apoio e Tratamento dos Distúrbios Alimentares e de Ansiedade (GATDA), o filme tratou a doença de forma irresponsável.

 “É importante trazer o tema à tona, claro, mas foram muitos os erros ao tratar a anorexia. Algumas pacientes comentaram que se identificaram muito com os pensamentos que a protagonista mostra ter, mas o jeito de tratar é completamente fantasioso”, pontua, em entrevista ao VIX.

Valéria explica que o ponto mais problemático é mostrar uma jovem que tem a doença, mas que consegue levar a vida quase normalmente.

“Geralmente, nessa condição a pessoa não consegue sair para se divertir ou se relacionar, ela não tem disposição e muito menos tanta energia para isso. Acho perigoso o filme desconsiderar esse aspecto e não mostrar esse impacto da doença, que é muito marcante”, pontua.

Papel da família

Além disso, o longa parece associar a condição de Ellen à dinâmica da família. A protagonista vive com a madrasta, a meia-irmã e o pai ausente, enquanto a mãe vive com a companheira em outra cidade.

Com essa composição, é fácil imaginar o drama vivido pela família, cheia de questões em torno da homossexualidade da mãe, a nova família, a falta do pai e a doença da filha. Em um dos momentos mais emblemáticos, sua irmã explica: “Eu não consigo entender esse problema. É só comer”, diz.

Mas a psicóloga ressalta que essa associação é perigosa, principalmente porque a resolução do problema, no filme, parece estar associada à família.

“Parece que a causa do problema é essa, quando na verdade a anorexia tem componentes complexos, além do meio ambiente, é claro. E a ‘cura’ não vem só da força de vontade, mas também de um tratamento sério e multidisciplinar”, explica.

Tratamento

Um ponto positivo do longa é trazer à tela aspectos dos transtornos alimentares pouco explorados por outras produções do gênero. Na clínica de tratamento que serve como principal cenário do filme, outros personagens enfrentam distúrbios ao lado de Ellen.

Um deles é um garoto que, por problemas nas articulações causados pela anorexia, não conseguia mais dançar, que era sua grande paixão. Outra personagem lida com as dificuldades – físicas e psicológicas – de uma gravidez enquanto também enfrenta a bulimia e o corpo debilitado que, agora, está gerando outra pessoa.

Mas a produção peca ao tentar reunir tantas informações em um único lugar e acaba estereotipando a maioria dos personagens. Não faz sentido que tantos distúrbios sejam tratados no mesmo lugar e da mesma maneira (embora o filme enfoque a terapia alternativa) e tudo fica meio confuso.

“O tratamento real é outra coisa e envolve diferentes tipos de profissionais para lidar com as diferentes frentes da doença, como nutricionistas, psicólogos e psiquiatras se necessário”, explica Valéria.

Assim como “13 Reasons”, que tem um público-alvo mais ou menos da mesma faixa etária, é importante olhar para “O Mínimo Para Viver” com responsabilidade e desafio de superar a glamurização da magreza excessiva.

É delicada a linha entre a romantização e a exposição de uma condição de saúde que pode ser fatal e, assim, encorajar quem pode estar sofrendo com ela a buscar ajuda.

Luta contra anorexia

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