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Esquizofrenia tem tratamento e paciente leva vida bem melhor do que mostram os filmes

Publicado 2 Dez 2016 – 09:00 AM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Presos em manicômio e sanatórios; loucos; psicóticos. É assim que a maior parte dos filmes sobre transtornos mentais mostram os esquizofrênicos, como é o caso do "Eu, Eu Mesmo e Irene"(2000), por exemplo. Mas esse estereótipo não reflete exatamente a realidade.

“Portadores da doença são pessoas comuns, com comportamento natural. O cinema em geral exagera ou os apresenta como violentos e imprevisíveis”, explica o médico psiquiatra Mario Louzã, da Universidade de São Paulo (USP).

Filmes sobre transtorno mental

Apesar disso, nem todo filme sobre o tema é ruim. “É claro que existem exceções”, conta Louzã. Três filmes baseados na vida de pessoas diagnosticadas com esquizofrenia representam bem os aspectos da doença: “ Uma mente brilhante” (2001), “Brilhante” (1996) e “O Solista” (2009). Todos eles mostram aspectos diversos da doença e sua reintegração familiar e social.

Os personagens são, respectivamente: John Nash (foto acima), ganhador do Nobel de Economia, que, com sua teoria dos jogos, acha que pode mudar o rumo da história; David Helfgott, um pianista, que tinha dificuldades com pai e visava sempre a perfeição, e Nathaniel Ayers, um violoncelista mendigo, que vê a música clássica como a única alegria de sua vida.

Como os esquizofrênicos se comportam em sociedade?

Segundo o psiquiatra, Wagner Gattaz, também da Universidade de São Paulo (USP), os esquizofrênicos podem “ficar fechados em si mesmos, com o olhar perdido e indiferente a tudo o que se passa ao redor", explica ele, em entrevista para o site de medicina de Drauzio Varella.

Geralmente ocorre uma mudança de comportamento em relação ao que a pessoa era antes da doença começar a se manifestar.

Só com o tempo, em um estágio mais grave, é que fica mais fácil de notar e as atividades diárias começam a ser prejudicadas. 

Pode-se ter períodos de crise aguda, com surtos psicóticos curtos, que são intercalados com períodos com sintomas residuais mais ou menos graves, explica Louzã.

Fora da fase aguda, os sintomas mais frequentes são alterações da afetividade (redução da expressão emocional) e da vontade (apatia, falta de motivação).

Mas, Louzã é otimista em relação à inserção do paciente na sociedade: “existem tratamentos medicamentosos para a esquizofrenia que permitem controlar os sintomas e evitar recaídas”, diz.

Os medicamentos utilizados são chamados antipsicóticos, usados em geral de modo contínuo para controlar os sintomas.

Segundo o doutor, além deles, o paciente faz terapias que trabalham o lado comportamental e a parte cognitiva para a reintegração familiar e social, indicadas conforme cada caso.

É importante frisar que a demora em procurar tratamento especializado pode comprometer a melhora do portador da doença.

“O tratamento feito logo no início da doença é o ideal para evitar que a doença se torne crônica e que o organismo desenvolva resistência aos métodos”, diz Louzã.

Outro ponto que merece destaque é o tratamento da família do esquizofrênico. Geralmente, são indicadas a orientação psicoeducacional e a chamada terapia familiar.

O que é a esquizofrenia

Segundo Louzã, é uma doença que não tem cura, apenas tratamento, e se desenvolve devagar, ao longo de semanas ou até meses.

A suspeita se faz quando um adolescente ou adulto jovem tem uma mudança significativa do seu comportamento habitual.

As alterações do comportamento são persistentes e frequentemente e vão se tornando mais graves.

“Sempre que um adolescente tiver uma mudança brusca e persistente do comportamento, em geral acompanhada de queda do rendimento escolar e mudança do seu jeito habitual de ser, deve-se sempre procurar avaliação médica psiquiátrica”, aconselha.

Os principais sintomas giram em torno da perda do contato com a realidade. O esquizofrênico tem delírios e alucinações.

Ouve vozes que só ela escuta, acha que está sendo perseguida, que é vítima de um complô para destruí-la, e não é convencida de forma nenhuma do contrário.

O pensamento e o comportamento ficam desorganizados. “Existe uma lógica perfeita dentro do delírio, só que ela não corresponde à realidade. A convicção é tão absoluta, que não adianta tentar dissuadir a pessoa”, explica Gattaz.

Ainda de acordo com ele, 80% das pessoas já começam a manifestar a esquizofrenia com os sintomas negativos, como a diminuição dos impulsos, da vontade, quando a pessoa sente tristeza ou alegria de forma muito extrema.

Isso porque eles ocorrem no íntimo das pessoas e chamam menos atenção. “É o caso do indivíduo que, certo dia, não vai trabalhar, não avisa ninguém e passa o dia todo deitado, tomando café e fumando”, exemplifica.

O olhar fica distante, como se estivesse em outro mundo, a pessoa não se importa com o que acontece ao redor, não cuida da higiene pessoal e nem se alimenta direito.

“É a chamada fase do tremapsicótico, com tensão e ansiedade altas. A pessoa se sente perseguida, acha que é vítima das circunstâncias externas”, aponta.

Segundo o psiquiatra, com o tempo, pode ocorrer o prejuízo cognitivo e de algumas funções como a concentração e a memória.

É hereditário?

Não se conhecem as causas da esquizofrenia. Apenas “sabe-se que há um fator genético, que predispõe a pessoa à doença”, explica o doutor.

De acordo com ele, fatores ambientais e biológicos, desde o período da gestação e parto, também podem influenciar. Na adolescência, fatores com estresse e uso de drogas são possíveis culpados.

Cerca de 0,8% da população brasileira, sendo que, a cada ano, ocorrem cerca de 10 casos novos para cada 100.000 habitantes. No mundo, ela atinge cerca de 5% da população, explica Louzã.

A esquizofrenia costuma ter início no fim da adolescência, início da idade adulta, e atinge igualmente homens e mulheres. No homem, o pico é por volta dos 25 anos, e na mulher, por volta dos 29 anos.

Mas 10% das mulheres têm o primeiro surto depois dos 45 anos, por influência da menopausa, por exemplo”, aponta o médico psiquiatra Gattaz.

Segundo ele, a esquizofrenia é uma doença própria da natureza humana. “Os registros são tão antigos, que acredita-se que ela sempre existiu. Os portadores eram colocados em sanatórios porque pouco se sabia sobre a doença durante muito tempo”, conta ele.

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