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Por que sentimos dor? Emocional ou física, sensação tem mecanismos diferentes

Publicado 25 Mai 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 08:38 AM EDT
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É verdadeira aquela velha história de que a dor é uma ferramenta de defesa e de proteção do corpo. Mais que isso, é uma característica necessária para a evolução da espécie, uma vez que nos deixa alerta de há algo de errado acontecendo em nosso corpo.

Há, como você mesmo já deve ter tido a experiência, diversos tipos de dor. As rápidas, como quando cortamos o dedo, e outras mais lentas, como a sensação do dia seguinte da academia. Existem também dores emocionais, de um coração partido ou de um grave sofrimento mental, como a depressão, por exemplo. Para gerar cada uma delas, o corpo tem um mecanismo e, portanto, há diferentes formas de lidar com elas. 

Como a dor age no corpo?

Cada terminação nervosa de seu corpo está conectada ao sistema nervoso periférico, que as liga ao encéfalo e cérebro (órgão que determina cada função do organismo) e gera sensibilidade a temperatura e toque.

A mesma lógica vale para a dor: os incontáveis sensores que temos distribuídos pelo corpo, quando impactados, geram sinais que percorrem todo o sistema - passando pela medula, que corre dentro das vértebras - e chegam ao cérebro.

“A dor passa por várias etapas do sistema nervoso. Na espinha dorsal e na medula, os sinais de dor são modulados para chegar de forma correta ao cérebro”, explica Paulo Renato Fonseca, anestesiologista especialista em terapia intervencionista em dor e diretor científico da Sociedade Brasileira para Estudos da Dor.

Dentro do próprio sistema há modulação da intensidade do estímulo causado pela dor. Quando se tem uma lesão muito aguda, o estímulo precisa ser estabilizado para que o cérebro entenda a mensagem. Quem sofre de dor crônica não tem essa capacidade de modulação.

Este mecanismo explica por que quando, eventualmente, sofremos um acidente, a dor não é tanta, embora haja uma lesão grave - há modulação na chegada do estímulo sensível ao cérebro. Quando o estímulo é muito forte, a ponto de não ser possível filtrá-lo, pode causar pane no cérebro e causar desmaios.

Dor vai e volta

A ideia de que a dor se movimenta no corpo humano é antiga. Aristóteles, três séculos antes de Cristo, foi um dos primeiros a sugerir que a dor teria um sensor na pele e seria codificada no cérebro.

René Descartes, no século 17, sistematizou pela primeira vez essa organização de estímulos até o cérebro. Este processo demonstrado em Descarte é conhecido como via ascendente da dor.

Hoje, no entanto, sabe-se que é apenas metade do caminho: os estímulos sobem até o cérebro, mas voltam novamente a seus sensores, pelo mesmo caminho.

“A parte descendente é a via dolorosa, é a etapa físico-química, da busca do equilíbrio das substâncias que facilitam a percepção da dor”, explica o médico. “O sensor se torna menos responsivo, assim o cérebro pode ajudá-lo a agir”.

Tipos de dor

De maneira geral, podemos separar as dores em dois tipos. A dor natural, que faz parte e é necessária ao organismo, que é a dor aguda. E há a dor crônica, que é uma patologia que não tem benefício nenhum. Fora essas, há a dor emocional. Quem nunca a sentiu?

Dor aguda

Na dor aguda, podemos encontrar duas modalidades. A de via rápida, que é quase um reflexo a um estímulo imediato. É a sensação proveniente de batidas, lesões, cortes, etc. Do ponto de vista evolutivo, é a mais recente manifestação de dor do corpo humano.

A outra via é a lenta. É o primeiro tipo de dor que nós, humanos, sentimos, ainda na barriga de nossas mães - começa a se desenvolver a partir da vigésima oitava semana.

A dor de via lenta é a que fica depois das lesões agudas. Resultado dos efeitos químicos, ela é contínua.

Dor crônica

“É um fenômeno biológico, químico, emocional e social que só traz sofrimento ao indivíduo”, resume Dr. Paulo Renato. Ele explica que a dor passa a ser considerada crônica após três meses sequenciais de incômodo localizado. Isso significa que toda dor crônica foi, a princípio, uma dor aguda.

“A dor crônica não é um sintoma, é a própria doença”, sentencia o médico. O sistema nervoso não tem condições de suportar dor por momentos longos, sua capacidade de modulação se perde e a pessoa fica, então, em uma condição de exposição prolongada à dor.

Embora tenha relação muito direta com doenças localizada, como artrite ou câncer, a dor crônica tem como fatores de risco aspectos emocionais. O anestesiologista informa que quem sofre de estresse, ansiedade e depressão tem sinais de sensibilização mais graves. No Brasil, o levantamento mais recente informa que 33% da população sofre com dores crônicas, sendo as mais comuns a dor de cabeça e a lombalgia - no mundo, o índice é de 22% a 44%, em média.

“Esta doença sempre existiu, mas agora há mais elementos que causam dor, como as LER por causa do computador, dores no pescoço por causa do celular e outras dores resultado de doenças degenerativas, consequência da maior expectativa de vida”, contextualiza o especialista.

Dor emocional

Um terceiro tipo de dor é aquela que, digamos, é resultado de processos internos do organismo. Se as dores de fundo físico dependem do impacto sobre sensores sensíveis em todo nosso corpo, a dor emocional é um processo que começa em nosso próprio cérebro - mas não deixa de ser menos real por isso.

A dor psicogênica ativa as respostas fisiológicas do organismo da mesma forma que a dor física. Ou seja, a partir das sinapses neurológicas, formam-se os neurotransmissores que atuam sobre outra área do cérebro e causam estresse, ansiedade, medo, depressão, etc.

“O alerta da dor consegue indicar a necessidade de um tratamento ou intervenção para interromper o estado patológico. Emoções são capazes de gerar estímulos em áreas cerebrais da mesma forma que as dores físicas o fazem”, esclarece Rita Costa, psicóloga especializada em programação neurolinguística da rede Doctorália.

Portanto, é possível que as ativações neurológicas ligadas à depressão ou estresse criem situações de dor. Se nosso cérebro entender que vivemos uma situação de ameaça ou perigo, ele estimulará a produção de hormônios, como adrenalina e cortisol, proporcionando a mesma reação fisiológica que a dor em si.

A psicóloga explica que quando o indivíduo é levado a perceber as demandas externas como superiores à sua capacidade de enfrentar a situação, poderão ocorrer uma série de reações que deixam de funcionar como proteção e passam a ser um desequilíbrio mais persistente: “Todas as formas de resposta ao eventos desencadeantes, quando se instalaram, tinham o propósito de garantir a proteção ao indivíduo. Contudo, se essas respostas deixam de atender ao fim de autopreservação, tornam-se sintomas e não mais representam proteção emocional”, afirma a psicóloga.

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