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Muito tempo sem dormir? Cérebro pode passar a “alimentar-se de si mesmo”

Publicado 14 Jul 2017 – 11:37 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Cientistas italianos observaram o que a privação de sono é capaz de fazer em cérebros de ratos e descobriram efeitos alarmantes. Um deles diz respeito à perda irreversível de sinapses, pois a atividade de células do órgão passa a funcionar como se o cérebro se alimentasse de si mesmo.

O estudo publicado no The Journal of Neuroscience revelou que passar longos períodos sem dormir fez o cérebro dos camundongos começar a fagocitar uma quantidade significativa de neurônios e conexões sinápticas. E recuperar o sono pode não ser capaz de reverter o dano.

O que ocorre no cérebro se não há descanso?

Fagocitose é um processo em que células ingerem ou destroem outras partículas, algo que ocorre no cérebro com as células microgliais que "limpam" informações antigas e desgastadas. Já as sinapses que o cérebro não precisa mais usar são "podadas" pelos astrócitos.

Quando dormimos, o cérebro se auto-regula para se desfazer de atividades desnecessárias do dia. Neurocientificamente falando, os resíduos tóxicos da comunicação celular cerebral são descartados e limpos. É como se uma equipe de lixeiros recolhesse o que o cérebro decide jogar fora.

Mas, de acordo com a pesquisa italiana, passar longos períodos sem dormir faz com que esses "lixeiros" entrem no cérebro e levem itens muito importantes para um bom funcionamento cerebral. O dano foi bem maior.

Resultados da pesquisa

Pela primeira vez, a equipe de pesquisa conseguiu comprovar que partes de sinapses são literalmente consumidas por astrócitos por causa da perda de sono. Para chegar a essa conclusão, cientistas  os ratos em quatro grupos de estudo:

  • ratos bem descansados, que dormiram de 6 a 8 horas;
  • ratos que eram periodicamente acordados durante o sono;
  • ratos mantidos acordados por 8 horas;
  • ratos mantido acordados por 5 dias seguidos.

Depois, a equipe recolheu os dados para comparar a atividade dos astrócitos nas sinapses dos quatro grupos - ou seja: foi analisado o quanto de atividade cerebral essas células podaram, quanto maior a presença, maior o dano. Os dois primeiros mostraram 5,7% e 7,3% de atividade dos astrócitos nas sinapses. Atividade bem diferente foi observada nos outros camundongos porque os astrócitos em seus cérebros comeram partes importantes das sinapses. Os ratos que ficaram acordados por um certo período de tempo apresentaram astrócitos em 8,4% das sinapses. Já os que não dormiram tiveram a alarmante presença de 13,5% de atividade desse tipo de célula neurológica. 

Danos maiores da falta de sono

Para os cientistas, a maioria das sinapses comidas pelos astrócitos se tratava de informações mais antigas, o que na verdade até pode ser algo bom. O problema foi que a atividade das células micróglias também aumentou muito no cérebro dos ratos privados de sono. A atividade microglial vem sendo associada a alguns tipos de problemas neurodegenerativos - como o Alzheimer.

Segundo o estudo, a restrição severa de sono ativa a fagocitose da sinapse pelas micróglias (as células do sistema nervoso começam a destruir e se alimentar de partículas cerebrais) sem a presença de outros fatores de inflamação cerebral.

Isso sugere que ficar muito tempo sem dormir deixa a atividade microglial quase permanente. "Esses resultados sugerem que a perda crônica do sono, através da ativação da micróglia, pode predispor o cérebro a danos maiores", concluiu o estudo.

"A restrição crônica do sono ativa a micróglia, promovendo sua fagocitose, e faz isso na ausência de sinais abertos de neuroinflamação, sugerindo que, como muitos outros estressores, uma interrupção prolongada do sono pode levar a um estado de ativação de micróglia sustentada, talvez aumentando a susceptibilidade do cérebro a outras formas de dano."

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