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ALH 84001: o que se sabe hoje sobre a rocha que pode ser prova de vida em Marte?

Publicado 25 Abr 2017 – 11:38 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:22 AM EDT
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Um pedaço de rocha de apenas 2Kg que vagou por 17 milhões de anos pelo espaço sideral até se chocar com a Terra pode ser a primeira prova de vida em Marte. A pedra marciana foi encontrada na Antártida em 1984 e desde então é objeto de debate na comunidade científica sobre carregar consigo registros de vida no planeta vermelho.

Não se tratam de vestígios de alienígenas de olhos gigantes e cabeças ovaladas, como nos filmes. O meteorito apresenta alguns elementos que se assemelham - ou, de fato, são - a fósseis de micro-organismos semelhantes àqueles que foram a primeira expressão da vida na Terra.

“No meteorito foram encontradas estruturas semelhantes a fósseis de cianobactérias que temos na Terra. Elas vivem nos oceanos e são produtores de fotossíntese, de oxigênio. São os micro fósseis mais antigos conhecidos”, explica Douglas Galante, pesquisador do departamento de astrobiologia do Instituto de Astronomia, Astrofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Rocha é prova de vida em Marte?

O ALH 84001 foi encontrado em 1984, mas os holofotes só brilharam sobre ele em 1996. Em agosto daquele ano, o cientista norte-americano David McKay divulgou um artigo na prestigiada revista Science no qual garantia que tais elementos eram realmente fósseis marcianos. O impacto foi tanto que McKay até deu entrevista coletiva ao lado do então presidente dos EUA, Bill Clinton.

Daquele momento em diante, a Nasa recebeu ainda mais aporte financeiro para investir em pesquisas sobre vida em solo marciano. No entanto, a comunidade científica resistiu à conclusão do trabalho: à época, e até hoje, foram encontradas inconsistências nos procedimentos metodológicos que levaram à tal “prova de vida em Marte”.

Galante explica que são analisados, por exemplo, elementos químicos e a morfologia dos eventuais fósseis para constatar minerais típicos que levariam à conclusão de que houve vida. “O debate perdura até hoje, mas é majoritária a visão de que os elementos não são suficientes para demonstrar vida no planeta”, afirma.

Novas descobertas em 2009

Em 2009, contudo, a equipe liderada por McKay atualizou seu trabalho utilizando equipamentos mais modernos e levando em conta os contra argumentos apontados por demais cientistas. O resultado foi mais preciso.

“Pensando-se que só existem duas hipóteses, a biológica e a não-biológica, então este estudo conclui que a hipótese não-biológica não é possível. Mas o estudo também não prova a existência de vida no meteorito”, escreveu o astrônomo Carlos Oliveira, do departamento de astrobiologia da Universidade do Texas, em artigo em seu  blog AstroPT.

Outro meteorito marciano soma evidências

Ainda que seja a evidência mais consistente até hoje sobre atividade biológica em Marte, o ALH 84001 não é o único meteorito marciano na Terra. Na verdade, há diversos deles. São poucos, contudo, que apresentam tais estruturas. Com tais características, em 2000 foi também encontrado na Antártida o Yamato 000593.

Embora sejam duas rochas marcianas, há consideráveis diferenças entre os dois meteoritos. O ALH 84001 é do tamanho de uma batata e chegou à Terra, estima-se, há 13 mil anos, depois de vagar por 17 milhões de anos entre os dois planetas. Sua idade geológica impressiona: tem entre 4 e 4,5 bilhões de anos, ou seja, é um pedaço de Marte em sua formação.

O Yamato 000593 é mais jovem e pesado. São 13,7Kg de massa rochosa, cuja formação os cientistas acreditam que se deu há 1,3 bilhão de anos, por meio da condensação do magma de Marte. O meteorito teria sido ejetado de Marte após o choque de um asteroide com o planeta. Viajou por 12 milhões de anos, até chegar à Antártida, há aproximadamente 50 mil anos.

Sinais de vida 

Publicado em fevereiro de 2014 na revista Astrobiology, o estudo que supõe existência de atividade biológica no Yamato 000593 foi realizado por parte da equipe que trabalhou no outro meteorito, anos antes.

À época, o pesquisador da Nasa Everett Gibson, um dos autores do trabalho, afirmou: “a presença de matéria carbônica associada a essas fases de argila mostra que Marte foi um corpo muito ativo no passado. O planeta tem revelado a presença de um reservatório de água ativo que pode também ter um componente de carbono significativo”. E carbono é o elemento fundamental para o desenvolvimento da vida.

Como micro-organismo conseguem viajar pelo espaço?

A teoria da panspermia consiste, resumidamente, em afirmar que é possível transportar vida entre dois planetas. No limite, entre dois sistemas estelares ou até galáxias.

“Já foram feitos muitos testes para saber se elementos vivos resistiriam aos impactos de saída e entrada da atmosfera, assim como a viagem pelo universo. E a resposta, em tese, é de que isso é possível. Os organismos seriam capazes de sobreviver”, releva Douglas Galante. “O que não se tem evidência é se já aconteceu”.

O que é possível, ressalta o pesquisador, é a transferência de material biológico entre planetas. A distância entre sistemas e, principalmente, galáxias, é grande o suficiente para supor que nenhuma vida poderia seria capaz de resistir por bilhões de anos no espaço.

De forma artificial [o termo científico é panspermia dirigida], contudo, nós, terráqueos, estamos já espalhando nossas sementes pelo espaço “Quando enviamos foguetes ou sondas, elas estão carregando formas microbióticas de vida”, explica Galante. “Ou seja, a gente é, também, o extraterrestre”.

Vida em Marte

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