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Descoberta: foz do rio Amazonas tem coral gigantesco, mas ele pode estar em risco

Publicado 5 Mai 2017 – 06:01 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:13 AM EDT
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Descoberto recentemente, o recife de corais localizado à foz do rio Amazonas já nasceu gigante em tamanho e em risco. O estudo que confirmou sua existência foi publicado somente em 2016 e surpreendeu os pesquisadores: este novo bioma marinho ocupa a costa brasileira do Maranhão ao Amapá, com área total de 9.500 km², 20% maior que a região metropolitana de São Paulo.

Ainda há pouca informação sobre esse enorme conjunto de corais do ponto de vista científico. Uma coisa, contudo, já se sabe: o bioma corre risco de ser irreversivelmente afetado pela exploração de petróleo na região.

Coral amazônico: o que sabemos sobre ele?

Em extensão, a barreira de corais tem quase mil quilômetros, na região onde o rio Amazonas encontra o oceano Atlântico. Os recifes se localizam em profundidades que variam entre 25 e 120 metros de profundidade - isto inclui gigantes esponjas de mais de 2 metros de comprimento.

Em entrevista à Folha de São Paulo, o biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro Fabiano Thompson, um dos autores do artigo publicado na prestigiada revista Science, ressalta que o bioma ainda é praticamente desconhecido. "Mapeamos apenas 5%. Precisamos descobrir praticamente tudo: a arquitetura dos recifes, as dimensões, a composição específica em termos de organismos, o funcionamento", disse.

Em janeiro de 2017, a ONG internacional Greenpeace realizou uma expedição científica à região para estudar o novo bioma marinho. Os pesquisadores puderam confirmar que há enorme diversidade de espécies, foram encontradas 30 diferentes espécies de esponjas, e especular que o tamanho seja ainda maior.

“Há indícios para que a área seja duas ou três vezes maior que isso”, disse Ronaldo Francini Filho, docente da Universidade Federal da Paraíba, que participou da expedição.

Há vida nos corais

O estudo assinado por 38 pesquisadores, de 12 instituições brasileiras, explica que o enorme volume de água que o rio Amazonas descarrega no oceano (representa 20% de toda descarga global de rios para o oceano) resulta em fundos lamacentos na margem do continente. A região do Atlântico da região Norte do país é, portanto, bastante afetada em termos de salinidade, pH e penetração de luz - condições difíceis para o desenvolvimento de corais.

Acontece que a barreira continental amazônica, começou a se transformar, há cerca de 9 milhões de anos, em um sistema que os cientistas chamam de sisliciclástico. Neste sistema, encontra-se alta carga de sedimentos, mas é um habitat favorável para o desenvolvimento de biomassa bacteriana - e por isso que os corais puderam sobreviver ali.

Por conta da água barrenta proveniente do rio Amazonas, pouca água entra no oceano (há pontos com 2% de luminosidade), o que compromete o surgimento de espécies que necessitam da fotossíntese, caso dos corais comuns. Já os corais amazônicos usam as bactérias para produzir matéria orgânica e energia a partir de gás carbônico e outras substâncias presentes no mar, como amônia, ferro e enxofre.

Novas espécies estão surgindo lá

A expedição liderada pelo Greenpeace registrou evidências que podem levar à descoberta de três novas espécies de peixes: dois tipos de peixe-borboleta e um de budião-sabão. “O próximo passo é continuar o estudo, tentar encontrar esses peixes e estudá-los de acordo com o seu DNA. Só assim teremos certeza de que são uma espécie até então não catalogada pela ciência”, explica Ronaldo Francini Filho.

Ameaça aos corais

Além de guardar um rico tesouro do ponto de vista ambiental, a região da foz do rio Amazonas tem imenso potencial para extração de petróleo. De acordo com a Folha de São Paulo, a região já é explorada por três petroleiras, a francesa Total, a britânica British Petroleum (BP) e a brasileira Queiroz Galvão. Somadas, as três desembolsaram R$ 346,5 milhões pelas concessões do campo de extração.

Para o Greenpeace, a exploração de recursos naturais pode comprometer profundamente não só os estudos e pesquisas sobre as formas de vida locais, mas, principalmente, o desenvolvimento saudável dessas vidas. A atividade não só poderia exterminar o recife de corais, como também afetar todo o ecossistema da Bacia da Foz do Amazonas, incluindo animais em risco de extinção, como o peixe-boi-marinho, o tracajá e a ariranha.

“Essa expedição mostrou o quão pouco sabemos sobre nossos oceanos e o quão importante é protegê-los. Nós temos que evitar que a exploração de petróleo ameace esse único, novo e intocado bioma”, disse  Thiago Almeida, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

A ONG mantém a campanha Defenda os Corais da Amazônia, uma petição online para impedir a exploração dos recursos naturais da região.

Natureza em perigo

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