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Revivendo o amor

Publicado 30 Jun 2016 – 08:14 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Qual o lugar da criança na relação com os pais após a separação ou divórcio?

É comum assistirmos homens e mulheres que após a separação ou divórcio fecharam-se para o mundo, deixando encoberta a sua sexualidade ou ainda escondendo-a dos filhos como se fosse errado apaixonar-se e viver outros relacionamentos. No entanto, é prejudicial pensar que só a criança é importante e que é preciso viver unicamente para ela. O que pode ser da ordem do trauma é a criança olhar para essa mãe ou pai onipotente, identificar-se com eles e achar que realmente bastam-se mutuamente.

Há uma tendência por parte dos pais a manterem-se reservados quanto à entrada de uma terceira pessoa na relação entre ele e o filho após o divórcio. Porém, é muito importante que a criança não ocupe o lugar de um dos cônjuges, pois esta função estaria além da sua posição de filho - o que não seria nada saudável para ela.

A criança precisa ficar fora dos rancores, das raivas e dos desejos de vingança que muitas vezes aparecem após a separação. Deixe-os fora disso!


Pais e mães acabam abrindo mão dos seus desejos como homens ou mulheres usando para este fim sua condição de pai e mãe. É comum escutarmos afirmações do tipo: "Agora vou viver apenas para os meus filhos e eles serão sempre prioridade na minha vida", "Homem não presta, não quero mais saber de homem na minha vida" ou ainda "As mulheres são todas iguais, não quero mais saber de casamento".

Os pais, muitas vezes por se sentirem culpados pela separação, colocam-se como reféns dos filhos. Esta não deixa de ser uma forma de compensação encontrada para amenizar algumas das dores geradas em função do divórcio, ou ainda para aliviar as angústias sentidas por um casamento que não deu certo. Contudo, não é possível após uma separação colocar a criança como o único objeto de desejo e, caso não seja um namorado(a) o substituto do marido ou esposa, é preciso escolher algo que venha a satisfazê-lo(a) como, por exemplo, a prática de um esporte, encontros com amigos e com a família, passeios...

Os pais tornam-se presas fáceis após a separação quando não encontram vida além dos filhos. São escravizados agindo sempre no sentido de atendê-los. Se analisada com cuidado esta situação, pode-se perceber, no entanto, que há uma perversidade em jogo, pois a criança que acaba entrando nele para suprir a carência e o vazio deixado após uma separação tem reforçada sua onipotência. E o que lhe resta é fazer suplência à falta marcada pela ausência de um dos pais na vida do outro. Logo, ela também acaba aprisionada com pouco direito a fazer experiências fora desta relação.

Não se pode criar a fantasia de que se é onipotente e que, portanto, a criança após a separação poderá prescindir de um dos pais. Não se pode ainda usar esse mecanismo para mostrar ao outro que não precisa dele para educar a criança. Mãe e pai não têm esse direito!

É preciso lembrar sempre que os filhos não podem ser usados como objeto dos pais nem para negociações, nem como mediadores e tampouco como objeto de disputa. A criança precisa ficar fora dos rancores, das raivas e dos desejos de vingança que muitas vezes aparecem após a separação. Deixe-os fora disso!

Tanto o pai quanto a mãe são importantes para que os filhos cresçam bem e eles aprenderão muito se relacionando com cada um dos pais. Portanto, o fato de o pai e da mãe cuidarem para que a imagem do outro seja preservada é muito saudável.

Entre diversos fatores, a presença da mãe e do pai na vida da criança será importante porque a menina precisa de mulheres para se constituir mulher e o menino precisa de homens para se constituir homem. Ainda precisa que esses pais vivam novas experiências (além de pai e mãe) para que ele também possa fazer experiências além do papel de filho. Ele precisa testemunhar tudo isso, não apenas como espectador, mas também como parte constituinte do processo. Talvez seja isso que aquele velho ditado queira dizer: "É preciso criar os filhos para o mundo" - criar o filho para o mundo é criar-se e se (re)criar junto a ele - algo diferente disso seria acorrentá-los por toda a vida na condição de filho da mãe ou filho do pai.

Mônica Donetto Guedes é psicanalista, psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.

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