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Parto normal ou parto cesárea?

Publicado 30 Jun 2016 – 05:44 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Marianna Feiteiro

Do Bolsa de Bebê

Muitas mulheres, especialmente as mães de primeira viagem, têm bastante dúvida quanto ao tipo de parto que desejam de ter. Apesar de, na teoria, o parto natural ser o mais indicado e priorizado pelos médicos, na prática as coisas não funcionam bem assim, e, muitas vezes, são realizadas cesarianas sem necessidade.

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Cerca de 3 milhões de partos são feitos anualmente no Brasil. Destes, de acordo com dados do Ministério da Saúde, um índice alarmante de 52% acontece por meio de cesárea (a Organização Mundial da Saúde considera aceitável uma taxa menor ou igual a 15%). Segundo um estudo feito pela Potter et al em 2001, a grande maioria das mulheres tem preferência pelo parto normal - mas essa escolha nem sempre é respeitada. Durante a pesquisa, foram entrevistadas gestantes entre 18 e 40 anos, de quatro estados brasileiros. As perguntas foram feitas em três momentos: nos quarto e oitavo meses de gravidez e nos primeiros 30 dias após o parto. Durante a gravidez, de 70 a 80% das mulheres, usuárias tanto do sistema público de saúde quanto do privado, disseram preferir o parto vaginal. No entanto, a entrevista pós-natal descobriu que 72% das pacientes da rede particular e 31% da rede pública tiveram seus filhos através da cirurgia cesariana.

Para os autores do estudo, essa discrepância entre o desejo da mulher e o modo real como o parto foi feito acontece porque, para os obstetras, é muito mais conveniente realizar a cesárea do que o parto vaginal. Enquanto o primeiro é agendado previamente e não demora mais do que uma hora para ser realizado, o segundo pode ocorrer a qualquer hora e dia da semana e, geralmente, é muito mais demorado. Além disso, os autores acreditam que muitos obstetras brasileiros têm a crença de que a cesariana apresenta, de fato, maior segurança ao bebê e conforto à mãe.

O papel do médico

Segundo o ginecologista e obstetra Alberto Jorge de Sousa Guimarães, o que falta aos médicos é tranquilizar e conscientizar as mulheres sobre os benefícios do parto natural, respeitando o corpo e decisão delas e praticando o que chama de "observação ativa". "É preciso que exista o compromisso do médico de respeitar a fisiologia da mulher e que ele esteja mais disposto a observar, ao invés de fazer tanto. Não é ter descaso: o profissional deve checar o que precisa ser checado, mas sempre respeitando o tempo das coisas, e não achando que tem de fazer tudo naquele momento. Se tudo está correndo bem, tenha calma. Vamos acreditar que a natureza pode caminhar a favor", defende o especialista.

O parto natural é muito importante para o estabelecimento de vínculo entre mãe e filho (Shutterstock)

Benefícios do parto natural

Muitos obstetras acreditam que a cesárea é o método mais seguro tanto para a mãe quanto para o bebê. No entanto, estudos revelam que, para o recém-nascido, este tipo de parto gera maior probabilidade de problemas respiratórios, icterícia fisiológica, prematuridade iatrogênica, anóxia, mortalidade neonatal, dentre outros. Além disso, o aleitamento materno pode ser prejudicado devido à ruptura do vínculo entre mãe e filho que é estabelecido durante o parto natural.

"A ocitocina, hormônio que estimula as contrações do útero durante o parto e a expulsão do bebê, auxilia na maturação pulmonar e no grande conjunto de hormônios que produzem o leite. As contrações do parto natural, embora pareçam indesejáveis, estão preparando o corpo para uma série de transformações que culminam no nascimento. Muitos hormônios liberados pela mulher e bebê durante o parto estão fortemente presentes na primeira hora de vida posterior ao nascimento, que é um período importante no reconhecimento entre mãe e filho", explica Dr. Alberto.

