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O que acontece no cérebro de quem tem Alzheimer: morte das células e neurônios

Publicado 31 Jan 2017 – 04:30 PM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Descoberto em 1906 pelo neurofisiologista alemão Alois Alzheimer, a doença conhecida como “ mal de Alzheimer” afeta diretamente o cérebro de modo lento e progressivo.

Pouco a pouco, as funções cognitivas do cérebro dos pacientes são destruídas. Até hoje não há cura para a doença.

Atenção, memória, inteligência e linguagem são afetadas pelo Alzheimer devido à atuação de uma proteína que se chama “tau”.

A “tau” se acumula e forma barreiras entre as conexões cerebrais. Com o passar do tempo, ou seja, o avançar da doença, essas barreiras ficam mais fortes e destroem as conexões entre os neurônios do córtex, responsáveis pela emoção, inteligência e percepção do nosso cérebro.

Com isso, o córtex encolhe. Quando esse encolhimento chega ao hipocampo, local do cérebro onde se armazenam as memórias e também está associado à aprendizagem e às emoções, o Alzheimer progride para outras áreas do cérebro, causando a morte das células e dos neurônios.

A perda de memória no Alzheimer vai dos fatos mais recentes para os mais antigos. “Assim, a pessoa pode não se lembrar de algo que ocorreu há uma hora, mas é capaz de contar com detalhes algo que aconteceu muitos anos atrás”, explica Mario Louzã, médico psicanalista do Instituto de psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

“Esses danos são irreversíveis e alteram todo o funcionamento intelectual, afetivo, comportamental e, mais tarde, físico da pessoa”, de acordo com matéria publicada no Jornal Médico The Lancenet Neurology e divulgada no Instituto Alzheimer Brasil.

“O paciente perde sua capacidade de pensar, aprender, lembrar, comunicar-se, realizar suas atividades e gerir sua vida com autonomia, necessitando de cuidados constantes de outra pessoa para continuar vivendo”.

Alzheimer causa morte celular dos neurônios

A ciência ainda não sabe dizer ao certo por que o Alzheimer causa uma morte celular, mas diversas análises microscópicas já foram feitas. A partir delas, é possível ter uma dimensão do estrago nos neurônios, causado pela proteína tau.

O tecido cerebral aos poucos se transforma em emaranhados, que os cientistas chamam de fosforilação da proteína tau. No entanto, essa é apenas uma das alterações patológicas do Alzheimer.

A outra alteração acontece devido à atuação da placa beta-amiloide. Mesmo quem não tem diagnóstico de Alzheimer produz essa placa, tanto que há evidências de que nossos neurônios precisam de uma pequena quantidade de beta-amiloide para funcionar direito.

Em relação ao Alzheimer, porém, a beta-amiloide tem uma concentração muito maior do que deveria nos neurônios. Elas surgem como pequenas pecinhas que formam um obstáculo na transmissão neuronal, bloqueando a sinalização das células (ou sinapses) e afetando a conexão das memórias dos pacientes.

Alzheimer no Brasil afeta 1,2 milhão de pessoas 

Estima-se que a doença afeta pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Pelo menos 10% dos indivíduos com mais de 65 anos, e 40% dos que têm mais de 80, têm Alzheimer.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que no Brasil pelo menos 1,2 milhão de pessoas  têm a doença, classificada como neurodegenerativa.

Especialistas dizem que, em 2050, pelo menos 25% da população será idosa, por conta do aumento da longevidade em todo o mundo. Isso, naturalmente, levaria a um grande aumento de casos de Alzheimer.

Como é o caso de Antonio Alves, 79 anos, morador de São Paulo. Em entrevista ao Vix, sua filha, Zélia Alves (ambos não quiseram ser fotografados), contou que o pai começou perdendo as chaves até ir ao médico e ser diagnosticado com Alzheimer.

Quando Antonio descobriu que o estágio de sua doença estava bem avançado, em agosto de 2005, começou a ficar irritado com o excesso de preocupação da família. Não conseguia mais segurar a urina, mas não aceitava usar fraldas.

“Ele não gostava que dissessem o que deveria fazer para não se perder e pegou bronca dos filhos que mexiam nas suas coisas”, relembra Zélia.

“As pessoas acham que o começo é difícil, Mas o avanço da doença piora, porque tem que lidar com agressividade e com a demência, que é ainda mais complicado. Tem que ter amor e, principalmente, muita paciência”, disse.

“Comportamentos agitados e desconectados, como agressão verbal e física, hiperatividade motora, irritação persistente e vocalizações repetitivas prevalecem em pacientes com Alzheimer”, diz um estudo sobre as reações comportamentais da doença, realizado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington (EUA).

Descoberta de brasileiro pode prevenir Alzheimer

Há muitos mistérios em torno do mal de Alzheimer, mas diversos especialistas têm se esforçado para encontrar novas soluções para prevení-lo.

O brasileiro Leandro Bergantin, especialista em biologia celular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), surpreendeu a comunidade científica ao desvendar o enigma do bloqueador de canal de cálcio, que pode aumentar e diminuir a pressão dos batimentos cardíacos dependendo da dosagem.

Esse enigma é conhecido como “paradoxo de cálcio”, por ativar um mecanismo diferente da célula a partir da quantidade que se ingere do medicamento.

Bergantin detectou que, com o uso correto do “paradoxo de cálcio”, a incidência ao mal de Alzheimer pode diminuir. “Ou seja, de 1.000 pacientes que não tomam medicamentos, 500 têm Alzheimer. Após esse medicamento, esse número cairia para 200”, exemplifica o pesquisador.

O estudo clínico foi realizado com mais de 60 mil pessoas. “A redução da incidência ao mal de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas, como mal de Parkinson, era clara após tomar o medicamento”.

Em linhas gerais, a descoberta de Bergantin provou que um medicamento que foi feito para controlar hipertensão pode prevenir Alzheimer. “Então, pacientes com mais de 50 anos que tenham predisposição genética ao Alzheimer já poderiam tomar esse medicamento, para retardar o aparecimento”, diz o brasileiro. Ele disse que já entrou com pedido de patente na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para disponibilizar o medicamento no pré-tratamento de Alzheimer.

Cérebro com Alzheimer precisa de treino

Por si só, tomar um medicamento de prevenção do surgimento do Alzheimer não é suficiente. É preciso ‘treinar’ o cérebro, estimulando as conexões entre os neurônios da mesma forma com que tonificamos nossos músculos na academia, por exemplo.

“O cérebro é um órgão que se adapta continuamente aos estímulos exteriores, e vai aprendendo com cada nova experiência que temos ao longo da vida”, afirma Mario Louzã. “Todas as atividades que de algum modo exigem algo do cérebro são úteis para manter a cognição”.

Mesmo num estágio avançado da doença, como é o caso de Antonio Alves, treinar o cérebro ainda é necessário. Zélia diz que uma das coisas que seu pai mais gostava de fazer era assistir aos jogos de futebol. “Sempre que tem jogo do São Paulo, coloco pra ele ver, porque sei que ele gosta. Ele pode não falar nada, mas se comunica com o olhar”.

Para estimular o exercício do pai, é comum que durante esses jogos Zélia entre no quarto e desligue a TV no meio da partida. “Ele me olha com uma cara feia! Mas faço isso pra deixar ele ativo, pra ter mesmo essa reação”.

Alzheimer: prevenção e cuidados

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