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Cama compartilhada

Publicado 30 Jun 2016 – 08:14 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Só quem tem filhos sabe o quanto é gostoso tirar uma sonequinha durante o dia, agarradinha com o bebê. É tão bom que muitas mamães adotam a prática conhecida como cama compartilhada também para o sono noturno. Cercado de polêmica, o tema está na roda de conversa, comunidades em sites de relacionamento, fóruns e, principalmente, na cabeça das mães. É certo ou errado?

A Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês até o sexto mês de vida durmam num bercinho ou carrinho colocado ao lado da cama mãe, mas nunca na mesma cama. "Isso ajuda para que ela possa, com mais facilidade, perceber se algo não anda bem com o bebê, se tem reações como soluço ou vômito, e também para facilitar a amamentação - não precisa levantar e se deslocar podendo voltar a dormir mais rapidamente após as mamadas", ressalta a pediatra Márcia Pradella-Hallinan.

E a OMS vai além daquela história de que o bebê vai ficar mimado, mal acostumado ou que nunca mais vai querer dormir sozinho. O consenso da Organização diz respeito a assuntos como a morte súbita de bebês e os acidentes que podem ser ocasionados, sendo rigorosamente defendido pela maioria dos pediatras. "Os pais podem rolar sobre o bebê, chutá-lo, empurrar para fora da cama. Há também o risco de sufocamento ou re-inalação do ar expirado, que pode levar à diminuição da reação de despertar", cita a médica.

Mas as mães não se dão por vencidas. Há quem diga que a cama familiar ocasiona um maior grau de vigilância materna. "Nós ficamos em alerta o tempo todo. Qualquer sonzinho ou mexidinha vinda do bebê, já estamos de olhos abertos", diz Ana Carolina Marques, mãe de Valentina, de dois meses, e adepta fervorosa da cama compartilhada. A mamãe afirma, ainda, que a prática é unanimidade entre suas amigas. E todas aprovam. "Nunca ouvimos dizer que alguém amassou o bebê enquanto dormia", provoca.


Há pontos positivos?

A psicóloga e consultora em amamentação Bianca Balassiano Najm diz que há muitas vantagens na prática, desde assegurar-se de que as necessidades físicas, emocionais e psicológicas do bebê estão sendo atendidas até garantir um pouco mais de sono noturno para a mãe. "Não se pode querer que um bebê que acabou de se desenvolver durante nove meses dentro do útero da mãe, em conexão e simbiose profundas, de um dia para o outro aprenda a confortar-se com tranquilidade em um ambiente distante e frio. Isso gera ansiedade e frustração para essa criança, que passa a encarar a hora do sono como um momento de desconexão e desespero", explica.

Alguns atribuem a prática da cama compartilhada à carência materna. No entanto, a psicóloga defende que o nome é outro: dedicação. "As crianças são, sim, dependentes e espelho de seus cuidadores. Portanto, estar presente na criação de seu filho, dedicando-lhe tempo e estando disponível não é carência, mas sim um investimento na educação de alguém que depende absolutamente de você".


Torcida contra

Apesar de um enorme número de adeptos à cama compartilhada, existem muitas mães e especialistas que acham melhor, desde cedo, cada um ter o seu espaço. "Mesmo se a casa tiver poucos quartos e se o cômodo for utilizado por várias pessoas, sempre se deve recomendar que cada um tenha o seu canto e que o bebê aprenda e sinta prazer em estar no seu lugar", orienta a drª. Márcia Pradella-Hallinan. A psicóloga clínica, especialista em orientação para pais, Valéria Barcellos concorda. "O berço e o quarto do bebê são referenciais importantes. Ele percebe onde está e, se pudesse, diria: esse é o meu quarto! Um bebê pode estranhar quando se modifica o cômodo e desloca-se o berço do lugar original. Esse fato talvez comprove como é importante preservar o seu espaço, pois é o local onde ele se identifica e, muitas vezes se tranquiliza", alerta.

Para a especialista só há pontos negativos na prática da cama compartilhada. "O bebê, no berço, dorme confortavelmente e começa a desenvolver a sua individualidade. Quando os pais, ao som do choro, entendem que ele está sozinho e quer vir para a cama do casal, inicia-se uma grande confusão. O bebê nasce prontinho para aprender com suas experiências e aos pais cabe a responsabilidade de criar uma rotina de vida diária para ele. O tempo de espera entre a fome e o peito, por exemplo, é precioso. Nesse breve intervalo os pais confirmam ao bebê que ele tem capacidade de adiar a satisfação imediata de suas necessidades. Aos poucos, a criança aprende a esperar e a tolerar frustrações, o que se configura como base de um desenvolvimento saudável", explica Valéria.

Susana Matias, mãe de Renata, de oito meses, faz parte do grupo que não quer nem ouvir falar em cama compartilhada. "Desde que nasceu a minha filha dorme no berço, que fica no quartinho dela. Não me importo de levantar várias vezes durante a madrugada para amamentar. Afinal, sabia que seria assim e me preparei para isso. Ela é uma criança saudável, amorosa e muito feliz. Acho que não preciso deixa-la dormir na minha cama para que ela saiba o quanto a amo", pondera.


Como fica a intimidade?

