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Deusa, feminista e espiã: Mulher Maravilha mudou muito antes de ser essa dos cinemas

Publicado 5 Jun 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Quem assiste essa personagem forte e bem consolidada nas telonas nem imagina a bagunça que já foi a origem da Mulher Maravilha nos quadrinhos. Vivida competentemente por Gal Gadot no filme que estreou há pouco, a personagem original sofreu algumas reformulações até consolidar as bases da personagem que vemos no cinema.

Não que a representatividade, força e amor não estivessem lá desde o início. Mas, diferente de seus pares como Superman e Batman, que também sofreram mudanças, mas tem bases consolidadas desde o início (o último sobrevivente de um planeta; um garoto que teve os pais assassinados), a  heroína levou alguns anos e roteiristas até chegar no que vemos hoje.

As origens da Mulher Maravilha

Criada por um psicólogo para representar o amor

Em 1941, durante um momento em que o gênero de quadrinhos via o nascimento de vários personagens icônico, época que ficou conhecido como Era de Ouro, o psicólogo Moulton Marston se juntou ao desenhista H. G. Peter para criarem a Mulher Maravilha. Com o sucesso de Superman (1938) e Batman (1939), vários heróis genéricos e rasos foram surgindo para pegar carona. Segundo o que foi discutido no podcast Terra Zero que falou sobre as origens da personagem, a Mulher Maravilha já nasceu com conceitos bem estabelecidos.

Marston queria fugir do conceito violento de outros personagens, queria que sua criação tivesse o amor como motivação. A ideia de que uma mulher seria um melhor símbolo disso teria partido de sua esposa, a também psicóloga Elizabeth Marston.  Por viver um relacionamento bigâmico, sua outra parceira também ajudou na concepção. Olive Byrne participava do movimento feminista dos anos 1940 e mostrou para Marstson a importância de alguns desses ideais.

Conceitos iniciais

Dentro das histórias, a ilha onde vivem as Amazonas é acidentalmente visitada por Steve Trevor, um piloto dos Estados Unidos. Até aí, tudo meio parecido com o filme, né? Começa a mudar quando as guerreiras organizam um torneio para sabem quem teria o direito de levar Trevor de volta ao seu país e Diana vence. No mundo dos homens, a Mulher Maravilha se junta ao grupo conhecido como Sociedade da Justiça e passa a integrar as histórias desses outros heróis em histórias que se passavam durante a Segunda Guerra.

Outros fatores que já apareciam nessa primeira história são os deuses gregos. Mas aqui a dualidade ficava por conta de Áries, deus da guerra e vilão do filme com Gal Gadot, e Afrodite, que nesses gibis servia como uma espécie de patrona das amazonas, conceito deixado de lado nos anos seguintes.

Enaltecendo a sabedoria e força femininas mostradas numa sociedade sem homens em que as mulheres eram, por definição, seres superiores, as primeiras histórias da Mulher Maravilha serviam como uma utopia feminista, segunda avalia o podcast.

Virando clichê + contato com mitologia

Quando os roteiros caíram nas mãos do roteirista Robert Kanigher, em meados dos anos 60, as histórias perderam seu tom feminista e subversivo e a personagem caiu no clichê da típica personagem feminina na época, como analisou o site Comic Book.

Apesar disso, Kanigher deixou um conceito interessantes mais ligados ao mundo grego: Diana ganhou em sua nova origem a beleza de Afrodite, a sabedoria de Atena, a força de Hércules e a agilidade de Hermes.

Fase da "Espiã Maravilha"

Os anos 1970 da Mulher Maravilha são dignos de serem apagados de sua cronologia. Tanto que servem de exemplo do que nunca deve ser feito com a personagem. Baseando-se num seriado britânico de espionagem que se chamava “The Avengers”, mas sem relação nenhuma com o super grupo da Marvel, Diana perdeu seus poderes, investiu em artes marciais, adotou um uniforme branco e teve histórias mais próximas do cotidiano. Quem leu, diz que as histórias são até interessantes, mas não tem nenhuma ligação com as origens da Mulher Maravilha.

Personagem foi salva pelas feministas

Capitaneada pela feminista Gloria Steinem, uma campanha mostrava a importância da Mulher Maravilha para todas as mulheres na época e como retirar os poderes da personagem trazia uma série de problemas. Por isso, a fase espiã durou apenas quatro anos.

Recriação pós-crise

Em 1985, a DC Comics inaugurou o que hoje é conhecido como mega-saga nos quadrinhos. A “Crise nas Infinitas” apagou toda a cronologia até então dos personagens da editora e, no fim da saga, permitiu que os roteiristas criassem tudo de novo, respeitando alguns conceitos, mas principalmente modernizando os heróis e vilões. Dessa forma, George Perez assumiu o comando criativo da revista da heroína.

Foi nessa fase que Diana virou embaixadora de Temiscira no mundo do patriarcado, tendo como missão trazer paz no mundo dos homens. Outros elementos introduzidos foram o helenismo, fortemente baseado na mitologia grega. Algo que também se aproxima da Diana de Gal Gadot é a questão das estranhezas e sustos da personagem quando se depara com o mundo dos homens.

Filha de Zeus

Em 2011, a DC organizou mais uma reformulação de sua linha editorial, a qual chamou de “Novos 52”.  Dessa vez, quem ficou a frente do título da Mulher Maravilha foi Brian Azzarello, que inseriu dois conceitos importantes que podem ou não terem sidos usados no filme – não vamos entregar spoilers aqui: Diana é filha de Hipólita, rainha das Amazonas, com Zeus, deus dos deuses e, além disso, deixa de ser tão pacifista quanto antes. Tanto que, no fim de seu arco, por exemplo, ela se transforma na nova deusa da guerra.

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