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Por que deuses gregos e romanos são tão parecidos? História conta quem veio primeiro

Publicado 13 Abr 2017 – 12:52 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:28 AM EDT
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A relação entre Grécia e Roma é mais antiga do que o próprio nascimento dos mitos: há relatos de contato desde o século 12 a. C. Isso fez com que muitas tradições se misturassem ao longo de todo esse tempo. Inclusive os deuses adorados por ambas as culturas, que são muito parecidos. 

Deuses gregos são os mesmos que os romanos? 

Afinal, os deuses eram exatamente os mesmos na Grécia e em Roma? Sim e não. A grande maioria dos deuses romanos tem equivalente na mitologia grega, são adaptações bastante fiéis, inclusive. Mas a forma como a religião romana encara e explica as divindades é diferente, portanto é impossível afirmar serem as mesmas entidades.

Existe uma diferença fundamental: os gregos baseavam suas crenças nos mitos, já os romanos dedicavam atenção sobretudo aos rituais. Por isso, há muito mais registros de deuses originalmente gregos que romanos.

“Na Grécia, a mitologia era objeto de uma atenção cultural muito mais intensa do que em Roma, onde os rituais eram muitíssimo mais importantes”, esclarece o professor de história antiga e arqueologia Fabio Augusto Morales, da PUC-Campinas.

A profusão de deuses na Grécia era tanta que entre as próprias cidades gregas havia diferenças. Até mesmo no caso de Zeus, o mais poderoso deus da mitologia: havia o Zeus Frátrio, celebrado na Ágora de Atenas durante rituais de passagem de jovens à vida adulta, e havia também o Zeus Polieus, objeto de oferendas no altar da Acrópole de Atenas.

Por que são tão parecidos?

Grécia e Roma: muitos séculos de contato

Fabio Augusto Morales explica que as teorias tradicionais que compreendem a civilização grega como anterior - e portanto influenciadora - à romana podem ser insuficientes.

“Temos que lembrar que, ao mesmo tempo que se organizavam as cidades gregas, havia cidades etruscas e latinas na Itália, além das fenícias, egípcias. E todas elas tinham intensas trocas culturais”, conta.

Essas trocas podem ter se iniciado até 12 séculos antes de Cristo, bem antes do movimento de expansão da cultura grega pelo Mediterrâneo, que só foi ocorrer no século 7 a.C.

A partir da fundação de suas colônias, a Grécia ocupou gradualmente seus arredores: desde a região do atual Líbano percorrendo o norte da África até a Península Ibérica.

As colônias gregas que se instalaram ao sul da Itália e na Sicília tiveram contato com os diversos povos que habitavam a região, entre etruscos, latinos, sabinos e outros. “É a partir deste momento que é atestada a presença de traços da religião grega na Itália, em forma de mitos, imagens e rituais”, explica.

"Invocatio": havia um ritual que adotava deuses

A sociedade romana não tinha o mesmo ímpeto expansionista dos gregos àquela época. Pelo contrário, em alguns momentos históricos eram até um povo muito fechado em relação à incorporação de elementos de outras culturas.

Contudo, um ritual era bastante peculiar na relação de Roma com demais povos: o "Invocatio".

“Trata-se da prática, antes de uma batalha, de oferecer aos deuses do inimigo um templo em Roma para que esses deuses o abandonassem e ajudassem os romanos na guerra”, conta o historiador. Assim, os romanos enriqueciam sua religião com deuses de outras tradições.

Grécia era "zona franca cultural"

No livro “Greeks and Barbarians”, o historiador Kostas Vlassopoulos defende que os gregos tinham a cultura mais aberta de todo Mediterrâneo. Ou seja, era a que mais facilmente incorporava deuses, mitos e saberes estrangeiros. “Religião e ciência eram dois lados da mesma moeda trocada entre as culturas”, afirma Fabio Morales.

Para Vlassopoulos e Morales, a Grécia se portava como uma espécie de zona franca cultural. Há diversos exemplos: a arquitetura grega é bastante inspirada na egípcia; o alfabeto foi uma adaptação do alfabeto fenício; e até o deus Dionísio foi incorporado de religiões orientais.

Entre o século 7 a.C. e o fim do Império Romano, aquela região entre Ásia e Europa foi o ponto comum entre todas as culturas, assim como a língua grega foi a predominante. “É o equivalente à língua inglesa hoje, na qual um brasileiro, um bósnio e um vietnamita se comunicam”, compara o historiador.

Da Grécia para Roma

O historiador Fabio Morales cita dois casos de adaptação da religião e dos mitos da Grécia em Roma. O caso mais célebre é o de Héracles, que na tradução para a língua latina virou Hércules, sete séculos antes de Cristo. “Segundo a mitologia grega, em suas viagens ele teria conhecido as terras ocidentais e seus povos para construir pontes entre as sociedades”, conta.

A passagem do Zeus grego para o Júpiter romano se deu pela "interpretatio", uma prática de associar um deus local a uma nova entidade. “Não é que Júpiter seja uma tradução de Zeus, ele já era um deus cultuado em Roma e foi associado ao deus grego após contato das duas religiões”, releva o historiador. “Os próprios gregos fizeram isso com Amón, que era o equivalente ao Zeus dos egípcios, e por aí vaí…”.

Na história das mitologias, vemos também que nada se cria, tudo se copia.

Veja alguns deuses e seus nomes na Grécia e em Roma:

Zeus (Grécia) / Júpiter (Roma)

Líder dos deuses e dos homens, é o deus do céu, do trovão e do relâmpago.

Hera (Grécia) / Juno (Roma)

A rainha e patrona dos deuses, é a deusa da bondade e da família.

Poseidon (Grécia) / Netuno (Roma)

Irmão de Zeus/Júpiter e Hera/Juno, é o deus dos mares e dos maremotos.

Atena (Grécia) / Minerva (Roma)

Embora haja diferenças entre as duas, ambas são as deusas da sabedoria, da arte e da civilização.

Apolo (Grécia) / Apollo (Roma)

Filho de Zeus/Júpiter com uma deusa titã, Leto/Latona, é o deus da luz e da juventude.

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