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Repórter testou: como eu sobrevivi 216 horas sem comer açúcar

Publicado 3 Nov 2016 – 07:45 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Açúcar: taí uma palavrinha que só de ler já acalenta o coração. É que, além de deliciosos, os açúcares são a fonte de energia do organismo e, por isso, são essenciais para o corpo humano.

Mas, é preciso ter cuidado. De tão gostoso, o açúcar já virou um vício. De acordo com um estudo feito pela Organização Mundial de Saúde, a OMS, nós brasileiros realmente temos uma tendência a exagerar no consumo de açúcar, para ser exato, consumimos 50% a mais do que deveríamos.

“O doce está associado a um mecanismo de punição e recompensa. O cérebro é treinado desde cedo para entender que doce é gostoso, mas só pode ser consumido depois da comida, por exemplo. Come-se para se sentir bem, não para se alimentar”, explica o nutricionista Humberto Nicastro, do Instituto do Corpo.

E mais: de acordo com um estudo feito com camundongos pela Universidade de Princeton e Minnesota, ambas nos Estados Unido, o vício em açúcar leva à compulsão e também provoca síndrome de abstinência. Algumas imagens do cérebro humano também foram captadas e apresentaram resultado impressionante: a reação de uma pessoa comum ao ver um sorvete gera a mesma sensação de prazer que um viciado tem ao ver um cachimbo de crack.

A dificuldade em parar de comer açúcar do tipo dispensável, que não é necessário para a nossa saúde, está na mudança de hábito, principalmente por que é um costume ligado a nossa vida social, então acabamos sendo influenciados. “Tudo envolve o social. As amizades comem doce e a gente tem a tendência de se relacionar com os análogos”, completa Navarro.

Para conseguir mudar isso, é necessário substituir o hábito. Mas é preciso trocar por algo que também desperte a vontade e traga sensações semelhantes. “É importante perceber o que leva a ter aquele hábito e, então, trocá-lo por algo tão quanto, só que mais saudável”, exemplifica.

Para comprovar o fato de que o consumo de açúcar é viciante e que a abstinência pode provocar reações desastrosas no corpo e mente, o desafio de ficar 216 horas (ou 9 dias) sem consumir açúcar foi lançado na redação do Vix. A repórter Patrícia Beloni topou encarar essa. Abaixo, confira o relato e decida: você aceitaria o desafio?

Desafio dos nove dias sem açúcar: eu sobrevivi

Era uma sexta-feira quando topei o desafio. Depois do expediente, encontrei alguns amigos e contei a novidade. Para minha surpresa, ouvi de muitos: “Ah, isso é aí é moleza, Pati”, ou “eu não como açúcar faz tempo já, não é nenhum bicho de sete cabeças”. É fácil falar quando é com os outros ou quando você já tem o costume há algum tempo. Mas, pensa comigo:

Eu como doce TODOS os dias após o almoço, no meio da tarde e de noite, em casa, sempre antes de dormir. Costumo variar entre bombons, bolachas recheadas, doces de padaria, mousses... Agora, imagina ficar sem comer nenhum doce, sem colocar açúcar no café, sem sucos, sem bala, chiclete, chocolate, absolutamente nada. Não foi tão tranquilo para mim assim...

Já deu pra perceber que não sou uma pessoa extremamente saudável, né? Mas fica pior: eu não tenho horários certos para me alimentar, como frituras e gorduras com uma frequência bem razoável, mas também sempre como verduras e legumes. Frutas não são meu forte.

A verdade é que eu só topei o desafio porque fique bastante curiosa: será que eu ia sofrer ou ia me acostumar logo?

Antes de começar, fiz exames de sangue e um exame de bioimpedância octapolar, que analisa a distribuição corporal, a massa muscular, a massa óssea e a quantidade de água.

Tenho 1,60 m de altura, e estava com 60 kg, sendo 20,4 kg de gordura e 30,3 kg de água no dia da avaliação. Não tinha nenhuma alteração no sangue, com valores de colesterol normais. Não preparamos nenhuma dieta especial para substituir o açúcar, continuei com minha rotina alimentar.

Tipos de açúcar: faz mal?

É importante entender o que foi considerado como açúcar nessa experiência.

O açúcar é um carboidrato e pode ser dividido em três categorias: monossacarídeos, como a glicose, a frutose, a galactose, dissacarídeos, como a sacarose, a lactose, e ainda polissacarídeos, como o amido e a celulose, por exemplo.

Nesse teste, eu fiquei sem me alimentar dos dissacarídeos, que têm altos níveis glicêmicos e são os dispensáveis para a nossa sobrevivência, e estão presentes nos mais diversos alimentos industrializados e sobremesas. Apenas os açúcares simples foram permitidos.

 “Doce é exceção na dieta”, explica o nutricionista Humberto Nicastro, do Instituto do Corpo, que me acompanhou nessa jornada. “Comer doce é parte do contexto social, do convívio. Deveria ser apenas para momentos específicos”.

O que aconteceu quando eu parei de comer açúcar?

1° dia (quarta-feira)

Acordei arrependida, mas segui a caminho do exame de sangue. Quando saí do laboratório, o desafio já estava valendo: eu não poderia tomar nem um chocolate quente sequer. Tive que engolir o café de máquina amargo com uma bolacha de água e sal.

“Vai ser difícil e eu nem fiz uma despedida”, pensei. Parecia que seriam meses sem açúcar. Meu último doce foi um bombom de chocolate branco na tarde anterior, e eu já me lembrava dele com saudade.

Eu costumava tomar quatro xícaras de café por dia. Todas com açúcar, claro. Nesse dia, aguentei tomar apenas duas, sem nada de açúcar. No almoço, arroz, feijão e ovo. Falei pouco e confesso, estava de mau humor. Senti mais sono do que o comum; No jantar, macarrão e frango. Fui dormir irritada por não poder comer um doce depois.

