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Manic Pixie Dream Girl: a personagem machista disfarçada de “garota ideal”

Publicado 31 Mar 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:43 AM EDT
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“Só porque uma garota bonita gosta das mesmas coisas bizarras que você não significa que ela é a mulher da sua vida”. Essa fala vem do filme “500 Dias Com Ela”, em que uma personagem tenta consolar Tom (Joseph Gordon-Levitt), que está apaixonado por Summer (Zooey Deschanel), uma das maiores expoentes do estereótipo “garota dos sonhos”. E você pode até não ter reparado ainda, mas essa mesma personagem está presente em tantas histórias que até ganhou um termo próprio: “ manic pixie dream girl”.

O termo foi cunhado pelo crítico de cinema Nathan Rabin em 2005, quando fez uma análise da comédia romântica “Tudo Acontece em Elizabethtown”. Inspirado na personagem de Kirsten Dunst, o crítico identificou um estereótipo utilizado em dezenas de filmes desse e de outros gêneros e que, apesar de passar despercebido, representa um imaginário sexista e problemático.

Como identificá-las

As “manic”, segundo Nathan Rabin, são garotas que se encaixam em todos os padrões de beleza, mas que não são “iguais a todas as mulheres”. Elas têm manias estranhas, gostos muito excêntricos e uma personalidade aparentemente forte. É exatamente o caso de Claire (Dunst) em “Tudo Acontece em Elizabethtown”, de Summer, e de uma infinidade de outras “mocinhas” que, ainda de acordo com Nathan, representam a imagem de uma mulher existe apenas na mente dos roteiristas.

Caminhando na contramão das “femme fatale”, que fizeram muito sucesso no cinema ao longo das últimas décadas, as “manic” parecem até garotas comuns, meio desajustadas, solitárias e discretas, apesar do espírito selvagem. Mas para a cineasta e roteirista Carolina Warchavsky, trata-se praticamente de uma releitura do estereótipo antigo. “Elas são uma visão mais jovem e moderna das femme falate. A aparência até mudou, mas, no fim das contas, o papel é o mesmo”, explica a autora da pesquisa “Protagonismo Feminino:Construindo mulheres difíceis para a TV Norte-americana”, pela PUC-Rio de Janeiro.

Agindo como interesse romântico dos protagonistas, elas geralmente são responsáveis por mostrar a eles um outro lado da vida., mas sua profundidade para por aí. “Elas nunca são muito inteligentes, ambiciosas ou com muitas camadas de personalidade. Têm um papel de apoio para que o protagonista possa evoluir como personagem”, ressalta Carolina.

Consegue se lembrar de algumas?

Por que a 'manic girl' é um problema?

A grande questão em torno das “manic” é que elas continuam sendo um arquétipo, mas disfarçadas de construções originais e libertas de padrões. Apesar de parecerem mais reais por andarem justamente em sentido oposto às “mulheres inatingíveis”, elas, na realidade, ainda representam um imaginário estereotipado. “A falta de mulheres em papeis de direção e roteiro também contribui para isso. Essas personagens vêm da imaginação masculina que, claro, pode construir ótimos personagens, mas que muita vezes cai no estereótipo. Ás vezes, simplesmente porque não conhecem a realidade da vida da mulher”, comenta Carolina.

Por isso, é comum que esse tipo de personagem, apesar das particularidades, acabem caindo e se encaixado em uma série de padrões. “No final, quase nenhuma mulher se enxerga representada nas produções (que não são poucas) que tratam personagens femininas assim. Porque a história não é sobre elas, é sobre um homem que por acaso se envolve com elas e que servem para o propósito dele”, explica.

Personagens que fogem do estereótipo

A boa notícia é que algumas personagens vêm quebrando esse arquétipo nos últimos tempos e são construídas em cima de aspectos importantes: elas são independentes, autossuficientes e carregam suas próprias batalhas. Para a cineasta, papeis de artistas como Amy Poehler e Tina Fey – que além de atuarem, também escrevem – são alguns exemplos atuais dessa mudança.

“Melissa Rosenberg (produtora de “Jessica Jones”, da Netflix”), por exemplo, explicou quando mulheres começam a se envolver na indústria e escrever personagens é mais fácil fazer com que o público feminino se veja mais representado. Histórias como a da Jessica Jones são um exemplo: são histórias sobre mulheres, que não se apoiam nos personagens masculinos, que têm seus próprios dilemas, desafios, camadas de personalidade”, comenta Carolina.

Conheça algumas personagens que fogem do estereótipo:

Personagens marcantes

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