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Em nome do filho

Publicado 30 Jun 2016 – 08:15 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Batizar os filhos com nomes esquisitos já foi um problema no Brasil. Uma lista do extinto INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), divulgada no início dos anos 80, mostrou alguns exemplos que parecem piada, mas não, são nomes de verdade. Entre os nomes estão incluídos pérolas como Acheropita, Antonio Pechincha, Asteróide, Bananéia, Chevrolet, Mijardina, Manganês... e por aí vai. No Brasil, desde 1973, a lei de registros públicos permite algumas mudanças em casos como esses, que lembrem palavrões ou causem constrangimentos aos donos. Antes dos 19 anos também é possível requerer mudanças, se o nome é usado para debochar a pessoa, como a Patrícia que vira patricinha por exemplo. Isso são exceções, porque pela Constituição, na verdade, ninguém poderia mudar o nome por questão de segurança. Imagine a bagunça nas fichas criminais? Outra exceção é no caso de nome estrangeiro. Também é possível grafá-lo corretamente. Se o bebê for batizado como Maicon, pode virar Michael.

Este tipo de problema não existe em vários países da Europa, como França, Espanha e Portugal. Eles adotaram o calendário gregoriano, que tem um nome de santo para cada dia do ano, como referência para os pais que queiram registrar seus pimpolhos. Publicado pelo papa Gregório 12, em 15 de fevereiro de 1582, na idade moderna. Ele foi adotado pela maioria dos países ocidentais, mas algumas nações passaram a utilizá-lo bem mais tarde, caso da Rússia, em 1919. O calendário substituiu o Juliano, que vigorou por 1600 anos e não levava em conta o nascimento de Cristo. Ele foi criado em Roma na época do imperador Júlio César, e dividiu o ano em 365 dias e 12 meses de 30 e 31 dias, começando em 1º de janeiro. Na França, por exemplo, funciona assim: quando a criança nasce, os pais vão até uma Mairie, ou prefeituras, consultar um oficial de registro civil para dar o nome ao bebê.

Até 1993, na França, era obrigatório recorrer a este livro. Depois dessa data, foi criada uma lei que permite um nome fora do livro ser adotado, desde que não seja ridículo, alusivo a figuras negativas (Hitler por exemplo) ou vinculado a marcas (Pegeout, nem pensar!). O problema é que nem sempre nomes diferentes do calendário são aceitos. Basta o oficial de estado civil ser um pouco mais conservador e pertencer a uma daquelas cidadezinhas de 4 mil habitantes para se recusar. Um nome estrangeiro, como Raíssa, deve ser avaliado pelo representante da prefeitura e pode ser negado. No interior, os oficiais costumam ser mais tradicionais e preferem aceitar os nomes mais tradicionais. No fim das contas, há milhares de Virginies, Paulines e Frederics porque acaba sendo muito mais fácil e evita burocracia. Existem até mesmo sites na internet, como http://www.chez.com/sarthe/sa-pren_feter_UVWXYZ.html, onde os pais podem consultar, por ordem alfabética, os nomes disponíveis e a qual santo e dia pertencem. O dia de Elisabeth, em homenagem à Santa Elizabeth de Hongrie, é 17 de novembro, por exemplo. Gisèle é de 7 de março.

Na Espanha, como em Portugal, escolher um nome fora da lista tem outro agravante: a igreja não aceita batizar pessoas com nome diferentes. A estudante espanhola Azahara Martín, 24 anos, conta que a mãe precisou recorrer a um padre amigo. "Azahara não era aceito, ainda mais porque tem sonoridade árabe", conta. Não é segredo que a Península Ibérica foi invadida pelos mouros e existe um grande preconceito pela etnia na Espanha. Se na França e Espanha o que predomina é o tradicionalismo, o oposto acontece na Holanda. Não existem regras na hora de escolher um nome para o filho e o calendário não foi adotado, como parece ser a regra nos países de origem anglo-saxã, e não latina. O estudante de Ciências Políticas Friso Seyferth, 29 anos, conta que não existe uma regra para dar nomes às crianças. Recentemente, o governo criou uma lei que possibilita aos pais batizarem a criança com o sobrenome da mãe, se ela for solteira, por exemplo. Não precisa ter o sobrenome paterno, o que é aqui proibido no Brasil. De acordo com Friso, que tem amigas que passaram pela situação, essa decisão do governo evita constrangimentos para algumas garotas que nunca mais tiveram contato com o pai da criança. "É só por o sobrenome delas e pronto", diz.

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