2° dia (quinta-feira)

Acordei enjoada e demorei para comer pela manhã. Levei meu próprio café em uma térmica, porque o da Redação é extremamente forte e amargo. Comi pão com requeijão e tive que resistir à tentação de comer a bolacha.

No almoço, arroz, feijão, frango, abobrinha, e purê de batata, em uma quantidade bem maior do que o normal. Foi muito difícil não comer doce depois. Parecia que eu ainda estava com fome mesmo logo depois de almoçar.

Antes das 3 horas após o almoço eu já estava com fome e comi um pão com requeijão novamente. Mais uma vez, só tomei duas xícaras de café, sem açúcar. E passei o dia pensando no que eu ia jantar e na vontade de comer porcarias. No jantar, macarrão instantâneo. Fui dormir logo depois, irritada.

3° dia (sexta-feira)

Acordei enjoada mais uma vez. Sem fome, fui comer só quando cheguei à Redação, um brioche com margarina e café sem açúcar da empresa (dessa vez, não deu tempo de fazer café em casa).

No almoço, arroz, feijão, peixe e salada. Não aguentei a vontade de comer doce depois do almoço como no dia anterior. Saí e comprei uma salada de fruta generosa, com morangos, kiwi, manga, melão e mamão. Mas, sem nada de mel, porque mel não podia.

Fiquei tão satisfeita que nem comi durante a tarde. Saí para encontrar alguns amigos. No jantar, bolinho de abóbora com carne seca e batata frita. Não senti necessidade de comer doce, nem mesmo quando cheguei em casa.

4° dia (sábado)

Acordei cedo para jogar bola. Comi um misto quente e um suco natural de laranja antes. Nem lembrava da existência do açúcar até então. No almoço, arroz, feijão, carne moída e salada. Comi diversas frutas de sobremesa.

Segui para uma festa onde, dentre tantas bebidas com açúcar, eu tive que escolher ficar com a boa e velha cerveja. Sem reclamações. No jantar, pizza. Estava satisfeita.

5° dia (domingo)

Acordei cedo para jogar bola de novo. Comi apenas uma maçã e não tomei café, apesar de estar me sentindo bem cansada. No almoço, arroz, feijão, salmão grelhado e salada, acompanhados de um suco de manga natural, que eu encarei como se fosse minha sobremesa.

No jantar, esfihas e quibe, com cerveja. Minha namorada comeu esfiha de chocolate. Durante alguns segundos, a tentação foi forte, mas segurei. Logo a vontade passou e eu me senti vitoriosa.

6° dia (segunda-feira)

Tomei café em uma padaria. Fiquei rodeada por salgados e doces diversos. Tive que focar e só comi um croassaint com café, sem açúcar. Fiquei frustrada. No almoço, arroz, feijão, carne assada e salada.

No meio da tarde, comi torrada com requeijão e mantive as duas xícaras de café por dia. Não senti tanta falta do doce nesse dia.

À noite, fui assistir a uma aula e eles ofereceram salgados e doces no intervalo. Vi um pão doce, mas não achei graça e não dei muita atenção a princípio.

Mas, depois de comer os salgados, o pão doce brilhou meus olhos. Parecia que eu estava diante de uma bomba de chocolate com doce de leite, de tanta vontade que eu senti de comer doce.

7° dia (terça-feira)

Não tinha luz em casa pela manhã. Já acordei com fome e ainda tive que tomar banho gelado. Tomei café sem açúcar e comi um pão com requeijão. Estava irritada.

No almoço, arroz, feijão, frango empanado e salada. Comi uma banana de sobremesa e percebi que estava menos sonolenta do que nos outros dias. Tomar café foi bem mais fácil e percebi que não andava pensando em comer nenhum doce em específico. No jantar, Yakissoba. Tive que dizer não ao biscoitinho chinês da sorte. 

8° dia (quarta-feira)

Foi fácil tomar café sem açúcar. Comi um crossaint com requeijão e estava com sono, mesmo após o café. Fiquei chateada quando fui almoçar e tive que negar a gelatina grátis do restaurante. Mas superei e comi uma banana.

Durante a tarde, senti uma vontade incontrolável de comer bolacha. Comi torrada com requeijão de novo, mas ainda assim eu queria doce. Só uma balinha era o suficiente. Me sentia mais acostumada, mas fiquei incomodada por não poder nem mascar um chiclete.

9° dia (quinta-feira)

O nono dia seria mais fácil: eu só precisava refazer os exames e, depois, correr para os doces. Acordei ansiosa! Retornei ao nutricionista e para a nossa surpresa, nada, absolutamente nada havia mudado. Peso igual (não emagreci nenhuma grama!), índices corporais e níveis de gorduras permaneceram inalterados.

Navarro já sabia que pouco ou quase nada se alteraria. Percebemos que, nessa primeira semana, tudo foi relacionado ao estado emocional e comportamental ligado ao hábito de comer doce, enraizado desde criança. As calorias eu compensei na quantidade de comida salgada nos almoços e jantares.

Para minha alegria absoluta, era dia de festa de Halloween na empresa. Todo mundo levou um prato doce e um prato salgado. Achei que ia ser o máximo, mas não estava tão animada quanto todo mundo achou que eu fosse ficar. Eu estava feliz, é óbvio, mas não era como se eu tivesse ganhando na Mega Sena.

O fato é que, depois dessa desintoxicação, eu superei o vício. Não coloco mais açúcar no café e não me encho de doces durante o dia todo como fazia antes. E o melhor: não sinto falta e nem fico mais de mau humor por causa disso. Dá pra acreditar? 

Cortar açúcar emagrece?

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