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Tire isso da cabeça!

Publicado 30 Jun 2016 – 08:15 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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As férias chegam ao fim, as aulas recomeçam e os cuidados com crianças em idade escolar são redobrados. Principalmente porque o aglomerado de cabecinhas juntas atrai um inseto bastante indesejado - e que causa horror em muitos pais: o piolho. A coceira incessante no couro cabeludo dos pequenos é sinal de que o dito-cujo pode estar passeando por ali. Apesar da repulsa e das controvérsias em relação a ele, o bichinho não escolhe pessoa nem lugar para atacar.

Segundo o PhD em parasitologia Julio Vianna Barbosa, pesquisador do departamento de biologia do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 30% a 40% das crianças brasileiras estão infestadas pelo Pediculus humanus capitis, um dos três tipos de piolho que parasitam o corpo humano. Mas não somos apenas nós que sofremos com este mal. Na Argentina, por exemplo, o número sobe para 70%.

A maior incidência de pediculose capilar é na faixa etária de 3 a 10 anos. Além de ficarem mais próximas que os adultos, principalmente as meninas, as crianças costumam dividir pentes, bonés e presilhas com freqüência


A infestação por piolhos, chamada de pediculose, pode atingir pessoas de todas as idades e classes sociais. Em crianças, o problema é mais comum devido à grande proximidade entre elas e à tendência de compartilharem objetos pessoais. Segundo Sergio Barbosa, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), crianças têm pele mais fina e praticam atividades que levam a um contato físico maior. O biólogo Júlio Vianna Barbosa acrescenta: "A maior incidência de pediculose capilar é na faixa etária de 3 a 10 anos. Além de ficarem mais próximas que os adultos, principalmente as meninas, as crianças costumam dividir pentes, bonés e presilhas com freqüência. Por isso, quando uma delas está com piolho, logo passa para outras", explica ele, lembrando, ainda, que o hábito de manter os cabelos compridos é outro fator que aumenta os riscos de pediculose capilar nas crianças do sexo feminino. "Quem tem cabelo curto tem menos chance de contrair", completa.

Júlio esclarece que, ao contrário do que muitos pensam, o piolho não voa nem pula, como a pulga. O contágio é feito somente pelo contato (com outro cabelo, ou com itens pessoais e travesseiros, por exemplo) ou pela proximidade, já que, de tão leve, o piolho às vezes pode ser levado com o vento. Descuidos como dormir com o cabelo úmido transformam a cabeça em um ambiente ainda mais propício e atrativo para o inseto.

Entretanto, um mito que boa parte da população cultiva é o de que piolho só dá em pessoas pobres ou com pouca higiene - o que não é verdade. "Há muito preconceito em torno deste assunto. A pediculose é um problema de saúde pública que precisa ser combatido, e a perpetuação desses mitos só atrapalha. As pessoas normalmente relacionam o inseto à sujeira ou à baixa renda. Quem tem piolho é sempre ‘o filho do vizinho' ou ‘a filha da empregada', e nunca o seu próprio filho. Mas a verdade é que qualquer um pode pegar. Piolho também gosta de cabeça limpa", afirma Júlio, que confessa que o constrangimento e a falta de informação dos responsáveis prejudicam o trabalho dos profissionais e, claro, a saúde das crianças: "Quando vamos às escolas para alertar sobre a doença, temos que pedir autorização aos pais para inspecionar as cabeças, e muitos se recusam, negando que seus filhos possam contrair pediculose. Às vezes, eles já estão infestados e a família nem sabe - ou finge que não sabe - e não cuidam, não procuram médicos por vergonha, o que é ruim para a criança e para seus coleguinhas, que podem se contagiar", ressalta. Sergio faz questão de frisar que a doença é global e, inclusive, já foi mencionada até na Bíblia.

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