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Filho adotivo: quando e como contar a verdade a ele

Publicado 30 Jun 2016 – 05:41 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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A decisão de adotar uma criança deve ser bem pensada e planejada. Além do amor e da educação, os pais precisam saber também como lidar com o tema e como falar sobre ele com os filhos. “Quanto mais cedo a criança tiver acesso a verdade, mais chances terá de reelaborar e dar novos significados ao que viveu”, esclarece a psicóloga clínica Ana Cássia Maturano. 

Segundo ela, a criança adotada tem o direito de saber a verdade, a sua real identidade, aquilo que a constitui como sujeito, para que possa aos poucos reeditar a sua história. “Não podemos colocar uma criança adotada no meio do “não dito”, aquilo que todos sabem, mas ninguém fala. Esse tipo de conduta só tende a piorar uma história que já não começou bem no passado", diz.

No entanto, muitos pais sentem medo de contar a verdade aos filhos. “Os pais adotivos também temem pelo abandono no que diz respeito a não serem aceitos, pois muitos possuem a fantasia de estarem sempre em competição com os pais biológicos e que podem ser trocados a qualquer momento caso estes apareçam. Esse tipo de sentimento causa medo. Assim como a criança adotada que começa uma nova história de vida em um lar adotivo, os pais também dão início a um novo capítulo em suas vidas, pois recebem uma criança já pronta e que assim como eles, deseja ser amada. A medida que uma relação sadia vai sendo construída, este medo tende a se diluir”, afirma.  

Como contar que meu filho é adotado?

Ao contar para a criança sobre a adoção, os pais devem mostrar a ela que ela é amada e que, assim como nos contos de fadas, a vida real também possibilita um final feliz em uma história triste. “Se for uma criança pequena, os pais podem, por exemplo, utilizar metáforas para que juntos possam construir o seu próprio livro, a sua própria história. O importante para uma criança, seja ela adotada ou não, é ter uma figura de ligação a qual possa se identificar, sentir-se amada, desejada e segura. O sentimento de pertencimento e de segurança é a base para que toda história possa ser reelaborada e também tenha a chance de ter um final feliz”, explica a psicóloga e psicopedagoga Cynthia Wood. 

Se os pais não tiverem abordado o assunto na infância e o filho chegar à adolescência sem saber a verdade sobre a adoção, a forma de abordar o assunto deve ser diferente. “Contar a um adolescente que é adotado não é tão simples assim, pois este cresceu acreditando fazer parte de uma história que não era verdadeira. Não podemos passar uma borracha no passado de ninguém, mas podemos dar a chance a criança ou ao adolescente adotado de reescrever as suas próprias linhas à partir de uma verdade.”

Mesmo que os pais não tenham contado na infância, o adolescente também tem o direito de saber a verdade sobre sua história. “A diferença é que quanto mais cedo, mais chances temos de reeditar um acontecimento marcante”, diz a psicopedagoga Elizabete Duarte, coordenadora pedagógica do colégio Nossa Senhora do Morumbi. 


Quando mentir para os filhos?

Esconder dos filhos a história sobre a adoção não é recomendado por nenhuma das especialistas. Pelo contrário, todas afirmam que é fundamental que a criança saiba que é adotada. “Não contar a uma pessoa que ela é adotada é tirar-lhe o direito de ter acesso a sua verdadeira identidade, a sua verdadeira história de vida”, diz Ana Cássia. 

Para isso, em alguns casos pode ser necessário buscar ajuda profissional. “Se os pais adotivos não se sentirem seguros para conversar com a criança sobre a adoção, devem sim  procurar  ajuda de um profissional, pois sentimentos de insegurança e ansiedade podem tumultuar ainda mais um momento tão delicado. Mas, contar a verdade é imprescindível. A leveza proporcionada por tirar o peso de um segredo das costas, dá lugar a construção de uma relação pautada em sentimentos de respeito e confiança”, explica Elizabete.

Relação com filhos adotivos

Saber que se é adotado e que um dia foi acolhido, possibilita que a criança ou adolescente tente preencher  um vazio que se instalou no momento em que houve uma ruptura, após o seu nascimento, culminando com a adoção. E o respeito à história de vida da criança, seu contexto e suas origens deve ser a base de uma boa relação entre pais e filhos adotados e da construção de um relacionamento saudável, onde as estruturas são solidificadas pelo amor, respeito e confiança. "Os pais não devem ter medo, mas sim, ter a certeza que contar a verdade e dar amor a essa criança é o melhor que eles podem fazer", finalizam.

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