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Ghost in The Shell: o que há de tão incrível no anime que inspirou Matrix e novo megafilme?

Publicado 30 Mar 2017 – 11:30 AM EDT | Atualizado 27 Mar 2019 – 09:08 AM EDT
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Você diria que um objeto tem alma? Dá para dizer que uma pessoa sente um carinho por algum brinquedo de infância, mas falar que esse sentimento é recíproco só seria possível se estivéssemos conversando sobre algum personagem de Toy Story. Ghost in the Shell até é um longa animado lançado no mesmo ano de 1995, mas não é esse tipo de desenho.

Dirigido por Mamoru Oshii, a produção japonesa foi baseada no mangá escrito quatro anos antes por Massamune Shirow. A estética futurista muito baseada no cyberpunk e com forte presença de armas tecnológicas e ciborgues pode começar a ser explicada pelo fato de que Shirow tem formação acadêmica em artes e também em engenharia mecânica.

Mas tanto o anime quanto o mangá vão muito além disso e instigam pesadas discussões existenciais a partir dos três personagens principais e da trama que se desenvolve em torno deles. 

Eles foram uma grande inspiração para um importante filme da atualidade, Matrix, e agora chega aos cinemas uma adaptação live-action protagonizada pela atriz norte-americana Scarlett Johansson que mescla elementos do mangá, do anime original e de outras séries que vieram depois. 

Elementos de Ghost in the Shell de 1995 discutem a essência humana

Criação da alma

No ano de 2029, todo ser humano tem algum implante tecnológico no corpo. Seja para aprimorar a visão, aumentar a força física, acessar uma rede de dados ou conseguir atirar melhor, todo mundo acabou anexando algo tecnológico ou até mesmo transferindo a própria consciência para um corpo cibernético. E isso gerou uma grande discussão sobre corpo e mente, máquina e alma.

A Major Motoko Kusanagi é a personagem que guia o filme. Ela lidera uma divisão do governo japonês focada no antiterrorismo virtual, a Seção 9. De humano nela, apenas o cérebro “dentro do crânio de titânio”, como explica seu colega de trabalho, ligado de alguma forma ao corpo humano que a Major apenas sabe que possuiu e existe em algum lugar, mas do qual não se lembra, já que ela teve de ter suas memórias originais apagadas para entrar na força policial que trabalha.

Durante boa parte do filme vemos a Major levantando questões existenciais e procurando saber, ou até afirmando qual seja, o lugar de ciborgues naquele mundo, quase sempre se diferenciando dos poucos humanos que restam. “Algumas vezes precisamos de um toque humano, pois apesar de não sermos como eles, precisamos de algo que eles têm: a individualidade”, diz a personagem em um trecho do filme.

O toque humano da equipe principal fica por conta de Togusa, policial recrutado pela Major que questiona o que ele faz numa equipe cheia de seres mais bem preparados do que ele. “Precisamos de um cara como você”, explica a personagem. “Se todos nós reagíssemos do mesmo modo, seríamos totalmente previsíveis e há sempre vários modos de se ver uma situação. O que é verdade para o grupo, também é verdade individualmente. É simples”. 

No meio dos dois extremos há Batou. Se levarmos em conta o velho ditado que diz que “os olhos são janelas da alma”, seria impossível penetrar na mente do personagem porque ele trocou justamente os globos oculares por próteses robóticas. Botou é mais ciborgue que Togusa e mais humano que a Major, mas não chega a ser efetivamente um dos dois seres, mostrando que nesse universo há espaço para outros tipos de alma.

Há um fantasma na máquina

Shirow, autor original da obra, desenvolveu um conceito de alma que se trata da consciência/individualidade humana migrando para corpos cibernéticos. O nome do anime é baseado no livro “Fantasma na Máquina”, no qual o autor Arthur Koester se refere a um estudo que o filósofo Gilbert Ryle realizou sobre o dualismo mente-corpo apresentado por René Descartes.

Partindo do pressuposto que uma máquina é um ser vivo, a contribuição de “Ghost in the Shell” na discussão é questionar se uma máquina seria capaz de ter alma, ou mesmo criar algo do tipo.

“Talvez o meu eu verdadeiro tenha morrido há muito tempo e eu seja um replicante num corpo de ciborgue e mente de computador. Talvez não exista mesmo um ‘eu’. Me sinto humana pelo modo como sou tratada. Sei que existo porque o meio que vivo me diz isso. Mas e se um cérebro cibernético conseguisse gerar uma alma, como então eu poderia acreditar em mim mesma?” - questionamento da protagonista durante o filme

Dessa forma, o vilão da história, chamado apenas de Mestre dos Fantoches, se trata de uma alma consciente sem corpo – algo inédito dentro do universo do anime. Os personagens nunca haviam se deparado com um ser dessa espécie e questionam como sua existência é possível.

Ele teria se formado a partir da própria rede tecnológica daquele mundo e usado esses dados para invadir outros robôs e sistemas de segurança, hackeando diversos paradigmas existentes na sociedade de “Ghost in the Shell”.

É um vírus? Um ser vivo? Uma alma? A própria Major se faz essas perguntas, instigando o público a questionar quando e onde a mente/alma começa e termina e quais os limites disso.

Inspiração para Matrix

Se o vilão que talvez seja um vírus de computador te lembrou “Matrix”, não foi por acaso. Uma das contribuições para cultura pop mais famosas do anime é ter servido de referência para o filme das irmãs Wachowski, outro marco da ficção científica.

Das letras verdes que correspondem ao código da rede ao cabo que os personagens conectam na nuca, passando até por tomadas inteiras do filme, há varias referências do anime dentro de Matrix.  

Nos idos dos anos 90, quando Lily e Lana Wachowski apresentaram o projeto do filme para estúdios de cinema, colocaram o DVD do longa animado e disseram: “queremos tornar isso real”.

A lista de filmes inspirados em “Ghost in the Shell” contém outras obras como “Eu, Robô”, “Avatar” e “I. A. Inteligência Artificial”. Em graus diferentes, essas produções se basearam no anime japonês tanto em quesitos estéticos quanto roteiro. Recentemente, a série "Westworld" também mostrou elementos visuais que se assemelham a trechos do anime na parte que apresenta a criação dos robôs.

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