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Pantanal: como a natureza construiu a maior planície que alaga e desalaga do planeta?

Publicado 23 Mai 2017 – 06:01 AM EDT | Atualizado 11 Mai 2022 – 10:11 AM EDT
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Pantanal, Brasil Crédito: Dgwildlife/Getty Images/iStockphoto

O Pantanal é a maior planície inundável de todo o planeta, a uma altitude média de 100 metros acima do nível do mar. Sua área de mais de 210 mil km² abrange territórios do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai e apresenta uma das mais ricas biodiversidades do mundo.

As características do Pantanal em relação à temperatura, umidade, altitude, solo e presença de vida o credenciam como um bioma dos mais singulares que se pode formar na Terra. E este paraíso único existe devido a uma específica série de episódios geológicos.

Pantanal: como se formou?

A tese mais aceita entre os geólogos é a de que o Pantanal é resultado colateral da formação da Cordilheira dos Andes. O professor Mario Assine, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp, explica em seu artigo "Pantanal Mato-Grossense: uma dádiva geológica" que esta tese sustenta que o movimento de compressão e distensão dos Andes teriam interferido na constituição da planície elevada - a superfície teria sofrido uma sobrecarga e, então, subiu.

A hipótese alternativa a dos Andes é a de que o manto magmático sob a superfície da Terra teria passado por uma anomalia. Esta anomalia teria causado o soerguimento da crosta superior, dando forma ao Pantanal como conhecemos.

Não se sabe ao certo como o fenômeno se deu, mas há consenso de que ocorreu no período geológico Cenozóico. “Não sabemos exatamente quando começou, mas é [uma formação] ativa ainda hoje. A planície alagada do Pantanal sofreu muitas mudanças nas dezenas de milhares de anos, porque o clima variou. Nem sempre foi como é hoje. Houve tempos em que não havia tanta água”, explica Mario Assine.

Por que o Pantanal inunda?

O Pantanal faz parte daquilo que os geólogos chamam de unidade geomorfológica da Depressão do Alto Paraguai, um complexo de sedimentação do solo e bacia fluvial localizado no meio da América do Sul.

A Depressão Alto Paraguai é constituída por diversas unidades. Entre todas elas, o Pantanal é uma das mais recentes e mais baixas, o que cria condições para as famosas inundações sazonais pelas quais a região passa.

“O Pantanal é um grande sistema natural, integrado por diferentes sub-bacias hidrográficas. Tem sido subdividido em diferentes pantanais, sobretudo porque diferentes áreas apresentam características peculiares, especialmente com relação à natureza e período de inundação”, escreveu o professor Mario Luis Assine em seu estudo. 

Esses vários recortes de Pantanal são compostos de leques aluviais, que são formações sedimentares com formação irregular em formato semelhante ao de um leque. O maior de todos eles é o megaleque do Taquri, de aproximadamente 50 mil km²m, equivalente a 37% de todo bioma. O que dá unidade a todos eles é exatamente sua principal fonte hídrica: o tronco do rio Paraguai.

Biodiversidade

A biodiversidade pantaneira é gigante. A flora apresenta pelo menos 3,5 mil espécies de plantas e a fauna é também extremamente complexa: são catalogadas 124 espécies de mamíferos, 463 de aves e 325 de peixes, além de milhares de insetos.

Dois fatores explicam tal diversidade. Primeiro a natureza geológica do bioma, que permite grandes porções de áreas alagadas, locais propícios à diversas formas de vida animal e vegetal. E também pela posição geográfica, uma vez que o Pantanal se localiza no encontro de três grandes biomas: Amazônia ao norte, Cerrado ao leste e nordeste e Estepe Chaquena ao sudoeste.

Paisagem

Sistemas aluviais, como o Pantanal, tem uma estrutura de superfície que, por sua própria composição sedimentar, mudam constantemente. Sobretudo nas regiões próximas aos rios, afinal seus períodos de seca e cheia preenchem ou esvaziam os sedimentos que compõem o solo pantaneiro.

“Tais mudanças são induzidas por processos cíclicos, tais como movimentos tectônicos e mudanças climáticas. Por isso, a paisagem do Pantanal está continuamente mudando”, conclui o geólogo.

Natureza do Brasil

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