Uma questão fundamental é que a decisão da cama compartilhada seja do casal. De nada adianta ser um desejo unilateral. "Alguns casais simplesmente não conseguem entrar em consenso, o que pode trazer brigas desnecessárias. É preciso também que o casal entre em acordo quanto à relação sexual", orienta a psicóloga Bianca Balassiano Najm.

E esse é outro ponto que merece ser discutido no olho do furacão. Muitos dizem que a intimidade do casal fica prejudicada pela presença do bebê no quarto. No entanto, as defensoras da cama compartilhada estão a postos para dizer que não é bem assim, não! "A casa tem outros cômodos, o dia tem 24 horas. É necessário usar a criatividade! O bebê vem para unir o casal e não para ser um motivo de afastamento", diz Marisa Corrêa, mãe de Théo, de seis meses.

Segundo Bianca Najm esse é mesmo o caminho das pedras! "É claro que, com a cama compartilhada, o casal vai começar a explorar outros cômodos, ou mesmo descobrir horários mais favoráveis, quando seu bebê dorme mais profundamente", orienta a especialista, que completa: "É muito mais fácil manter a atração e elevar a libido quando ambos os pais estão descansados. E, muitas vezes, o descanso só é conseguido através da cama compartilhada. Para a mãe que amamenta durante a noite, essa é a única possibilidade de alongar suas horas de sono, pois mantendo o bebê ao seu lado ele mesmo alcança o seio e se serve, sem precisar fazer com que a mãe desperte totalmente. Não há dúvidas de que uma mulher com o sono em dia terá mais energia para dedicar-se também ao seu parceiro".

No mais, é dar tempo ao tempo! Quando começar a entender melhor as coisas, a criança tende a reconhecer o espaço de cada um. "Não se espera que uma criança menor de três anos seja capaz de fazê-lo. A criança que é permitida e acolhida no quarto de seus pais saberá respeitar os momentos de privacidade quando estiver mais crescida, pois aquilo não lhe foi proibido, pelo contrário, ela ali se sente bem vinda e sabe que tem livre trânsito" esclarece Bianca.


Se cultivado o hábito, como mudar?

Pode ser que, já maiorzinha, a criança tenha dificuldades em dormir no seu próprio quarto. "Os pais devem explicar, em linguagem adequada, o porquê da mudança e quais os benefícios que dormir em seu próprio quarto ou berço trará à criança. Algumas aceitam bem rapidamente a mudança de hábitos e dormem a noite toda. Outras resistem mais", avisa a psicóloga Valéria Barcellos.

De acordo com a especialista, não há nada de errado em negar o quarto do casal para o filho. A criança se torna afetuosa quando é suprida dos cuidados adequados às suas necessidades, mesmo que não seja na cama dos pais. "Um bebê satisfeito fica tranqüilo, e seus cuidadores também. Colocar o bebê para dormir em seu próprio espaço transmite segurança e respeito a sua individualidade. Com o hábito de pernoitar na cama dos pais, pode tornar-se uma criança que impõe seus desejos e insatisfeita em qualquer situação. É bastante comum presenciar gritos em shopping center porque a mãe não quer comprar o brinquedo desejado pela criança, por exemplo. O fato de ouvir um "não" pode ser o suficiente para desencadear uma birra gigante".

Polêmicas à parte, vamos combinar: não existem métodos universais para criar um filho. Conselhos, informações de livros, internet, conversa com amigos e especialistas podem fazer as mamães refletirem sobre alguns aspectos, mas não devem ser encarados como regras, pois, cada bebê é único e reage de uma forma diferente. Por isso, preste atenção aos seus instintos maternais e, principalmente, ao que diz o seu filhote! "Você simplesmente deve fazer algo se, em sua consciência, isso lhe parece o mais natural a ser feito", aconselha Bianca Najm. Se a opção for contrária à da cama compartilhada, não fique se achando a pior mãe do mundo. "Dá para usar o artifício num final de semana, por uma horinha pela manhã", finaliza a drª. Márcia.


Algumas orientações para praticar a cama compartilhada

- Certifique-se de que a cama é grande e firme (não use colchão d´água ou sofá) o bastante para acolher bebê, mamãe e papai. "Há muitas alternativas quando falamos de cama compartilhada - berço acoplado, colchão ao chão, etc.", lembra Bianca Balassiano Najm.
- A ordem deve ser essa mesma: bebê, mamãe e papai. O bebê deve dormir ao lado da mãe e nunca entre os pais. Lembra que já falamos sobre o aumento da vigilância materna?
- Tome precauções para que o bebê não caia da cama. No entanto, evite usar travesseiros fofos e almofadas, pois há risco de sufocamento.
- Se o seu cabelo for comprido, prenda-o.
- Não durma com roupas que tenham cordões e retire qualquer acessório.
- Nada melhor para o bebê que o cheiro da mãe. Por isso, não use perfumes.
- Por higiene e segurança, retire os animais de estimação do quarto.
- Jamais compartilhe a cama com seu bebê sob a influência de drogas, álcool, medicação para resfriado e alergia que não necessitam de receita médica para a compra ou se estiver extremamente privado do seu sono.
- Nunca coloque a criança para dormir sozinha em uma cama de adulto. Sempre deverá haver supervisão

SERVIÇO:
Bianca Balassiano Najm - www.possoamamentar.com.br
Valéria Barcellos - (11) 3865 6936

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