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Alzheimer começa a encolher o cérebro 10 anos antes dos sintomas: o que mais ele faz?

Publicado 30 Jun 2017 – 09:30 AM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 04:56 PM EDT
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O Alzheimer causa danos cerebrais que prejudicam praticamente todas as funções corporais. Essas alterações no sistema nervoso começam até 10 anos antes de surgirem os primeiros sintomas e, com o passar do tempo, se tornam cada vez mais graves. Entenda, a seguir, o que acontece em cada fase da doença e como a lesão é capaz de comprometer de maneira tão contundente a vida humana.  

Dano cerebral começa 10 anos antes

Quando os primeiros sintomas da Doença de Alzheimer começam a aparecer, o cérebro do paciente já sofre com os efeitos da enfermidade há pelo menos uma década. Ou seja, dez anos antes de apresentar sinais de sinais de senilidade, esquecimentos, confusões mentais etc., o cérebro de quem tem Alzheimer já é afetado pela doença.

Encolhimento e inflamação no cérebro

Duas características são notadas em quem, dez anos depois, apresenta a doença. Uma delas é uma leve, porém crônica, inflamação do sistema nervoso central. A outra é o início de encolhimento de partes do cérebro doente, nas regiões onde se concentram as habilidades de memória, aprendizagem e planejamento.

O encolhimento precoce do cérebro foi descoberto em um estudo realizado pela Academia Americana de Neurologia, publicado na revista científica Neurology. Nele, 65 pessoas foram acompanhadas por até 11 anos. Do total, 15 desenvolveram a doença e foi constatado que há uma relação entre a diminuição do volume da atividade cerebral nestas pessoas e o surgimento do Alzheimer com até dez anos de hiato.

"Nós também descobrimos que aqueles [pacientes] que expressam este marcador da doença de Alzheimer no cérebro eram três vezes mais propensos a desenvolver demência nos 10 anos seguintes do que aqueles com medidas mais altas [de atividade cerebral]", disse o autor do estudo, Bradford Dickerson, da Universidade de Harvard, em comunicado oficial.

Embora a correlação da doença com encolhimento cerebral e inflamação do sistema nervoso já seja conhecido, ainda não há um mecanismo eficiente para combater o avanço do Alzheimer, explica o neurologista Norberto Ferreira Frota, da Academia Brasileira de Neurologia.  “Diversas pesquisas estão focando nos pacientes com alterações patológicos da doença, mas sem sintomas ou com sintomas muito discretos, e infelizmente os estudos ainda são todos negativos”, informa. “Existe, sim, um processo inflamatório nessa doença, mas não temos prova que diminuir esse processo consiga impedir a doença de progredir”.

Qual a origem do Alzheimer no cérebro?

Dois fenômenos concomitantes são os fatores que causam a doença: as placas senis e os emaranhados neurofibrilares, ambas resultado de disfunções proteicas. Quando ambas ocorrem no cérebro resultam na morte em massa de neurônios e, consequentemente, diminuição de seu tamanho.

Placas senis

A formação das placas senis tem na proteína beta-amilóide sua principal vilã. Fabricada na membrana gordurosa que envolve os neurônios, a beta-amilóide tem uma composição química que favorece seu agrupamento. “Quando os mecanismos de limpeza desses fragmentos está defeituoso ou a produção está aumentada, ocorre o acúmulo dessas substâncias e a formação das placas senis”, explica Norberto Frota.

As placas bloqueiam a transmissão de informação e nutriente entre as células nervosas e podem ativar o sistema imunológico, que, ao agir, destrói os neurônios.

Emaranhados neurofibrilares

Os emaranhados se formam também em decorrência do mau funcionamento de uma proteína, neste caso a tau. A tau é um dos elementos fisiológicos que mantêm o filamentos neurais em ordem - eles são o meio de transporte dos nutrientes dos neurônios. Quando a proteína falha em sua missão, os filamentos começam a se torcer até formarem os emaranhados; assim, podem até se romper e não conseguem mais transportar alimento às células, que morrem.

“Apesar de parecer ser um evento secundário (se iniciar após a deposição de da proteína beta-amiloide), os emaranhados neurofibrilares parecem ter mais correlação com o quadro clínico que as placas senis”, alerta o neurologista.

Onde Alzheimer age e seus estágios

A doença avança lenta e silenciosamente por até mais de dez anos, mas quando seus sintomas começam a manifestar, pode haver rápida progressão. Não há regra: o curso da doença depende das condições clínicas do paciente e de sua idade. Em média, as pessoas vivem oito anos com o problema, mas há casos em que a sobrevivência é de mais de duas décadas. Entenda como o Alzheimer afeta o cérebro:

Estágio inicial

A forma mais comum na qual a doença começa a se manifestar é pelo hipocampo do cérebro e no córtex entorrinal, que compromete a capacidade de armazenar informações novas. É a área responsável pela memória, aprendizagem, planejamento e pensamentos mais complexos.

Identifica-se, em geral, que depois aparecem complicações em raciocínios mais simples, desorientação espacial e problemas com a linguagem. “A doença pode se iniciar também de outras formas, depende de onde estão concentrados [placas senis e emaranhados]”, informa o médico.

No estágio inicial, contudo, esses sintomas são praticamente imperceptíveis. São mais nítidos no grau seguinte.

Estágio leve a moderado

Este é momento no qual a doença, de fato, se manifesta e os sintomas do estágio inicial são notáveis. Os lapsos de memória são mais comuns e o raciocínio é mais truncado. É comum haver confusões sobre eventos do passado mais próximo com o passado recente e dificuldade em lidar com dinheiro.

Do ponto de vista neurológico, as placas e os emaranhados começam a se espalhar para a parte frontal e anterior do cérebro. São as regiões que lidam com fala e compreensão de linguagem e inteligência espacial, ou seja, percepção de seu corpo em relação ao ambiente.

Os efeitos da doença começam a interferir na vida social e profissional. Quando amigos e familiares notam, geralmente é o momento em que o Alzheimer é diagnosticado.

Estágio grave

Quando a doença chega a este grau, há pouco a se fazer. Há perda da capacidade de comunicação, de reconhecer pessoas próximas e até de simples atividades fisiológicas, como alimentação ou evacuação. As pessoas resistem no máximo cinco anos nesta fase.

No estágio avançado, quase todo córtex cerebral já está bastante danificado. Com a morte massiva dos neurônios, seu tamanho pode encolher até 20% em relação ao período anterior à doença.

Alzheimer em dados

Nos Estados Unidos, a doença neurológica já é a sexta maior causa de morte: 3,6% dos óbitos são resultado da doença, que aflige 5,5 milhões de norte-americanos. No Brasil, a estimativa é que 1,2 milhão de pessoas sofra da doença. Os dados do Ministério da Saúde indicam que mais de 17 mil brasileiros tenham morrido devido ao Alzheimer em 2015.

Embora tenha a hereditariedade como um de seus fatores, a influência genética é responsável por, no máximo, 5% das variáveis que compõem a causa do Alzheimer, de acordo com o Instituto Alzheimer Brasil. Mulheres apresentam mais riscos (numa proporção de 3 para 2) e é mais comum que surja a partir dos 65 anos.

Prevenção e cuidados para o Alzheimer

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