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Autoridade x autoritarismo

Publicado 30 Jun 2016 – 08:15 PM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 01:38 PM EDT
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Os anos 60 trouxeram consigo uma revolução nos usos e costumes das famílias. A liberdade sexual e a flexibilização das regras apontaram para uma série de questionamentos sobre como educar as crianças. Investindo em conceitos que despontavam, os pais passaram a ser mais permissivos e menos punitivos. Procuraram ser mais amigos de seus filhos e introduziram o diálogo na relação.

No entanto, a nova forma de educar trouxe conseqüências inesperadas. Os filhos mostraram-se desobedientes e desrespeitosos com pais e professores, irresponsáveis com os estudos e os deveres domésticos. Onde estaria, então, o problema? As regras rígidas e punitivas usadas antigamente eram a melhor forma de educar? Acredito que não. Penso que o diálogo é a melhor maneira de resolver conflitos e que ser amigo de seu filho é infinitamente melhor do que ser distante, ausente ou autoritário.

Em primeiro lugar, o castigo nunca deve privar a criança de afeto. Os filhos precisam ter segurança do amor dos pais mesmo quando estão sendo punidos


O que precisamos considerar é que, para estabelecer tal relacionamento, os pais abriram mão de seu papel de educadores. Muitas vezes, deixaram de estabelecer regras e limites, concederam demais e puniram de menos. Ou puniram de forma errada, como por exemplo, transformando o que deveria ser um diálogo em broncas intermináveis, voltando atrás ao estabelecer determinado castigo. Alguns pais, revestidos das melhores intenções de se tornarem amigos de seus filhos, esqueceram-se que são, antes de tudo, pais.

É preciso diferenciar claramente autoridade de autoritarismo. A autoridade dos pais é incontestável. O perigo de não exercê-la é cair na permissividade exacerbada ou vinculada ao humor do dia. Saber usar a autoridade sem ser autoritário é agir com intenções honestas, clarificando seus pontos de vista ao tomar uma decisão. Cabe ao adulto tomar decisões, mesmo quando a questão a ser decidida tenha sido amplamente debatida pela família. A palavra final é sempre dos pais, porque eles são os adultos e porque é deles a responsabilidade de educar e de zelar pelo bem-estar das crianças.

É importante estar atento para não vincular qualquer repreensão ao humor do dia. Ou seja, uma mesma atitude da criança não pode ser severamente punida em um dia para no dia seguinte ser tratada como uma molecagem e ser motivo de riso entre os pais. O risco que se corre é acabar ensinado o desrespeito às regras e à autoridade. Ao mesmo tempo, desenvolve na criança insegurança sobre o que é certo ou errado, sobre valores éticos e morais, sobre o espaço do outro e sobre os próprios limites.

Alguns cuidados devem ser tomados na hora de corrigir um comportamento inadequado. Em primeiro lugar, o castigo nunca deve privar a criança de afeto. Os filhos precisam ter segurança do amor dos pais mesmo quando estão sendo punidos. Eles reconhecem, assim, o quanto são amados porque para eles fica claro que o que está sendo desaprovado é um determinado comportamento seu e não a sua pessoa. São crianças que têm auto-estima fortalecida, pois convivem com atitudes positivas, mesmo quando repreendidas. Depois, a punição deve ser aplicada imediatamente após o ocorrido. Deixar passar muito tempo não funciona porque se perde a razão de ser do castigo e com isso deixa-se de educar para simplesmente castigar. O castigo jamais deve ser exagerado, muito longo, ou acima das possibilidades de ser cumprido em sua totalidade. E, ainda, que os pais possam supervisionar. Caso não seja possível controlar o cumprimento do castigo, ele não deve ser estabelecido.

Falar de castigos é falar de medidas corretivas. No entanto, podemos evitá-las com o estabelecimento de regras na relação pais e filhos. Sim, as regras devem ser estabelecidas na família. Mas, se os pais determinam regras excessivas, rígidas demais e difíceis de serem cumpridas, a chance de não serem respeitadas aumenta muito e, quando as regras são burladas, obrigam os adultos a recorrerem às punições. Por outro lado, regras construídas na família com bom senso, orientação e supervisão ao seu cumprimento, evitam os castigos e o desgaste nas relações. O cuidado no estabelecimento das regras e na seleção dos procedimentos punitivos, contribui para formar crianças seguras, criativas, empreendedoras e com comportamento social positivo.

Lucíola Agostini é psicopedagoga clínica, pedagoga e dinamizadora de oficinas nas áreas de educação, teatro e vídeo do Apprendere Espaço Psicopedagógico.

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