Segundo o especialista, as chamadas "cesáreas eletivas" são as que apresentam maior risco. Neste tipo de parto, a mãe agenda o dia do nascimento, e o bebê nasce sem que ela entre em trabalho de parto. "Teoricamente, todo mundo que engravida tem condições de ter um parto normal. O ideal é esperar o tempo da mulher e estimular o nascimento do bebê", afirma.

Apesar de parecerem indesejáveis, as contrações liberam hormônios importantes para o bebê (Shutterstock)

Cesárea: quando é ou não necessária?

Existem muitos casos em que o parto cesariano é feito desnecessariamente, ou seja, sem que haja risco iminente para a mulher ou o bebê. Segundo Dr. Alberto, a decisão pela cirurgia depende de uma série de fatores, e não apenas de uma anormalidade identificada nos exames. Entenda os diferentes casos:

Cordão enrolado no pescoço

Não é indicação absoluta para a cesárea, ou seja, a presença de uma ou mais circulares, por si só, não determina que seja feita a cirurgia. "Há casos de parto normal com até mais de uma circular. No trabalho de parto, se o controle vai bem e não há nenhuma repercussão para o neném, não tem necessidade", afirma o obstetra. No entanto, quando é identificado estrangulamento ou alteração no batimento cardíaco do bebê, a cesárea deve ser feita.

Cesárea anterior

Se a mãe já passou por um parto cesariano, não necessariamente terá de fazê-lo novamente. "É preciso observar especialmente o motivo da indicação da primeira cesárea. Se foi porque não houve dilatação suficiente, talvez o profissional não tenha esperado o tempo necessário para dilatar. Se na segunda vez houver essa premissa de esperar e observar, a mulher pode, sim, ter o parto natural sem problemas", argumenta o obstetra.

Bebê muito grande

É considerada macrossomia um peso ao nascer igual ou maior que 4000 g. Mais uma vez, a condição não configura indicação absoluta de parto cesariano. "Muitas vezes o neném é grande, a mãe começa a ter contrações, dilatação, o bebê se encaixa e nasce. Da mesma forma, em alguns casos, a criança é pequena, mas está posicionada de uma forma ruim, e aí temos de recorrer à cesárea. Descobrir que o neném é grande e já marcar a cirurgia é ruim, é preciso esperar a mulher entrar em trabalho de parto e observar se ele está descendo", defende Dr. Alberto.

A identificação de uma ou mais circulares no ultrassom não pressupõe a necessidade de cesárea (Shutterstock)

Gestantes acima de 35 anos

A idade, por si só, não é um fator proibitivo e, como defende o médico, não deve ser encarada como "punição". Porém, este grupo requer, sim, atenção especial. "As mulheres acima dos 35 têm condições plenas de ter um parto natural. No entanto, apresentam maiores chances de desenvolver pressão alta e diabetes, que são complicadores na hora do parto", alerta o médico.

Hipertensão, diabetes e obesidade

Conforme dito acima, estes são fatores que colocam a mãe e bebê em risco no momento do parto. Segundo explica Dr. Alberto, cada caso é específico, sendo preciso considerar alguns fatores relacionados, como, no caso da hipertensão, o momento da gravidez em que foi observado o aumento da pressão e por quanto tempo é possível aguardar. "Em alguns casos, podemos induzir o parto, mas isso depende da oxigenação do bebê, das condições do colo do útero, do risco de convulsões e outras variáveis", pondera.

Descolamento da placenta

É um caso delicado. "Durante o trabalho de parto, diante da suspeita de descolamento da placenta, quase todos os profissional vão optar pela cesárea. Com alteração do feto, sem dúvida, minha opinião é cesárea mesmo", avalia o especialista.

Indicação absoluta de cesárea

Segundo Dr. Alberto, diante de certos quadros, não dá para escapar do parto cesariano, que, quando bem aplicado, pode salvar a vida da mãe e do filho. "Se o neném é realmente muito grande, se está em posição transversa, com o bracinho na frente, ou sentado, se entrou em convulsão ou, durante o trabalho de parto, mostrou sinais de sofrimento, a cesárea precisa ser feita", afirma.

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